CAPÍTULO 7

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            Desço os degraus do ônibus indo em direção ao curso. Hoje é o dia em que escolheremos a música que iremos cantar em nossa apresentação de conclusão do curso. Desde bem nova, tenho um grande apreço pela cantora Demi Lovato. Se a escolha fosse unicamente minha, optaria por cantar uma canção dela, seria bastante significativo, porém preciso reconhecer que suas músicas não são tão fáceis de alcançar e, infelizmente, nem tão confortáveis para se cantar, não nesse momento. Preciso evoluir bastante para as suas músicas, sem mencionar que alguns de seus vícios vocais eu internalizei de tanto escutá-la repetidamente, e hoje no meu canto reproduzo dez vezes mais seus hábitos, o que não deixa meu canto ser fluido.

            — O que você trouxe para me mostrar hoje, mocinha?

            — Demi Lovato.

            Desprendo um sorriso levado, porque eu já sei a opinião da professora sobre isso. Logo, ela lança seu olhar, sem precisar dizer mais nada.

            — Adele?

            A professora balança a cabeça com um pequeno sorriso satisfeito.

            — Como você preparou outra música, me mostra primeiro o que praticou e depois cantamos Adele, combinado?

            — Combinado.

            Por algum motivo, a música "Heart Attack" da Demi Lovato se embola em minha garganta, aparentando engasgar a cada estrofe, optei por essa porque "Skyscraper" eu parecia um carro morrendo tentando dar marcha. Em casa já estava sendo um sofrimento, imagina aqui em frente a todos. Contudo a música escolhida não está muito diferente, por mais que agitada com a ajuda do meu nervosismo não está fluida. Os vícios se acentuam em minha voz cada vez que chego ao refrão " You make me glow ", sem contar o fato de que estou parecendo uma franga se esgoelando lutando para sair de uma panela quente. E a letra também é toda embolada e complicada. Por que eu escolhi essa música mesmo!!?

            Seria sensacional poder cantar uma música de uma cantora que eu admiro tanto e me ajudou em tantos momentos difíceis nos quais passei na pré adolescência, uma das músicas que posso citar é "Believe in me", a letra me fazia eu não me sentir sozinha naquele poço de sentimentos que eu era aos quatorze anos. Eu me sentia tão acolhida. Quando não está tudo bem por fora, procuramos algum sentido dentro de nós. 

            Deixo os meus devaneios de lado, noto que a professora tem razão sobre a escolha da música. Nem sempre conseguimos fazer tudo o que queremos, é necessário aceitar e compreender que para tudo se tem um processo, e este leva tempo. Eu posso não alcançar o que eu almejo hoje, mas amanhã é um novo dia. Eu só não posso me permitir parar no meio do caminho.

            Antes que a professora possa começar as suas pontuações eu a corto com uma expressão sem graça.

            — Adele?

            Ela balança a cabeça afirmativamente.

            Me deixo ser persuadida pela escolha da professora, Adele. A música que ela escolheu para mim é "Rolling in The Deep", as notas são longas como eu gosto e se encaixa melhor na minha voz, mas ainda se tem muitas coisas a serem trabalhadas. Batemos o martelo que será essa.

            — Eu sei que você gostaria de cantar a outra, mas ainda não é o momento, está bem? Como eu sei que você se encanta com notas longas e pretende alcançá-las com mais propriedade e facilidades, escolhi a Adele. É preciso também treinar o seu ouvido a outros cantores, os seus ouvidos se apegaram muito aos vícios da Demi, é nítido em seu canto. Por isso a escolha da Adele, tudo certo?

Um Clichê por entre as Curvas do espelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora