#9 - metades de um coração

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Eu chego da escola jogando a bolsa no chão da sala, minha mãe murmura uma reclamação do meu desleixo em espanhol quando faço isso mas já estou dando a volta na casa e nem a ouço.

Eu vejo a cerca de madeira separando nossos quintais, alta demais para ver algo do outro lado, eu a escalo e pulo para o gramado vizinho me perguntando se alissa vai perceber que estou aqui se eu jogar umas pedras na sua janela.

Mas não preciso me esforçar muito para achá-la, por que ouço soluços atrás da árvore que tem no seu jardim e logo vejo seus cabelos vermelhos caindo sob seus braços enquanto ela chora abaixada.

- oi Ali. - eu digo me sentando do seu lado, ela levanta seus olhos pra mim, suas palpebras tão vermelhas que vejo que passou o dia todo chorando - senti sua falta hoje... A professora de artes me perguntou sobre você na aula.

Ela volta a se esconder para chorar, encolhida e vermelha como uma raposa em sua toca. Fugindo de tudo e de todos.

- eu não consigo ver ninguém agora andrew - ela me diz aos prantos.

Isso quer dizer que ela quer que eu vá embora?

- eu sei que sente falta da sua mãe - eu digo me preparando para ir - saiba que quando quiser sair desse lugar escuro aonde está se escondendo dentro de você, eu estarei aqui. Pro que você precisar.

Ela me olha de novo. Quero tanto limpar suas lágrimas mas não tomo coragem pra isso.

Eu sou um covarde por não dar a ela toda a atenção que merece.

- eu gosto de você alissa. E me preocupo com o seu bem estar.

Nisso ela me abraça, quase me derrubando de costas na grama. Suas mãos pequenas apertam meus ombros e seus cabelos fazem cócegas em meu pescoço. As lágrimas manchando minha blusa.

- eu estou com medo. - ela diz de um jeito dolorido e baixo. - estou com medo de que toda essa tristeza me destrua andrew.

- eu sei disso. - digo abraçando ela de volta - mas também sei que você vai dar a volta por cima e voltar mais forte do que nunca.

Ela se solta um pouco do meu abraço, vejo parte de seus olhos quando me viro para vê-la, nossos rostos se tocando, ela é adorável até quando me faz sofrer, e eu sofro muito quando a vejo chorar.

- você é mais forte do que pensa raposinha.

Eu vejo então um curto sorriso se formar nos seus lábios, foi a primeira vez em que a vi sorrir em semanas, aquilo poderia iluminar uma cidade inteira. Apenas aquele sorriso dela.

Depois daquilo, sempre que sinto falta de vê-la sorrir eu lhe chamo de raposinha outra vez. E de novo.

Até que ela sorria pra mim. E me ilumine novamente.

Minha alissa. Minha raposinha.

Eu amo tanto te fazer feliz.

-

Abro meus olhos meio desnorteado por causa do sonho que tive, e assim que percebo com o que sonhei sinto uma falta repentina de estar perto da alissa.

Mas isso também não demora para ser suprido por que ela acabou de se remexer abaixo de mim, dormindo no meus braços e passando suas pernas pelas minhas como se estivesse tendo um sonho inquieto também.

Meu braço está dormente e eu me sinto desconfortável na posição que estou na cama mas mesmo assim é a melhor noite que tive na vida.

Dormir com ela. Tê-la na minha cama pela manhã, sentir o cheiro do seu cabelo, a temperatura da sua pele, meu corpo está completamente submisso a isso o que é um tremendo perigo para mim.

Doce ruínaOnde histórias criam vida. Descubra agora