CAPÍTULO 6

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            Na cama já posso escutar o som das árvores balançando com o vento, das folhas se debatendo contra o ar gelado que as incomoda. Se não chover agora pela manhã, provavelmente choverá pela tarde.

          No momento em que coloco os pés para fora do prédio, uma gota de água toca minha bochecha. Uma garoa pequena começa a se espalhar junto ao vento. Apresso os passos. Gabriel está em frente à calçada, o vento agora está mais forte e meus cabelos já se encontram na frente ao meu rosto, impedindo minha visão.

            — Oi. — Acena Gabriel.

            Sua aparência tem um aspecto preocupado, o tempo não está com uma cara boa, e isso parece deixá-lo apreensivo.

           — Oi — digo com a respiração um pouco exacerbada. – Vou tentar chegar até o terminal antes de cair esse pé d'água, depois nos falamos. – E, como se algum poder lá de cima estivesse zombando da minha cara, após a última palavra ser pronunciada, começa a cair o mundo.

            Sinto algo me puxando pelo punho para dentro da Galeria. O movimento foi tão brusco e rápido que perco um pouco do equilíbrio.

            — Ir para a casa agora vai ter que esperar um pouco, bonequinha – completa Gabriel após me puxar.

            — Eu não sou feita de açúcar! Dá para soltar meu braço, caralho!?

            — Como quiser, Donzela! — Sua língua se segura dentro da boca, eu posso escutá-lo dizendo "então vai."

            Frustrado ele se vira e começa a se enfiar entre as mesas. Observo ao meu redor e noto que ali dentro é cheio de comércios: comida japonesa, churrascaria, lanches, salgados e até um quiosque onde vende açaí. Acomodo-me em uma das únicas mesas vazias que consigo encontrar na galeria, limpo os pingos de chuva presentes em minha testa, e ajeito minha bolsa no colo. Passo as mãos sobre o cabelo, irritada com a situação. Não vejo mais Gabriel a vista, possivelmente voltou a trabalhar. 

            Os minutos passam tão lentamente enquanto a chuva esbraveja lá fora, que perco a esperança de retornar para a casa antes do sol se pôr. A internet não funciona, esqueci meu livro em cima da cabeceira, e não tenho material para estudar, agora só me falta achar o que fazer com o tédio. A figura embaçada andando a minha frente começa a se materializar conforme levanto a cabeça da mesa.

          Gabriel senta-se na cadeira à minha frente, segurando uma garrafa de água em uma das mãos. Que diacho ele está fazendo aqui?

            — O que você está fazendo aqui? – pergunto curiosa. Não precisa trabalh...

            — Sentando, não está vendo? – interrompe-me.

            — O cavalo acabou de afiar as patas, aparentemente.

            — Você gosta muito de mim, hein, caralho. Está chovendo! – Aponta em pé para a entrada com uma das mãos na cintura indignado. Logo em seguida, volta à postura em um pulo e retorna a sentar-se.

            Solto uma risadinha.

            – Pensei que você ficasse fazendo alguma tarefa interna quando chovesse. Eu não sou o gênio da lâmpada para saber de todas as coisas.

— Aladdin — ele olha para o alto parecendo falar com alguma entidade — Ó Aladin, você bem que poderia ter aparecido para esfregar a lâmpada e trazer uma resposta sensata para essa cabeça oca — revira os olhos enquanto um riso se sobressai.

— Já que você conhece o Aladdin, a próxima vez que você o ver, pede para ele esfregar a lâmpada e me conceder três desejos. — desmancho a carranca, soltando um pequeno risinho.

Um Clichê por entre as Curvas do espelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora