Prólogo Gabriel Barreto

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São Paulo

Dezessete de Maio de 2016

Uma nuvem cinzenta paira sobre a metrópole deixando-a ainda mais melancólica. Uma garoa fina cai banhando as ruas da cidade silenciosa.

Tudo parecia conspirar a favor para o quê iria acontecer nas horas seguintes, algo que mudaria completamente o curso da minha vida, mas nada poderia fazer. Já estava escrito, não é como poder escolher entre um copo d'água ou uma taça de vinho.

Não estava em meu domínio, eu deveria apenas aceitar o meu destino.

Fui desperto do meu devaneio ao ouvir os seus gemidos quase que inaudíveis invadir os meus ouvidos. Meu coração estava dilacerado, minha pulsação batia acelerada, a respiração ofegava, aflito, angustiado. Eu gostaria de poder transferir todo o seu sofrimento para mim.

Angel, o amor da minha vida, a mulher a quem escolhi para viver por todos os meus dias, estava ao meu lado, frágil como um cristal, se doando ao máximo para trazer a nossa pequena ao mundo em segurança.

Eu a fitei sem saber o quê dizer, ou fazer. Tudo era novo para ambos. Eu deixei a nossa casa como um louco, eu não tive cabeça para pensar em avisar a alguém, mas o quê poderiam fazer? São momentos como este que nós percebemos que não, não temos controle sobre tudo.

Nem tudo estava ao nosso alcance, e o importante era deixá-las em segurança, e quando tudo estivesse sobre controle, eu os avisaria. Eu só gostaria que isso acontecesse logo, não suportova vê-la sofrer tanto.

Eu não havia me preparado para toda aquela tensão, sentia-me sufocado com a ansiedade que me consumia. Deus, eu tinha a impressão de que estava morrendo lentamente.

Levo meu ante braço à testa, secando uma fina camada de suor que se formara ali, ignorando a noite gélida que envolvia a cidade.

Desviei minha atenção da estrada por alguns segundos e voltei para o anjo que se contorcia ao meu lado sobre o banco do passageiro, seu rosto estava banhado por partículas de águas cristalinas, seus cabelos de fios longos e dourados iguais a de um anjo, a minha Angel, estavam desgrenhados. O seu rosto e lábios estavam avermelhados, a deixando ainda mais linda. Eu era um homem de sorte por tê-la ao meu lado.

Pousei os olhos sobre sua barriga que abrigava a pequena Luna, a minha princesa. Parecia agitada, tornando o momento ainda mais difícil para ela.

O meu coração batia acelerado tomado por mistos de sensações, emocionado pelo momento, muito angustiado por presenciar todo o seu sofrimento sem que nada eu pudesse fazer.

- Luna, meu amor, não faça a mamãe sofrer tanto. - peço como se o meu pequeno anjo já pudesse me ouvir. Ede alguma forma eu creio que sim, ela podia.

Sorri para a mulher que mesmo, não estando em seu melhor estado, ainda assim, mantinha nos lábios o sorriso que eu tanto amava. Sincero e afável.

- Nós já estamos chegando, meu amor, aguenta só mais um pouco. - com uma das mãos livres, eu segurei a sua, molhada, fria e trêmula. Ela retribuia o gesto com um fraco aperto.

Eu a conheçia o suficiente para saber que ela só estava querendo me tranquilizar, e eu a deixaria que pensasse que conseguiu esse feito.

- Eu amo você! - balbuciou fazendo aquecer o meu coração. Enguli um nó que se formou em minha garganta. Tão forte e ao mesmo tempo tão frágil.

- Eu te amo mais. - minha voz soou embargada, não o suficiente para que ela percebesse. Apenas sorri, mas já o fazia sem força.

-Fique comigo, amor, nós estamos chegando.

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