Meu coração palpita sobre o peito como se eu pudesse senti-lo, dedilho os dedos entre o espaço que se apresenta entre meus seios. Ainda faltam sete horas para o meu encontro com o Gabriel, às duas horas da tarde. É muito cedo para levantar da cama, mas eu já constatei que a minha ansiedade não vai me deixar voltar a dormir.
Nesse exato momento me pego observando o teto. Minha cabeça está uma confusão de sentimentos, pensamentos e receios. Ambos devem competir para ver qual deles passam mais rápido pelo meu cérebro. Se eu fosse ele, já teria implementado uma faixa de corrida e encomendado um troféu ao ganhador.
Conviver com a ansiedade não é tão fácil. É cansativo! Muitas vezes é desanimador viver o presente quando você já o vivenciou em sua cabeça quinhentas e três mil vezes. O presente se torna passado. Eu já sei todas as variáveis boas e ruins que possam acontecer sobre qualquer acontecimento. A ansiedade não deixa você ser pego desprevenido, e isso até pode ser um bom ponto, se pensar que você estará preparado para qualquer tombo antes que ele aconteça. Mas isso não é viver, é?
A pauta de hoje abrange vários questionamentos, escolhidos pela minha ansiedade os receios não poderiam ser outros. Faz uma hora que estou deitada na cama criando várias teorias sobre hoje, como por exemplo "E se eu entendi errado?", "E se eu beijar mal?", "Será que ele vai querer me beijar?", "E se ele aceitou sair comigo por dó?", Aperto os olhos, balançando a cabeça, rejeitando a ideia. Essa última eu confesso, realmente foi cruel comigo mesma. Enfraqueço o corpo na cama. Os e "se" são assombrosos.
Deixo as preocupações de lado, e me levanto da cama. As cortinas do meu quarto se iluminam aos poucos. Provavelmente hoje será um dia ensolarado, isso me anima porque será um dia bonito, exceto pelo fato que eu irei torrar com a meia calça que escolhi para complementar o visual.
O assoalho está gelado por baixo da sola dos meus pés. Na maratona que o meu cérebro proporcionou, todos foram ganhadores, deu empate. As minhas olheiras já são fundas por conta da minha genética, mas agora parece que eu levei um soco em cada olho. Desloco as mãos sobre o rosto, apalpando as marcas roxas da nova filha do Drácula! Caralho! É foda sentir que você correu uma maratona, sem mesmo sair do lugar.
Coloco a roupa que está em cima da cadeira, por cima do cobertor que eu acabo de dobrar. Ainda faltam cinco horas para o encontro. Retiro a roupa que uso para dormir, deixo em cima da cama e vou tomar um banho. Transpirei a noite inteira por conta da inquietação que meu corpo se encontrava. Estou um nojo! Confirmo isso após sentir o cheiro de gambá vindo do meu sovaco.
Após o banho, seco meu cabelo com o secador. Se eu soubesse que iria suar igual a um cavalo durante a noite não teria lavado o cabelo ontem, penso, enquanto meu glóbulo ocular quase sai de órbita.
Coloco peça por peça. Primeiro, a calcinha branca com pequenas flores amarelas enfeitando as laterais, depois o sutiã preto. Eu não preciso deixar minhas peças íntimas combinando, penso. Na época do colégio, por mais novas que as meninas fossem, sempre escutava as conversas paralelas sobre sexo, que, quando fosse sair com um cara, era sempre bom se prevenir e deixar as peças íntimas em harmonia para não passar vergonha. E, bom, com certeza esse não será o dia em que vou mostrar para alguém como eu vim ao mundo, ainda fico nervosa só de pensar no beijo. Comparando-me com as outras meninas da minha idade, estou atrasada para algumas "questões". Continuo colocando a camiseta, depois coloco a jardineira por cima e, por último, deixo a meia-calça. Seguro-a nas mãos, questionando se a adiciono a vestimenta ou não. Está um calor desgramado lá fora, mas não me sinto confortável em deixar minhas pernas expostas. Acho que já tenho minha resposta. Adiciono a peça final e coloco meu All Star. Eu não sou o tipo de garota que finaliza o cabelo ou gosta de passar maquiagem todos os dias. Meu cabelo está entre o meio termo do liso e do cacheado, já me falaram que o meu cabelo é ondulado, e acho que faz jus ao termo, ele cria alguns cachos entre os fios, e se eu penteio seco os fios se armam por completo. Eu apenas faço o enxágue, escovo enquanto está molhado e me satisfaço com ele assim. Hoje decidi secá-lo com o secador, o que o deixa um pouco mais liso do que de costume.
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Um Clichê por entre as Curvas do espelho
RomanceAs batalhas contra o espelho era uma luta constante para Karina. Gostar do próprio corpo nem sempre é uma tarefa fácil, nesse livro iremos acompanhar a trajetória dessa personagem com os seus conflitos internos, inseguranças sobre o seu corpo e medo...