Quando o amor floresce

Capítulo quatorze (Malu e Ricardo)

A minha chegada na residência da família Barreto não me surpreendeu em nada, ouvindo tudo o que tia Dalva havia me dito sobre eles eu já estava preparada para o que iria encontrar ali, eu vi com meus próprios olhos que mesmo após tanto tempo da sua partida o luto ainda era presente.

Era forte a sua presença, eu podia lhe sentir em cada detalhe, desde a decoração em que algum momento fora cheia de vida, as dezenas de fotos suas espalhadas sobre a estante, a sua semelhança com o pequeno anjo de olhos azuis, sorriso dócil se constratava com o olhar vazio e entristecido de Gabriel.

Nada do que aquele lar devastado com a dor da perda fosse diferente de tudo o que eu vivi e senti com a partida de papai.

Quando a morte chega, seja ela em qualquer circunstâncias, não escolhe idade, cor, classe social, religião se você está acima do peso ou não, ela simplesmente chega sem avisar, é como um furacão que vem destruindo tudo pela frente e vai embora deixando para trás feridas que só o tempo pode curar.

Eu sabia que nada seria fácil, tudo não era só novo para mim, desde lidar com um homem marcado pela dor da perda à Luna, que se mostrará resistente à minha presença, mas para eles também conviver com uma estranha dentro de sua casa, dividindo sua intimidade, era algo incomum.

Tudo era novo para ambas as partes.

Eu sempre imaginei que cuidar de um ser pequeno exigia muitos esforços, mas cuidar de Luna exigiu muito mais de mim do que eu pudesse imaginar, mas não era o pequeno anjo de cachos loiros quem me preocupava, mas o senhor Gabriel que a todo tempo me olhava com uma certa desconfiança, como se eu fosse uma serpente astuta pronta para dar o bote.

Mesmo que ele tentasse ocultar a sua rejeição por mim, eu não pude deixar de notar o quanto minha presença lhe incomodava, eu ali mais parecia ser sua adversaria como se estivesse em uma luta embusca por espaço no coração de Luna, como se isso fosse possível, e não uma ajudadora que viera para somar. Afinal, fora para isso que eu havia sido contratada, não?

Mesmo que em certos momentos eu tenha vontade de lhe mandar ir fazer outra coisa pela maneira com que se comporta, eu também não posso ser insensível e fingir não ver o desafio que este homem vem enfrentado durante todos esses anos de se tornar o principal responsável na criação de sua Luna.

Ele passara de um coadjuvante, o que o deixe muito inseguro, para o principal cuidador de sua filha. E isso o faz com que se torne super protetor, estando a todo momento com a missão de nunca falhar em sua criação e cuidados.

Eu acredito que uma ajuda profissional seria o ideal para que essa família retomasse o prazer de viver. Mas nada disso me diz respeito, a minha vinda para a casa dos Barretos é com o único objetivo de cuidar de Luna e não me meter na vida do meu patrão.

Após organizar toda a bagunça que Luna fizera na hora do almoço, sobre os protestos do senhor Gabriel que insistia em deixar claro que o meu único trabalho ali era cuidar unicamente de Luna, e que não tinha nenhuma obrigação com afazeres da casa, eu o ignorei completamente e mesmo que aquela minha atitude pudesse me custar o meu emprego eu fui até a lavanderia colocar algumas peças de roupas na máquina para lavar.

Eu não via problema algum em poder ajudar a deixar organizado o lugar em que eu viveria.

Eu vim de família humilde com defeitos e qualidades como todas as outras, mas sempre aprendi com os meus a importância de cuidar do que temos e do que as pessoas confiam em nossas mãos.

Estava concentrada lavando a louça do almoço quando, mesmo que de costas para a porta que dava acesso à sala de jantar, senti a sua presença marcante, seu perfume amadeirado, inebriante, que fizera todos os pelos do meu corpo arrepiarem. O meu corpo aqueceu de uma maneira que ninguém nunca me fez sentir antes, nem mesmo Nando, que fora o meu primeiro homem em todos os sentidos, conseguiu despertar em mim o que este homem desperta sem ao menos me tocar. A sua presença me deixa nervosa. Os talheres parecem ter criado vida própria, caem das minhas mãos sem que eu mesma pudesse controlar.