Capítulo dezenove (Gabriel)

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Eu estava aproveitando os últimos minutos com minha pequena Luna antes que ela fosse viajar com os avós.

Eu não tinha dúvidas do quanto eles o amavam e iriam cuidar bem da minha princesa, seria apenas um final de semana, mas ainda assim não posso evitar sentir o meu coração apertado.

Sentirei falta do seu sorriso contagiante e dos seus doces carinhos. Eu fecho os olhos enquanto suas mãos acariciam a minha barba por fazer, eu respiro fundo inalando o seu perfume de maçã verde que tanto amo, quero deixar esse momento marcado, isso irá ajudar a matar um pouco das saudades até sua volta.

Abro os olhos e volto a lhe fitar, não me canso de apreciar a sua beleza. Ela é tão parecida com sua mãe, em todos os sentidos, desde sua fisionomia até a sua personalidade.

Te-la aqui não aplaca a falta que Angel me faz, mas eu me sinto confortado.

Eu a agradeço mentalmente por tê-la me dado esse presente.

— Eu te amo, papai — ela diz tão doce, os seus olhinhos brilhando.

— Eu também te amo, querida, te amo mais que a minha própria vida — beijo sua testa emocionado, ela envolve os seus pequenos braços em volta do meu pescoço num abraço afetuoso e ficamos ali em um momento só nosso até que sinto que estamos sendo observados.

Inclino levemente a cabeça e fito Maria Luiza de pé no último degrau da escada com o olhar amistoso sobre nós, o meu coração aperta aflito ao contemplar o seu olhar marejado, presenciar minha cena com Luna tenha lhe feito lembrar do seu pai, eu me recordo quando dona Dalva saiu de licença da empresa por uma semana pela perda do seu único irmão, e tivera que trazer Maria Luiza para morar com ela.

Fora momentos bem difíceis para ambas.

Meu peito aperta angustiado ao tentar imaginar o quanto sua infância e início de adolescência tenham sido difíceis.

Eu sei que ela não obteve algumas regalias das quais eu tive, nós temos tão pouca diferença de idade, mas em posições sociais diferentes, sempre vivi em um lar de paz, eu já viajei mais do que pude contar, frequentei os melhores restaurantes, visto as melhores roupas e me pego pensando quantas viagens já fizera?

Por mais que eu tente imaginar, nunca chegarei perto de tudo o que só ela viveu e sentiu.

Eu a fito, e mesmo que ela tente disfarçar, é visível seu semblante tristonho.

Vê-la ali tão vulnerável me fez desejar tomá-la em meus braços e deixar que chore toda a sua saudade, suas dores, mas que merda eu estou pensando? Afasto os meus pensamentos para longe, fico sério, mas eu não consigo controlar minha língua dentro da boca.

— Maria Luíza? — Eu chamo por ela, a fazendo também despertar do seu devaneio. Ela limpa a garganta.

— Oi?

— Está tudo bem? —franzi o cenho.

— Sim. Sim, está — sua voz não soa tão segura quanto seu semblante aparenta.

Eu sei que ela está tentando parecer forte, mas é palpável a dificuldade que ela tem de se abrir. E como se abriria? Eu sou um desconhecido, o seu patrão, não um amigo.

Assento com a cabeça, evitando lhe deixar ainda mais desconfortável.

— Ela vai embora, papai?

Ela fita Luna com um sorriso amável, mesmo que a minha filha, em sua inocência, não esconda a alegria com essa possibilidade.

— Não, querida —  digo enfático.

E, por alguma razão que desconheço, me incomoda a ideia de que ela possa partir em algum momento.

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