CAPÍTULO 3

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            Hoje o dia está ensolarado. Após o trabalho, um vento fraco bate sobre meus cabelos. Caminho em direção à loja, na esperança de vê-lo, nem que fosse apenas para apreciar o seu sorriso. E lá está ele, com a mesma roupa do dia anterior, explicando para a cliente as diferentes armações que estão à sua frente. É uma mulher, alta, loira, aparenta uns trinta e cinco anos de idade, veste uma blusa azul, um salto bege, e uma calça jeans azul escura. Ela segura o seu óculos enquanto compara com os outros amostra na loja.

            No dia de hoje não posso me estender, a consulta com a psicóloga está marcada para às quatro e meia, sigo em direção ao terminal, e pego um ônibus para a Lapa. Compareço ao consultório faltando aproximadamente quinze minutos para a sessão.

            Sento-me na cadeira acolchoada da sala. A psicóloga está em outra um pouco menos confortável à minha frente, com as pernas cruzadas. E como em todas as consultas, sem falta, apresentando algumas derivações, começamos pela pergunta que se inicia todas as minhas sessões.

            — Como você está se sentindo hoje? — Pergunta.

            — Eu estou bem. Na verdade, aconteceu uma coisa estranha.

            A voz sai risonha sem que eu perceba, e os ombros se acanham de leve. Noto que estou envergonhada, antes mesmo de contar o ocorrido.

            — E o que seria, ein, dona Karina? — Seus olhos se estreitam à procura dos meus, farejando a atmosfera diferente no ar.

            — Conheci um rapaz — uma pequena euforia se forma dentro de mim e transparece sobre meus dedos e joelhos — Ele é muito ousado! Conheci ele entregando panfletos, ele me abordou para visitar a loja de óptica que ele trabalha, para ganhar comissão. Desde aquele primeiro momento já começamos a nos alfinetar.

            — Parece que esse moço mexeu mesmo com você. Você nunca falou sobre ninguém em terapia. Sabe o nome dele?

            — Gabriel — balanço a cabeça em negação sem acreditar na burrice — acredita que ele não quis me falar o seu nome, porque eu não quis entrar na loja? — Solto uma pequena risada — Mas a besta quadrada, esqueceu que o seu nome estava estampado bem grande na camiseta em que ele estava vestindo.

            — E você pretende chamá-lo para sair? — Pergunta Isabella cortando o momento cômico que eu estava contando.

            Engasgo com a minha própria saliva, o que faz surgir uma tosse repentina, e começo a rir em seguida.

            — Claro que não! — Respondo como se fosse a resposta mais óbvia do mundo — por mais engraçado que tenha sido, eu não o conheço ainda.

            — E porque não? — Retruca com olhos sobressaltados sobre a lente dos óculos.

            Não escutou a parte do "eu não conheço ele ainda" ? Às vezes parece que Isabella só escuta o que ela quer escutar.

            — Eu não o conheço ainda, Isabella.

            — Se convidá-lo, vai conhecê-lo!

            Isabella continua me encarando por cima dos óculos.

            — Eu não sei — digo, desviando o olhar. Isabella chegou em um ponto que eu não queria que ela chegasse — Eu não estou afim de levar um fora. De qualquer forma, é apenas um rapaz sem um pingo de vergonha na cara, o que me deixou com uma pulga atrás da orelha. A forma que nos conhecemos aconteceu inusitadamente, por esse motivo decidi contar em sessão, nada demais, Isabella.

Um Clichê por entre as Curvas do espelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora