Capítulo Nove Malu e Silvana

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"Chegamos ao destino de Maria Luiza "

Anuncia a voz feminina do GPS me despertando do meu devaneio.

O motorista estaciona em frente ao lago de Vila Galvão, mais conhecido popularmente como Lago dos Patos, um lago de água doce, cercado por vegetação nativa e cultivada, onde muitos casais de namorados, grupos de amigos e familiares têm como algumas das opções de lazer na cidade. Eu gosto da vibe de natureza e bem-estar que este lugar me traz. Olho ao longe o pedalinho sobre o lago e a recordação de ter estado ali com Nando, entregue em seus braços ouvindo as suas declarações de amor infinitas, me invade.

Eu odeio sentir sua falta.

Engulo em seco numa tentativa de segurar as lágrimas que insistem em cair.

Relutante, afasto meus pensamentos para longe e volto a me concentrar na paisagem verdejante.

O sol resplandecia sobre as águas, deixando tudo ainda mais mágico e sublime. Devido ao horário, o movimento de pessoas ali era pequeno, mas com o dia ensolarado que fazia na cidade, não demoraria para que toda aquela calmaria tivesse suas horas contadas.

— Moça, nós já chegamos.

O motorista anuncia me fitando através do retrovisor, me despertando do meu devaneio.

— Ah, claro. — fungo envergonhada por me permitir ser vigiada em um momento vulnerável.

Percorro a mão pela quantia em valor da corrida dentro da bolsa.

— Obrigada — sorrio em agradecimento ao pagá-lo e me despeço do homem que sorri, solicito e faz um breve aceno com a cabeça como quem diz "seja lá o que tenha acontecido, espero que você fique bem" ou apenas esteja sendo gentil e eu mesma esteja repetindo essas palavras para mim.

Eu salto do carro, batendo a porta atrás de mim, e sou recebida pelo frescor que a vegetação me trazia. O carro segue o seu destino, enquanto eu sigo pela calçada de pedras portuguesas, e em poucos passos estou no sinal que, para meu alívio, estava livre para mim.

Antes de atravessar a rua, eu me certifico de que ela esteja segura. Em seguida, eu sigo a caminho do local marcado, um restaurante especializado em frutos-do-mar, onde eu já estive com Nando por algumas vezes e tem um dos melhores serviços.

Eu não posso negar, Fernando, da sua maneira, me proporcionou momentos maravilhosos e, entre tantos outros, me apresentou lugares que eu, na minha pouca condição, jamais teria oportunidade de conhecer. Não que isso me encha os olhos, mas se tem uma coisa que meu pai me ensinou em sua criação é que nunca devemos esquecer as coisas que as pessoas fazem por nós, sejam boas ou ruins. Uma serve como inspiração e a outra como lição.

Ele em alguns momentos me fez sentir a mulher mais amada e desejada, e em outros, me fez sentir a mais idiota, e ter vergonha de mim mesma por me permitir ser usada.

Por que ele tinha que destruir tudo o que tínhamos? Doí em mim pensar assim, mas não dá mais para continuar a me iludir, esperar que Fernando se torne alguém que só eu idealizei, é ilusão, ele sempre foi como é, eu quem criei um homem que só existiu na minha imaginação.

Enxergar a realidade nem sempre é fácil, porém é necessária. Não dá para viver em um mundo de contos de fadas, onde príncipes e princesas são felizes para sempre, quando se descobre que você é a única que realmente sentiu e quis viver intensamente o que dizia sentir.

Levo uma das mãos ao rosto e seco as lágrimas que foi inevitável derramar.

Respiro fundo para me recompor. Tudo o que eu não preciso agora é que a mãe do meu ex me veja tão vulnerável, eu sei que irá correndo lhe confidenciar, dando-lhe a esperança de uma reconciliação, e sim, eu não vou negar, eu ainda tenho sentimentos por ele, e prefiro o manter distante, não sei se conseguiria me manter indiferente estando perto, não neste momento.

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