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Nunca pensei que me fosse apaixonar, muito menos que essa pessoa se tornaria o motivo da minha existência. Mas aconteceu. O que era para ser apenas uma fonte de informação tornou-se a parte mais importante da minha vida. E foi exatamente por isso que tive de me afastar.

Ele estava em perigo e, para garantir que as pessoas que me queriam atingir o deixassem em paz, a única solução era manter-me longe. Não vou tentar justificar o que fiz, porque sei que nada apaga o sofrimento que lhe causei, mas eu preferia sofrer e saber que ele estava vivo, do que tê-lo comigo e vê-lo em risco. Eu amava-o demasiado. Ainda amo. Tudo na minha vida sempre se resumiu a ele.

Mesmo afastado, nunca deixei de cuidar dele. Sempre estive por perto, a protegê-lo sem que ele soubesse. Todas as vezes que esteve em perigo, fui eu que o salvei. Quando se magoava ou se sentia triste, eu encontrava uma forma de o ajudar, mesmo que à distância.

Kim

Mais um dia começa, e o único motivo que me faz levantar da cama é a certeza de que Porchay pode precisar de mim. Ontem segui-o o dia todo para garantir que nada lhe acontecia. Essa tem sido a minha rotina: acordar, certificar-me de que ele está seguro, e voltar para casa. Apenas assim o meu coração encontra algum descanso.

Nunca permiti que alguém se aproximasse dele para o magoar. Já o salvei inúmeras vezes de tentativas de sequestro. Não sei se o Porsche é ingénuo ao ponto de pensar que ninguém iria atrás do irmão para o atingir, ou se simplesmente finge que não percebe o perigo em que Porchay está inserido. Ele é um alvo fácil.

Estava prestes a sair de casa quando o meu telemóvel tocou. Ao ver que era o meu pai, suspirei e atendi rapidamente.

— Quando voltas para casa? — perguntou Korn, indo direto ao assunto.

— Não sei. Precisa de alguma coisa? — respondi apressadamente, sem paciência para conversas inúteis. Eu tinha mais com que me preocupar.

— Quero-te aqui agora. Precisamos de conversar. — E desligou antes que eu pudesse recusar.

— Merda. Mil vezes merda. Não podia ser noutra altura? — resmunguei para mim mesmo.

Bufei, fechei a porta à chave e segui para o estacionamento. Assim que entrei no carro, liguei o motor e arranquei rumo à casa principal.

Já estava quase a chegar quando vi Porchay sair do prédio e caminhar até à sua mota. Desde tudo o que aconteceu entre nós, nunca mais falámos. Tentei contactá-lo uma vez, mas ele bloqueou-me. Não o julgo. Fiz demasiada merda para sequer esperar algo diferente. Mas, naquele momento, só queria ouvir a sua voz, ver o seu rosto de perto.

Antes de me dar conta, os meus pés já se moviam sozinhos na direção dele. Estava tão perto... E não falar com ele era uma tortura.

Agarrei-lhe no pulso, obrigando-o a virar-se para mim. Ele olhou-me surpreendido, mas, num instante, a sua expressão tornou-se fria.

— Precisamos de conversar, Chay. — As palavras saíram sem que eu pensasse nelas. Eu devia-lhe explicações.

— Nós não temos nada para conversar, Kimhan. Agora vê se me deixas em paz. — Soltou-se do meu aperto e foi embora.

Vê-lo agir assim comigo doeu. Eu sabia que merecia ser tratado dessa forma, mas isso não tornava a dor menos intensa. Suspirei, contendo o aperto no peito, e segui para dentro de casa. Subi pelo elevador e fui direto ao escritório do meu pai.

Assim que entrei, vi Korn sentado, a jogar damas sozinho. Ele olhou para mim e sorriu de forma cínica. Eu mantive a expressão impassível.

— Meu filho, que bom ver-te. Como estás?

Depois De Tudo, Ainda Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora