Quarto encanto: O acorde

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O Antero ficava tão agitado nos braços de Zé Lucas mesmo ele fazendo de tudo para animar o pequeno ruivo. "Ele é arredio com Zé como era o pai" , o pensamento surgiu sem aviso e Irma se condenou em pensar em Trindade logo hoje que ela deveria estar feliz. Casar com um homem bom para ela e seu filho era mais que ideal. Irma gostava de verdade de estar com ele e era sempre o que sempre quis, não é mesmo? Não, não era. Ela queria amar até sentir raiva de estar tão vulnerável. Zé não a deixava assim. Era algo calmo e ela sempre sabia o que esperar, até mais não se interessar no que poderia acontecer.

-Galega, está pensativa. Nervosa com o casamento? Pode deixar que estarei lhe esperando no altar.

A indireta foi ruim e a expressão dela foi clara enquanto a isso, seu noivo percebe e como sempre, não pede desculpas. Só ele dá um beijo de despedida e ela sente gosto de sangue em sua boca. Irma estava mordendo a parte interna da boca e não havia notado. Isso era um hábito abandonado da juventude. Ela sempre fazia isso quando era obrigada a fazer algo e como toda boa moça, ela fazia mesmo assim. Ela acorda de suas memórias com o barulho de Anterinho no berço.

-Sim, filho. Ele é bom, você vai gostar dele. Seu pai nos deixou aos cuidados dele. Eu também pensava que ele ficaria com a gente, mas olha..a gente tem um ao outro e isso basta para sempre.

Irma pensa no parto dela e como o peito dela se encheu de esperança que ele iria ficar, mas ele foi como um sopro. Ela sentiu tanta raiva e tanta dor que teve que se controlar para não secar seu leite e seu filho se mostrou um ávido por tudo como o pai dele. Logo após veio o pedido do Zé e logo só lembrava do momento intenso no casamento de Jove. O jeito de como Trindade a possuía sem limites e ela gostava do jeito charmoso, mas tão menino que ele a seduzia.

Mariana entra no quarto como se tivesse esperando a um tempo trazendo o vestido de Irma. A mãe ficou muito feliz ao saber que ela já não mais esperança com Trindade e quando ela se mudou para o quarto com Zé Lucas, mas até ela a abraçou quando a filha chorou como uma criança ao falar que ele não mais voltaria e todos os sonhos agitados que a mãe de Antero tinha desde que ele saiu a primeira vez da fazenda.

-Vamos, Irma. Tudo está pronto lá fora, mas não quis atrapalhar os pombinhos. Filó já está se arrumando e você nada ainda.Vamos, eu lhe ajudo

-Mãe, espera...Eu me arrumo sozinha, tudo bem?-Irma sabe que irá se arrepender do que irá falar- Mãe...você acha que estou fazendo a coisa certa?

O olhar de seu genitora confirma que sim, ela falou algo de errado.

-Meio tarde, né? Isso é a melhor coisa que você já fez na vida. José Lucas adora você e seu filho. Você são tão amigos...É sobre aquele peão? Irma, ele teve com você aqui..de forma misteriosa...mas sim e foi embora. E do jeito que ele foi, sabe lá se não morreu...

Irma num ímpeto toma o vestido das mãos de Mariana e se segura para não desabar no choro. Claro que a mente dela chegou a cogitar isso, mas ela ainda sente ao longe o coração dele pulsar e cada dia mais perto. No começo, ela pensava ser pelo Antero, mas no parto ele sentiu como se tivessem numa batida em comum de tão dentro dela ele estava.

-Trindade não está morto e eu que estou. Morta de vontade de estar sozinha para me arrumar e completar esse destino traçado para mim.

-Você parece infeliz com esse destino.

-Estar infeliz não é uma opção para mim, minha mãe.

Após finalmente estar sozinha, Irma toma um bom banho onde esconde suas lágrimas com a água do chuveiro. Ela não queria, mas durante o processo de se vestir ela só imaginava como ela queria estar se vestindo para outro homem. Ele falava que eles tinham a vida toda, foram 4 meses. Irma pensa que se logo tivesse se libertado do passado, ela teria mais tempo com Trindade. O pensamento trouxe uma risada amarga: se libertar do passado enquanto ela está literalmente se vestindo para casar com o filho de seu ex-amor. A vida era uma trama de ironias e Irma só queria escrever uma história de paixão, mas seu coautor havia partido.

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