Vigésimo primeiro encanto: Diário de classe III

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A preparação para o concurso foi intensa e Irma descobriu que quando ele estava concentrado, era ainda mais charmoso. Ela sempre precisava se controlar para não parar algum tópico para uma sessão de beijos e algo mais. A sorte que tinham os intervalos e pela vontade dele, ele também se segurava bastante.

Zé Lucas começou com um papo de que ele queria se aproveitar dela e Irma não resiste em expor as incoerências do discurso do seu antigo interesse amoroso.

-Então, você acha que por ser um homem mais humilde, os sentimentos dele não tem validade? A vontade de crescer dele não deveria ser apoiada e valorizada?

-A vontade de crescer foi na base de seduzir a professora e também tia de um de seus patrões.

-Ou será que foi eu quem o seduziu? Melhor, que como dois adultos, a gente se interessou um pelo outro?

-Eu só estou querendo cuidar de você, Irma.

-Eu dispenso esse tipo de cuidado. Eu só peço, já pedi para Jove, horários mais flexíveis para Trindade estudar. Ainda mais que ele deseja melhorias para a fazenda.

-Isso se ele passar...

-José Lucas, eu já posso vizualizar o número de matrícula dele.

O resto do ano letivo foi indo bem. A turma cumpriu todo o cronograma e a formatura estava marcada. Irma se sentia feliz mesmo pegando o processo no meio do ano. O magistério e o amor a pegaram de surpresa.  A cerimônia de colocação de grau foi simples, mas muito feliz. Muitos ali começaram sem nem saber escrever o nome e agora muitos sonham com o ensino superior como seu amado Trindade. Ele e Tibério depois deram o tom da festa.

Irma já estava saudosa dos alunos, mas com sentimento de dever cumprido. Ela até pediu mais uma turma para Zé Lucas que por talvez culpa por tentar se meter na vida dela, logo arrumou. Trindade sentiu um pouco de ciúmes, mas um dia de estudo com o intervalo bem maior mostrou que não tinha o que se preocupar. O fim do ano também marcou que eles poderiam estar assumidos sem maiores fofocas. A professora ficou feliz com o apoio de todos e envergonhada com os "eu já sabia".

-Princesa, está longe longe...

-Para você, eu estou sempre perto perto... Eu estava pensando em tudo até aqui.

-Você se arrepende de algo?

-De não ter lhe notado antes. Trindade, eu adoro como você não só me animou como mulher, mas também como amiga e professora.

-Ara, eu não fiz nada. Você sempre foi assim, Irma. Eu só falei o que sentia e batia com o seu sentir.

Como sempre, ele tinha o que mais bonito para se falar e isso marcou que a festa iria continuar no galpão deles. A noite foi de amor calmo, mas não menos sedutor. Ela estava tão orgulhosa de si e dele.

Os meses até a prova continuaram de muito estudo e logo começou o ano letivo. Ela se ausentava mais, mas sempre era recebida com um sorriso na porta da escola e os dois voltavam para a fazenda juntos. No dia do exame, ela não sabia quem estava mais nervoso: ex professora ou aluno. Quando bateu o sinal, ele a surpreende com mais um beijo.

-Eu amo muito você, Princesa.

A declaração ficou no pensamento dela durante a espera pelo fim da prova. Irma não era de rezar, mas a precr deu algum conforto a ela, mesmo não sabendo bem o que e para quem pedir. Depois de quase duas horas, ele sai com um semblante tranquilo e isso acalma o coração dela.

-Eu também amo muito você.

Era só o que ela poderia dizer.

No caminho, ele conta que a prova era bem mais simples do que pensou e teve tranquilidade como ela sugeriu. Na outra etapa, ele estava mais tranquilo ainda e os dois se despediram com um "eu te amo" ao mesmo tempo.

A espera pelo resultado foi cruel para os nervos dos dois, no entanto. O esperançoso Trindade já estava falando de como realmente deveria ser só um peão.

-Você nunca será só um peão, amor. Nunca.

-E se eu não passar?

-Você tentou e se desejar, a gente estuda e tenta ano que vem novamente. Eu estou aqui com você.

-Irma, você sabe como isso é importante, não é? Eu sempre fui um pobre diabo solto no mundo e que tinha intuições que geral zombava. Olha, às vezes penso que a princesa vai cair em si e me largar.

-Trindade, só tem um lugar que eu vou cair e é nós seus braços. Hoje não vamos pensar nisso, tudo bem? Amanhã é o resultado e independente do que de for, ele será algo bom.

E foi. Trindade passou com nota suficiente para o curso que desejava e pode escolher a universidade federal mais próxima. Não era tão perto, então ele deveria se ausentar da fazenda durante a semana. Logo conseguiu uma bolsa e ficou só para os estudos. Irma morria de saudade e muitas vezes de ciúmes, mas eles estavam a cada mais apaixonados.

Os anos se passaram e a outra formatura chegou. Irma estava tão orgulhosa do primeiro de muitos alunos que ela ajudou a ingressar na universidade. Esse era mais que especial porque era o amor de sua vida e, ele ainda sabia, pai da criança que levava no ventre. Ela estava nervosa com a reação porque nunca de fato falaram nisso, mas um acidente com a pílula e um final de semana saudoso geraram um fruto.

No final da festa, eles decidem ficar no hotel perto da faculdade. Ele insistiu em pagar, mas Irma falou que era a lua de mel deles. Depois do amor, ela pede uma música para ele e o plano começa. Quando ele abre o estojo da viola, tem um pequeno sapato amarelo.

Ele fica observando o item em seus dedos enquanto Irma fica na expectativa. Ela estava nervosa,afinal ele mal começou sua carreira. O emprego na fazenda era garantido, mas talvez ele não quisesse ser pai..

Ele começa a chorar copiosamente com o sapato na mão, Irma vai acudir e ele a beija com o gosto salgado de lágrimas.

-Um menino! Um menino com a minha princesa! As vozes falaram que a gente ia gerar algo novo. Pensei só no diploma e na escola.

-Você está feliz?

-Acho que não existe cabra mais feliz que eu! Quando a princesa entrou naquela sala, sabia que nada seria como antes.

-Eu não sou sensitiva, você sabe...mas logo me atraiu...Era irresistível... ainda é até hoje. O pai e veterinário mais lindo do mundo.

-A professora e mãe mais linda desse mundo com seu perfume Diô.... princesa...não ,pera ...Irma Novaes Trindade.

-Simmmm... Não....simmm.... Você me pediu em casamento?

-Você aceita? Ainda sou um pobre diabo, mas com diploma e muito amor.

-Nada que eu deseje mais.

Meses se passaram e Antero nasceu forte e lindo. No mesmo dia que um bezerro. O pai ajudou nos dois partos. A escola rural estava cada dia maior e logo até educação infantil tinha.

Irma pensa que aceitar um emprego sem vontade nunca foi tão auspicioso e quando de noite, ela deita com seu marido e o bebê no meio, ela sabe que é a mulher, mãe e professora mais feliz do universo.

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