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Foi assim que acabou. Cada um seguiu o seu caminho, mas porquê é que sinto que fui o único a sair magoado?

Tu destruíste a minha confiança, transformaste-me em alguém frio, alguém que já não acredita no amor, tudo para nunca mais ser enganado. Usaste-me, mentiste-me e, no fim, descartaste-me como se eu não valesse nada. Fizeste-me acreditar numa ilusão e depois quebraste-me sem remorsos.

Se hoje sou assim, foi por tua causa, pelas tuas mentiras. Nunca me senti tão usado. Nunca imaginei que alguém pudesse brincar assim com os meus sentimentos. Tu roubaste a melhor parte de mim, Kimhan. E juro por Deus... nunca mais deixarei isso acontecer.

Porchay

Acordei com uma dor de cabeça insuportável que me obrigou a continuar deitado.

— Merda... não devia ter bebido tanto ontem. Culpa do Mine. — resmunguei, esfregando o rosto antes de procurar o telemóvel.

Ao ver as horas, percebi que ainda tinha algum tempo antes de me arranjar para sair. Mandei uma mensagem ao Mine a avisar que o ia buscar a casa e, depois de um longo suspiro, levantei-me para ir tomar banho.

Ao entrar na casa de banho, parei em frente ao espelho. Os meus olhos analisaram cada detalhe refletido no vidro. Eu estava tão diferente... Já não era o mesmo Porchay.

O meu cabelo, que antes era preto, agora estava tingido de azul-escuro. As olheiras fundas e escuras denunciavam as noites mal dormidas. O meu rosto antes limpo agora ostentava piercings no nariz e na boca. O meu corpo também tinha mudado — os treinos de luta tornaram-me mais forte, mais resistente. Transformei-me naquilo que mais desprezava: alguém frio, incapaz de confiar nos outros.

Atirei água ao rosto, tentando afastar aqueles pensamentos. Precisava de esquecer tudo isso, pelo menos por um dia.

Depois de me vestir e ajeitar o cabelo, recebi uma mensagem do Mine a avisar que já estava pronto. Peguei nas chaves da mota e saí do quarto. Antes de sair, avisei o meu irmão que ia embora e segui para a entrada do prédio.

Estava prestes a colocar o capacete quando vi um carro familiar a aproximar-se. Ignorei e continuei o que estava a fazer. Mas, no momento em que ia arrancar, senti alguém segurar o meu pulso.

Virei-me e o vi.

Kimhan.

Ele estava diferente. O cabelo mais comprido, a pele mais morena... mas os olhos, os olhos que um dia foram o meu porto seguro, agora pareciam vazios. Não tinham mais o brilho de antes.

Por que é que ele está aqui? Depois de tanto tempo?

— Precisamos de conversar, Chay. — pediu ele.

Afastei-me imediatamente, puxando a minha mão da sua. Olhei-o nos olhos, friamente, sem qualquer emoção.

— Nós não temos nada para conversar, Kimhan. Agora, deixa-me em paz. — virei costas e saí dali sem olhar para trás.

O coração que um dia bateu por ele agora permanecia impassível.

Merda. Depois de tanto tempo, porquê agora?

Depois de um ano... Ele acha mesmo que pode aparecer assim, do nada, e falar comigo como se nada tivesse acontecido? Como se não tivesse partido o meu coração?

Idiota.

Odeio-te, Kimhan.

Eu e Mine estávamos sentados no refeitório, à espera que o tempo passasse até a próxima aula. A minha cabeça estava pousada sobre a mesa enquanto ouvia Mine falar sobre o encontro inesperado desta manhã.

Depois De Tudo, Ainda Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora