#8 - máscaras frágeis

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Os copos amassados pelo Gramado e pratos com doces e quesadilhas não terminados é o que marca o fim da festa, eu subo pra por meu pijama enquanto aos poucos a casa vai ficando vazia outra vez.

O alívio de tirar a maquiagem e de poder respirar em uma roupa confortável é impagável.

- tô passando mal de tanto comer - diz Andrew se estirando no sofá quando desço de volta ao primeiro andar da casa.

- da um espaço pra mim vai. - digo e espero ele terminar de murmurar e se ajeitar.

- você já roubou a minha cama agora quer o meu sofá? - ele reclama mas nos fim das contas encosta a cabeça no meu ombro e me abraça de lado - sua Tirana.

Eu dou risada enquanto ligo a TV, o bom do fim dessas festas é que nunca é tarde demais pra ver um filme até cair no sono.

Isso pra mim é quase tradição na casa dos Mansom, a cada fim de festa eu dormia na sala com Andrew até minha mãe me pegar no colo e me fazer acordar no dia seguinte magicamente na minha cama.

Quando éramos crianças eu e o Andrew chegavamos a dormir de dedos cruzados torcendo para que minha mãe me esquecesse lá depois de um evento de aniversário e aí poderíamos acordar juntos no dia seguinte e comer o resto do bolo de sorvete até a barriga doer.

Ela nunca me esqueceu é claro, mas eu sempre comia o bolo de café da manhã com ele quando ele me passava um pedaço por cima da cerca no quintal.

- não durmam tarde crianças - diz o pai de Andrew já subindo pro quarto Kate vai logo atrás, ela sim parece estar esgotada. Ou talvez seja todo o álcool que a vi bebendo finalmente fazendo seu efeito sonífero.

- o que vamos assistir? - pergunta Arthur se sentando ao lado do irmão, essa tradição de sessão de filmes pós festa agora o envolve também.

- algum terror sanguinário. - diz Andrew - com direito a tripas pra fora.

Ele faz a imitação de uma pessoa vomitando os próprios órgãos, Arthur faz uma careta.

- isso não tem graça.

- então vamos ver um romance clichê pra Alissa chorar - ele diz afundando o rosto na minha perna quando deita no meu colo - você fica tão fofa quando chora vendo 'como eu era antes de você.'

- só por que é um clássico ok?! Os livros eram maravilhosos.

- beleza então eu escolho - diz Arthur pegando o controle - vamos ver algo realmente bom.

- Arthur você vai dormir na primeira meia hora do filme. - argumenta andrew.

- não vou não, eu dou conta.

- aposto que ele apaga em vinte minutos. - digo pra Andrew baixinho.

- que maldosa, eu vou manter os trinta minutos pra dar um crédito pro garoto.

Arthur joga uma almofada na gente enquanto o filme começa.

- eu tô ouvindo vocês!

No fim das contas eu e Andrew estávamos errados, ele dormiu nos primeiros cinco minutos.

- até que ele durou bastante - eu digo olhando pra baixo, a cabeça do Andrew ainda no meu colo, seus fios morenos espalhados em cima de mim, tão fofo - você tá dormindo também?

Ele não me responde, será que dormiu mesmo? Eu começo a fazer cafuné no seu cabelo, ele tem cheiro de menta com perfume masculino, além de ser macio ao toque.

- Andrew? - eu o chamo baixinho, mas nada. De repente sua cabeça se vira para o lado oposto da televisão em direção ao meu colo, os olhos fechados, a respiração pesada. Ele parece estar dormindo mesmo.

Doce ruínaOnde histórias criam vida. Descubra agora