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Quando saímos da pastelaria, usámos as correntes para prender as nossas bicicletas para depois podermos ir para o parque em frente ao edifício da biblioteca da cidade. Sentámo-nos no meio do relvado, mesmo que o parque estivesse vazio e houvesse bancos, a conversar.

Eve - Então... O que pensas da visita guiada que eu tenho estado a fazer?

Ashton - Muito educativa... Aprendi imenso sobre a tua infância...

Eve - Yep... E tu?

Ashton - E eu o quê?

Eve - E a tua infância?

Ashton - Complicada...

Eve - Tenho dia todo...

Ashton - É praticamente baseada em tomar conta dos meus irmãos... Como tu sabes o Harry era vítima de bullying e basicamente à custa disso fui expulso da escola onde eu andava, e a Lauren também não tinha a sorte que maior parte das raparigas tem em fazer amigos, sabes... E  o facto de não ter pai não ajuda muito...

Eve - Como assim, não tens pai? Eu vi-o no Natal e no funeral.

Ashton - Esse não é o meu pai.

Eve - Mas tu disseste ao Harry "vai ajudar os pais" na manhã de Natal!

Como é que eu me lembro disto? Digamos que eu me lembro de tudo daquela manhã. Há uma pasta só com memórias dessa manhã, no meu palácio mental, e isto baseando-me na série Sherlock.

Ashton - Deves ter ouvido mal, porque esse é o meu tio...

Eve - Oh meu Deus... Primeiro a tua irmã, agora o teu tio!?

Ashton fez um pequeno sorriso.

Eve - Mas como assim não tens pai?

Ashton - Eve, o meu pai abandonou-me a mim e à minha mãe quando eu tinha 2 anos.

Nesse momento, mentalmente apenas disse Ouch!, apenas mentalmente, porque naquele momento não sabia muito bem como reagir.

Olhei para ele. Estava cabisbaixo, e silencioso.

Decidi então fazer aquilo que ele me fez a mim sempre que eu estava naquele estado, e simplesmente abracei-o. Ele fez aquilo que eu sempre fiz quando ele me abraçava, e retribuiu o abraço.

Não dissemos nada apenas nos mantivemos assim durante algum tempo, até ele desfazer o abraço e me sorrir como se dissesse Já estou melhor agora, obrigado.

Eu retribuí o sorriso, e foi o pior momento para sentir as borboletas no meu estômago. Para pelo menos tentar disfarçar, apenas deixei-me cair de barriga para cima, na relva, repentinamente, fazendo o Ashton dar uma gargalhada.

Ele decidiu fazer o mesmo, e ficámos deitados lado a lado a olhar para o céu.

Ashton - Queres? - disse ele referindo-se a um dos fones que estavam conectados ao telemóvel dele.

Eu esboço um sorriso, e pego num fone, pondo-o no ouvido. Ficámos em silêncio, até ele, cerca de 3 minutos depois, o quebrar.

Ashton - Isto até dava um bom cenário para um filme...

Eve - Talvez... Sabes... Eu acho que a vida de cada um dava um filme. Todos começam e acabam da mesma maneira: a personagem principal nasce, e depois morre. O desenlace do filme é que vai variando: uns mais trágicos, outros mais engraçados, uns simples outros complexos...

Ashton - E como é que é o teu?

Eu suspiro, refletindo.

Eve - Confuso, muito confuso...

Ashton - Como assim?

Eve - No início simples, mas que depois se vai ficando mais complexo.

Olhei para as nuvens a moverem-se enquanto pensava no que dizia a seguir.

Eve - Umas partes engraçadas aqui, que me apetece sempre repetir, e fazer outro take, outras meio dramáticas que me apetece gritar Corta!, e fazer um intervalo.

Suspiro novamente.

Eve - O problema é que não podes, e o relógio continua a contar o tempo, e a câmara a filmar, mesmo que tu te tenhas esquecido das falas, ou o guião esteja rasgado. E tu sabes que estás a ficar sem tempo, e há de haver um dia em que o filme vai ter de acabar, e quem sabe, se valeu mesmo a pena fazer aquele filme, pode ser que estreie nos cinemas e faça sucesso em Hollywood.

Ashton - E achas que o teu filme está a valer a pena ser feito?

Eve - Sim... Acho que sim... Mesmo assim, não sei se o meu filme seria interessante para as pessoas... E tu? Como é que é o teu filme?

Ashton - Também confuso, mas talvez o contrário do teu. Primeiro complexo, e dramático, mas ao longo do tempo tem-se vindo a simplificar, e a melhorar...

Eve - Ainda bem. Achas que vai para os cinemas? O teu filme?

Ashton - Talvez... Quem sabe... Depende se eu me tornar famoso ou não...

Eve - Sabes, tu, mesmo sendo um idiota, podes vir a ser um baterista numa banda qualquer, e tornar-te famoso.

Ashton - Hey!

Eu ri.

Ashton - E tu podias ser artista, tipo, pintavas quadros ou assim...

Eve  - Nah, estás a ver, o desenho é mais um passatempo. Normalmente eu desenho sobre coisas que eu pense, por isso, normalmente, as coisas que eu desenho têm a haver com uma frase ou assim. Provavelmente acabaria mais como escritora, e podia ilustrar os livros ou assim.

Ashton - Ya, mesmo sendo uma idiota, acho que até tinhas hipóteses de ter um dos best-sellers do New York Times

Eve - Talvez...

E com isto, tornei a focar-me na música, no som do Misguided Ghosts dos Paramore, e fechei os olhos.

Não estava a dormir, apenas de olhos fechados e muito, muito longe dali, num sítio qualquer em que tudo o que ouvia eram as guitarras tocadas por Taylor York e Josh Farro e a voz da Hayley Williams.

Estava sossegada, quando apenas senti o Ashton a abanar-me como se estivesse a tentar acordar-me, que era basicamente o que ele estava a fazer.

Ashton - Eve!

Eve - O que foi?

Ashton - Anda, está a chover!

Eve - Mas eu gosto da chuva! Deixa-me estar! - e com isto viro-me de barriga para baixo.

Ashton - Mas não podes ficar aqui à chuva - disse quando finalmente me conseguiu virar de barriga para cima.

Eve - E porque não? - disse olhando para ele com a minha cara de sono, começando a sentir as pingas.

Ashton - Porque depois ficas doente, e ninguém gosta de estar doente durante as férias!

Com isto ele deu-me as mãos e puxou-me, obrigando-me a levantar, mesmo que quase tivesse escorregado.

Ashton - A minha casa fica mais perto daqui do que a tua, e eu conheço um atalho, por isso anda!

Começou a chover cada vez mais, por isso nós tivemos de nos despachar para chegar às bicicletas, e desprende-las. Assim que estas deixaram de estar acorrentadas, montámo-las e começámos a pedalar o mais que podemos até a casa dele.

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