Movimento errado

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Engfa ainda não havia deixado o maldito banheiro mesmo depois que vinte minutos haviam se passado.

Aquilo era para torturá-la, Charlotte tinha certeza.

E mesmo depois de desistir de sua procura por Pato, ela ainda havia permanecido ali, deixando-se cair na cama desfeita da garota mais velha, esperando por seu retorno.

Charlotte quase podia sentir o calor onde o corpo de Engfa estivera antes, bem como o perfume floral que ela sempre fingira odiar impregnado em cada centímetro daquele quarto.

Por que ela tinha que cheirar tão bem? Já não bastava ser bonita como o inferno?

Porque é claro que Engfa tinha que ser a garota mais bonita. E também a mais irritante. E a que costumava roubar todas as coisas de Charlotte.

Droga, ela queria Pato de volta.

– Você ainda não foi embora? – Engfa murmurou quando finalmente voltou para o quarto.

Charlotte não conseguiu evitar que seu olhar caísse para o fino pijama com estampa de jacarés. Ótimo, até em roupas de dormir ridículas, ela ainda parecia bem.

Então, amaldiçoando-se por ter aquele tipo de pensamento, Charlotte se concentrou no fato de que deveria responder à pergunta.

– Só vou embora quando resolvermos o problema sobre Pato.

Com um suspiro, Engfa fechou a porta e caminhou mais para o interior do cômodo.

Charlotte se ergueu do colchão, ficando de pé para pairar sobre ela, e possivelmente intimidá-la usando sua altura. Não que Engfa alguma vez tenha demonstrado sentir qualquer medo dela...

– Char, ouça. – Engfa falou suavemente, o cansaço se tornando muito evidente em sua voz. – A última vez que vi Pato foi antes mesmo de você vir para a Tailândia. Por que você não pode confiar em mim sobre isso?

– Você foi a única que entrou no meu estúdio enquanto estive fora.

– AH! Até parece. Heidi passou um mês inteiro dormindo no seu sofá. Ela disse que é bastante confortável e dá boas ideias, o que é meio estranho se você me perguntar, mas o que é que eu entendo sobre composição e...

– Pare de divagar. – Charlotte a cortou. – Heidi nunca mexe nas minhas coisas. Você sim.

– Isso é porque sou sua melhor amiga. Há certos direitos que vem com o título.

– Do que diabos você está falando?

– Bem, eu não me importo quando você usa algo meu. Porque é você. Privilégios especiais para pessoas especiais.

Charlotte não queria interpretar as palavras de Engfa de maneira errada, mas às vezes ela não conseguia evitar. Ela era... especial? O que aquilo queria dizer?

Em sua opinião, Engfa tinha a mente mais estranhamente complexa que Charlotte conhecia, e entender o significado por trás de suas palavras mais simples podia ser um complicado desafio.

– O q-que você está dizendo? Eu nunca uso as suas c-coisas. – Charlotte disse nervosamente, engasgando um pouco na pronúncia inglesa.

Porque ela estava falando inglês? Logo agora?

– Certo, deixe-me corrigir isso então. Eu não me importaria se você usasse algo meu. – Engfa disse, de repente parecendo muito mais tranquila do que Charlotte se sentia.

– Por que eu faria isso? Nós temos gostos muito diferentes. – Charlotte apontou inutilmente. – Somos diferentes.

– É óbvio. – ela estava sorrindo como se soubesse de algo e Charlotte não, o que a estava deixando realmente frustrada.

Patos e AmassosOnde histórias criam vida. Descubra agora