Nita Fica Estranha

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Mon e eu estamos indo para a torre da Corvinal. Ela está calada e eu também. O silêncio é agourento. Deveria ser diferente? Eu não sei. Me sinto meio assim, mas não quebro o silêncio. Logo estaremos lutando uma contra a outra numa arena e vamos ter que sobreviver.
- Onde é o início e o fim do infinito? - A aldavra pergunta em frente à entrada para a sala comunal.
- U infinite non ten começ, nen fin. Êl é eterrn. - Mon responde prontamente, antes de eu começar a pensar, e entramos na sala.

Os aplausos irrompem de todos os lados. Todas as meninas correm até nós sorrindo e nos cumprimentando. Nunca a Corvinal teve tanta sorte. Nem mesmo quando ganhamos a Taça das Casas e o Campeonato de Quadribol. Eu cumprimento todas e vou falar com Nita, que está sentada na cadeira perto da estátua da Corvinal, que tem uma biblioteca atrás dela.
- Oi. - Me sento na cadeira ao lado.
- E aí? - Ela parece estar estranha.
- Muita loucura isso de eu ser escolhida, né? - Sorrio toda sem graça.
- Verdade. Você nem queria isso. Tirou a chance de quem queria de verdade. - Ela dá de ombros e eu fico mais sem graça ainda.
- Pois é... Mas não dá pra mudar. - Dou de ombros.
- Se pudesse, você mudaria? - Ela me olha séria.
- Sim. - Sou sincera.
- Acho que não mudaria. Tem a entrevista amanhã. Tem o prêmio em dinheiro que você poderia ajudar sua família. Tem várias coisas. - Ela continua séria.
- Não sei... Eu não ligo pra essas coisas. É você quem liga, mesmo tendo uma família rica. - Dou de ombros, pois Nita sempre pensou grande e nunca me apoiou a ser apenas uma funcionária do Departamento de Mistérios, ela queria que eu fosse do Departamento de Execução das Leis da Magia.
- Não é questão disso, Sam. Querer uma vida boa não diminui em nada nossa vida. Todos temos direito a ter o melhor. - Ela continua séria.
- Tudo bem. - Concordo pra não discutir, pois eu não ligo pra dinheiro.
- Eu vou dormir. Fique com a glória de ser escolhida e aproveite bem. - Ela se levanta e vai embora, me deixando sem entender nada.
Eu fico sentada sozinha olhando para a estátua de Corvinal. Penso que é uma boa ideia entrar na biblioteca atrás dela e estudar um pouco. Hermione me mandou estudar bem. E eu sei que preciso saber várias coisas de várias coisas pra conseguir lidar com esse torneio maldito, senão vou morrer na primeira tarefa. Serei sempre lembrada como Sam, a campeã que morreu logo cedo. Talvez, eu até me torne uma fantasma nova no castelo e os alunos me conheçam como Sam, a morta por não saber fazer a porra de um feitiço. Serei a nova Murta que geme. Mas eu não vou gemer. Eu vou ser rancorosa, mesmo. Tem a Murta que geme e eu serei a Sam que xinga. Pois eu vou sentir ódio se morrer cedo.
Entro na biblioteca particular e penso como nós temos sorte de termos nossa biblioteca, pois enquanto os alunos das outras casas precisam fazer seus trabalhos enquanto a biblioteca da escola está aberta, a gente só precisa entrar na nossa e estudar tranquilinha de boas.
Vou até um livro qualquer do sétimo ano e começo a estudar sem prestar muita atenção... Começo a pensar sobre como a vida é injusta. Se eu fosse trouxa estaria igual ao Nop que foi ao show da Taylor e ficou lá três horas só curtindo as músicas da diva loira de olhos azuis e batom vermelho. E a Madonna, gente... Ele me avisou. Que coisa doida. Eu não acho ela a Rainha do Pop, mas eu gosto dela. Like a Prayer é um hinário maravilhoso. Não quero que ela morra jovem. Já bastou a Whitney ter morrido. E a Whitney... O grande amor da vida dela não foi aquele marido horroroso dela que jogou ela nas drogas. Foi uma mulher. Isso é tão triste. A vida de sáfica é uma desgraça!
Mas falando sobre o pop, eu acho que as brancas até podem lançar tendências. Mas a Madonna mesmo usou muito da cultura negra em suas músicas. Like a Prayer tem um coral de negros. Então, quando dizem que ela inovou o pop sozinha, está errado. Ela usou referências negras. Não custa nada admitir e dar os créditos.
Duas que eu penso se usam as referências negras é a Taylor e a Lana. Eu não consigo pegar nenhuma referência só ouvindo. A Adele eu pego um pouco. E sabe o por que é fácil pegar na Adele? Ela canta soul. E soul foi criado pelos negros.
Quando a gente ouve muito R&B já sabe o que é do negro e o que não é. E olha que tem muito branco que canta R&B e tá tudo bem. Todo mundo sabe que ali a referência preta nas músicas é gritante, mas no pop é um pouco diferente. Porque tem cantoras pop só pegam um tiquinho pra não dar na cara. É uma batida mínima. E a Lana com a Taylor eu não consigo pegar nenhuma referência negra.
Acho que a Taylor não deve ter porque nunca vi ninguém falar. Só vejo eles falando que ela rouba prêmios das negras por racismo, como se ela não tivesse talento pra ganhar prêmios. Eu admito que há o racismo, mas dizer que mulheres brancas não merecem prêmios dos quais elas comporam suas músicas e trabalharam duro em estúdios, é foda. O mundo pra ser justo deveria equiparar as raças e não elevar uma pra rebaixar a outra, seja ela qual for. É o que eu penso. Senão, o mundo nunca vai ser legal pra ninguém. Vai ter sempre alguém rebaixado.

Treacherous (REPOSTAGEM)Onde histórias criam vida. Descubra agora