𝕊𝕖𝕟𝕥𝕚𝕞𝕖𝕟𝕥𝕠𝕤 𝕖𝕞 𝕊𝕄𝕊

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O Spotify roda no aleatório enquanto começo a leitura de mais um livro, eram três ao mesmo tempo essa semana. Tentei acabar com esse hábito para me educar a focar numa só coisa, mas ele reaparecia quando me sentia ansiosa, de qualquer jeito precisava ocupar minha mente com outros afazeres.  
Meu celular vibra e ignoro, viro a página e ajeito os óculos que usava unicamente para leitura. Duas vezes seguidas o aparelho grita de novo por atenção, por um momento se passa na minha mente que talvez seja o motivo da ansiedade que venho sentindo finalmente vindo para reclamar seu pedido. 

Fecho o livro em um gesto rápido, mas como poderia ser ele se não tem meu número? 

TaeTae 💖: oi anne
sei que estamos dando um tempo e estou respeitando isso 
não queria te mandar mensagem mas precisamos conversar

Gelo assim que termino de ler. Será que tinha acontecido algo grave? 

As duas batidas secas na porta me impedem de imediato respondê-lo, pela forma eu já sabia que era minha mãe, Dean não batia, ele berrava comigo. 
— Entra. 
— Ocupada? - ela não entra de fato e me encara do batente. 
— Não, mãe Mary. - sorrimos, a mais velha se senta na beirada da cama e afaga meus cabelos.
 — Você cresceu tanto, lembro quando não tinha nada nessa cabeça, nem um único fio. 
— Pare de relembrar minha época careca, foram maus momentos. - tomo a mão dela pra mim acariciando sua palma com meu polegar. — Quer me falar alguma coisa? 
— Você sabe o Leonard do meu trabalho? 
— O faz tudo? Sim, o que tem ele? 
— Bom, nós dois estávamos conversando e…
— Tem meu total apoio. Meu e do Dean. 
A mulher abre e fecha a boca de abrupto. Seus olhos crescem em expressão de choque, e afasta a mão da minha. Rio, intrigada com a reação dela.
— Do que você está falando, Anastasia? 
— Sem Anastasia pra cima de mim, mãe. A gente sabe que ele gosta de você, só te falta dar a chance pro coitado. Aliás, o que estava esperando? Que Dean e eu íamos querer que você ficasse presa a meu pai morto? - dou um empurrão de leve em seu ombro.

Tinha seis e Dean cinco anos quando nosso pai morreu. Se tenho memórias dele? Sim, só as boas. Não lembro de ter sido eu a achar ele afogado no próprio vômito e agradeço imensamente por isso. Ele era ótimo pai, exceto quando estava bêbado. 
Sei o quanto nossa mãe ainda se afetava com isso, os irmãos Quinn estavam bem, mas era difícil para ela. Prova disso é que o irmão dele não nos visita há tempos porque eles eram parecidíssimos e ela não consegue olhar para ele sem chorar. 

Papai tomou álcool como se fosse a solução para os problemas, e esse foi o problema.  

— Eu saí com ele algumas vezes. - soltou após um suspiro e completa de imediato quando vê minha cara — Mas não é nada sério e não vem ao caso. 

Pulo em cima dela e agarro seu pescoço, dou gritinhos sendo afastada pelas cócegas que faz em minha cintura. Permaneço com um sorriso no rosto, ela aponta o indicador pra mim como quem diz “pare já” mas estava sorrindo também. 
— Enfim… - recomeça colocando o cabelo que eu havia bagunçado no lugar — O primo dele tem uma casa na praia, fica na costa, só quatro horas de viagem até lá. Ele disse que podia pegar emprestado as chaves para usarmos. 
— Legal, mãe. É a lua de mel dos namoradinhos que não namoram ainda? - dou risinhos da sua cara incrédula. — Não se preocupe, eu cuido daqui. Pode ir tranquila. 
— Nada disso, mocinha imaginativa! Ele ofereceu para o aniversário de Dean porque comentei sobre. Não é uma casa grande já que a família deles é pequena, mas vai nos acomodar bem. Pensei em irmos um dia antes, curtir e no dia fazer uma festa com o resto dos amigos de Dean. Ele não ficaria sabendo dessa parte, já mandei mensagem e eles toparam. 

Amigos de Dean. Isso quer dizer que ela falou com Jeon… E se todos concordaram, significa que ele respondeu e que está vivo, o desgraçado. Por que era tão custoso esse garoto dizer logo o que queria de mim? A perda da aposta me tirava a noite e eu estava começando a me cansar disso. Dean completava seus vinte daqui a duas semanas, se Jeon não desse o ar da graça para mim eu aproveitaria da festa para o encurralar, se não tivesse se decidido a aposta se acabaria ali. 
— Adorei a ideia. Posso chamar a Kat? 
— Claro! Chamei o Tata, ele vai levar a gente de carro, sobra um lugar para ela ir junto antes, se quiser. 

Vibrações - jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora