#13 - A morte que espreita

2.3K 162 70
                                    

𝐴 𝑚𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑝𝑜̃𝑒 𝑢𝑚 𝑜𝑙ℎ𝑜 𝑛𝑜 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑎𝑑𝑜 𝑒 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑜 𝑛𝑜 𝑓𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜 𝑒 𝑑𝑒𝑖𝑥𝑎 𝑎 𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑐𝑒𝑔𝑜 𝑛𝑎 𝒉𝒐𝒓𝒂, 𝑛𝑜 𝑒𝑛𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜 𝑑𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑓𝑜𝑖, 𝑑𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑒𝑟𝑎́ 𝑒 𝒏𝒂 𝒕𝒐𝒓𝒕𝒖𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒑𝒐𝒅𝒆𝒓𝒊𝒂 𝒕𝒆𝒓 𝒔𝒊𝒅𝒐.

- 𝘊𝘢𝘳𝘭𝘢 𝘔𝘢𝘥𝘦𝘪𝘳𝘢.


- não me odeie por partir. - foi o que minha mãe disse para mim.

Na época pensei que ela se referia a não odiá-la por me deixar na sala de um hospital, que tinha um cheiro estranho e decoração mórbida.

Ela sabia que eu iria odiar ficar sozinha.

Mas eu pensei "por que eu a odiaria por partir?"

Foi somente depois que eu entendi, ela estava me pedindo para não odiá-la por morrer.

Mas ainda sim parece tão drástico, era ela quem estava morrendo, sofrendo em uma cama, pálida como se fosse feita de neve e com seus cabelos tão pouco vermelhos, já sem vida.

Morrer parecia ser um alívio depois de vê-la com tanta dor.

Então por que, eu a odiaria?

Mas se penso bem, consigo entender o que ela quis dizer.

Eu odiei o fato de não tê-la mais.

Doeu fisicamente por que eu senti meu corpo se partir em pedaços. Eu senti o pânico, o medo, a solidão.

Por dias. Semanas. Meses.

E ainda odeio pensar no seu sorriso.

Odeio quando falo algo exatamente como você falaria.

Odeio quando dou risada pensando em você e depois fico triste.

Odeio que você não volte mais.

Odeio odiar o jeito que aquele hospital ficou tão pequeno depois que você partiu, por que não havia espaço grande o bastante para me esconder.

E odeio tanto sentir sua falta.

Mas ainda sim, como eu poderia odiar você mãe?

Afinal, eu também estou morrendo.

Acordar depois de sonhar com essa lembrança faz com que eu já acorde com os olhos marejados.

Parece doer fisicamente, até que eu percebo que realmente tem um motivo físico para a dor, eu estou amarrada, nas mãos e pés.

Lembro aonde estou e lembro do por que peguei no sono nesse carpete.

Eu estava muito drogada.

- a sensação é horrível depois de acordar não é? - ouço uma voz masculina sentada na poltrona.

Penso ser Carl, mas na verdade estou vendo Kevin.

Ainda estou muito drogada.

- você não é real. - digo puxando firme meus pulsos presos nas minhas costas, fazendo a pele arder.

Eu pareço bem lúcida pra sentir dor, então por que estou vendo ele?!

Eu só o vi em fotos, nos noticiários, nos recortes de jornal, na porra do seu memorial.

- eu sei que é meio difícil de acreditar, já que estou morto, mas você não está em uma posição muito melhor que a minha.

- meu celular... - eu não o acho no meu bolso, mas quando olho ao redor fico aliviada por vê-lo em cima do balcão.

Doce ruínaOnde histórias criam vida. Descubra agora