45

157 22 1
                                    

No dia seguinte, foi o funeral do Theo, como era de esperar, porque normalmente é assim.

Vesti um vestido preto, liso, e simples que tinha, calcei sapatos igualmente pretos, e desci as escadas para encontrar na sala o Jeremy sentado no sofá, à minha espera.

Sentei-me a seu lado, e ficámos assim, durante um bocado, em silêncio. Não precisávamos de falar para perceber como é que um sentia, assim como o outro.

Esperámos cerca de meia hora até a nossa mãe estar finalmente pronta, e podermos ir.

Metemo-nos no carro, e fomos até à igreja mais próxima, pois era logo ao lado do cemitério onde o Theo ia ser enterrado.

Quando chegámos, não tivémos de esperar muito para que as outras pessoas aparecessem. Mesmo que para mim e para mim e para o Jeremy fossem dssconhecidos, os nossos pais pareciam conhecer cada um deles.

Já quando ia quase começar, Jeremy deixou-me com a mãe pois ele e o pai foram tratar de umas coisas quaisqueres do caixão.

A minha mãe ia cumprimentando as pessoas enquanto eu limitava-me a olhar para o chão, sem dizer nada, a rever o que tinha acontecido no dia anterior.

Se fosse noutra ocasião, a minha mãe tinha-me dado um sermão, mas ela parecia compreender como eu me sentia.

Afinal, eu testemunhei um suicídio, só aí, para mim, é assustador, quanto mais, tendo sido uma criança que viveu no mesmo teto que eu.

Mas os meus pensamentos foram interrompidos por uma voz familiar. Eu sei que já a tinha ouvido de algum lado, mas não estava a reconhecê-la.

Olhei para cima e vi a mãe de Ashton, Mrs. Irwin, a cumprimentar a minha mãe com dois beijos na bochecha, Harry, o irmão mais novo que o derrotava nos jogos de video, o pai dele, mais atrás e por fim, Ashton. Todos eles estavam também vestidos de preto.

Mrs Irwin - Ouvimos falar, nas notícias, para além do que o que o Ashton nos contou e achámos que devíamos vir, no mínimo para dar as nossas condolências...

Mãe - Compreendo perfeitamente...

E enquanto a minha mãe acompanhava os pais do Ashton e do Harry, eu fiquei com eles os dois à porta da igreja.

Harry estendeu-me um ramo de flores roxas.

Harry - A minha mãe era para te dar isto...

Ashton - Ela apenas não te deu pessoalmente porque lhe pediu a ele para agarrar e depois esqueceu-se de lhe pedir de volta...

Eu peguei no ramo. As flores eram muito bonitas, por acaso. Olhei para eles os dois e sorri em sinal de agradecimento.

Ashton apenas me retibuíu o sorriso mas o dele era triste e preocupado, como o que ele me deu no dia anterior.

Nesse momento, o Jeremy surgiu de dentro da igreja.

Jeremy - É para entrarmos...

Nós assim fizémos.

Mal entrámos, o padrezinho começou a falar. E, quando eu digo falar, neste caso, não é o falar da missa ou assim (não que tenha estado em alguma). Ele falava da morte e etc, o que era óbvio, o problema é que à medida de que ele falava disso, as memórioas da morte do Theo vinham-me nitidamente à cabeça.

Mantive o ramo de flores nas minhas mãos, para que não se notasse tanto que eu estava a tremer imenso.

Baixei a cabeça e tentei ignorar as palavras do padre, para ver se acalmava, pois estava prestes a ter um ataque de pânico.

Mas as imagens do Theo a atirar-se, a cair e a cair até embater do chão.

Estava a ter uma certa dificuldade em respirar, era como se eu não conseguisse acompanhar a minha própria respiração, o que me estava a aterrorizar, pois nunca me tinha acontecido antes.

E o padre nunca mais se calava!

Apenas senti a mão de Ashton a tocar na minha levemente.

Olhei para ele. Tinha aquela cara que dizia "Estás bem?".

Ele compreendeu o meu olhar e baixou-se ao nivel de Harry e sussurou-lhe ao ouvido.

Ashton - Fica aqui, e agarra nisto, por favor - disse passando-lhe as flores.

Harry acenou com a cabeça como se dissesse que sim.

Ashton puxou-me para fora da igreja, e muito sinceramente agradeço imenso por isso, porque acho que se tivesse estado ali mais um minuto teria mesmo um ataque.

Já fora da igreja, tentei voltar à minha respiração normal, mas era difícil.

Comecei a andar às voltas a entrar em pânico, e com algumas lágrimas a formarem-se.

Ashton apenas me agarrou pelos braços e virou-me para si, olhando-me nos olhos.

Ashton - Eve, respira fundo...

Eu tentei, mas não estava a resultar, aliás só parecia piorar.

Ashton - Acalma-te, Eve. Respira fundo!

Pela voz dele, poderia-se até dizer-se que ele estava calmo, mas pela cara, já não tanto.

Ashton - Segue o ritmo: inspira... expira... inspira... expira...

Eu comecei a entrar no ritmo, e lentamente, a minha respiração começou a voltar ao normal.

Quando já estava mais calma apenas suspirei.

Ashton - Sentes-te melhor?

Acenei com a cabeça em sinal de afirmação olhando para o chão.

Ashton - Preferes ficar cá fora mais um bocado, ou queres ir já para dentro?

Eu acenei com a cabeça, mas desta vez em sinal de negação.

Sentámo-nos à porta da igreja.

Nesse momento, não foi do pânico, nem dos flashbacks, ou das palavras do padre, foi mesmo porque eu me sentia mal que eu pus a cabeça nos joelhos e comecei a chorar.

Ashton não fez nada. Apenas esperou que eu estivesse em condições para olhar para ele.

Ashton - Queres desabafar?

A verdade é que eu ainda não tinha falado desde o dia anterior. Nem bom-dia, boa tarde, nada.

Ashton - Eve...

Eve - Sinto-me tão confusa...

Ashton - É normal, isto aconteceu de um momento para o outro, ainda estás a tentar habituar-te à ideia...

Eve - Não é só isso... Eu sinto que eu fui a culpada por ele se ter arirado daquele prédio...

Ashton - Mas não és...

Eve - Sou...

Ashton - Não, não és!

Eve - Eu não consegui impedi-lo! Se eu o tivesse feito... Eu sou tão fraca...

Ashton - Hey, vê se metes isto na cabeça: tu não és culpada por ele ter-se atirado daquele prédio. Não és. Tu não és fraca. Tu tiveste a coragem de ires lá acima para o tentares impedir de saltar, quando mais ninguém teve. E se ele caíu, teve razões, mas tu não foste nenhuma delas, ok?

Eu não respondi.

Nesse momento, as pessoas começaram a sair da igreja, em direção ao cemitério, com o caixão.

Seguimo-las, e depois do enterro e dos discusos todos, eu despedi-me dos Irwin com dois beijos na bochecha de cada um deles, um obrigada pelas flores, e dando um abraço ao Ashton, que ele retribuíu, agradecendo-lhe.

School ✏️ 5SOSOnde histórias criam vida. Descubra agora