Diferente pode ser bom

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Engfa não esperava ouvir aquelas palavras vindo de Charlotte.

Certo, talvez ela soubesse que Charlotte poderia dizê-las a alguém em algum momento, mas não que seriam dirigidas a ela.

Sua amizade com a dançarina tailandesa já durava anos, e como somente a intimidade poderia prover, Engfa sabia muito de seus gostos e também de cada coisa que Charlotte detestava.

E se havia algo que Engfa definitivamente sabia sobre sua melhor amiga, era que ela gostava muito de caras... mas também gostava muito de garotas.

Bem, Charlotte nunca havia, de fato, esclarecido sua sexualidade em voz alta, mas Engfa sabia. Na realidade, era um pouco óbvio pela maneira como sua amiga sempre ruborizava de forma ridícula perto de garotas bonitas.

Mas ainda que tivesse consciência de que Charlotte gostava de ambos os sexos, Engfa definitivamente nunca imaginou estar do outro lado daquela equação.

– Você acabou de dizer que iria gostar se eu te beijasse? – a pergunta saiu sem que Engfa pensasse muito sobre como poderia soar. Ela não queria supor nada errado. Definitivamente, não com Charlotte. Mas haviam momentos em que sua boca trabalhava por conta própria, sem a ajuda de seu cérebro.

E quando Charlotte recuou, parecendo um pouco constrangida pela pergunta direta, Engfa pensou que poderia ter cometido um erro.

– Esqueça o que eu disse. – Charlotte murmurou, fechando a cara.

Engfa sentiu a frustração atingi-la. Ela sabia que Charlotte tentaria desviar o assunto rapidamente, apenas pela facilidade. Mas Engfa não estava pronta para deixar para lá.

– Diga de uma vez, Charlotte Austin.

– Não leve isso como algo maior do que é. Eu só quis dizer que um beijo não precisa significar alguma coisa, se você não quer que signifique.

Novamente, não era a resposta que a garota mais velha esperava. Parecia que Charlotte estava tentando mudar completamente o sentido do que havia dito antes, e isso a estava deixando mais irritada do que qualquer outra coisa.

Então, pensando que talvez devesse tentar provocá-la um pouco, Engfa testou:

– Ah, então beijar não é grande coisa. Significa que eu deveria sair distribuindo beijos a qualquer pessoa e estaria tudo bem, certo?

– Não! – Charlotte negou prontamente, e Engfa ergueu uma sobrancelha, curiosa sobre sua reação incomum. – Quero dizer, sim. Tanto faz. Mas talvez não seja uma boa ideia sair por aí beijando qualquer um. Não se esqueça de quem você é, e de como isso pegaria mal para a sua imagem.

Engfa suspirou.

– Infelizmente, isso é verdade. – disse. – Mas de qualquer maneira, esse assunto já foi longe demais. Talvez você devesse, eu não sei, ir embora. Vá fazer compras, visite uma amiga, volte para a Inglaterra. Apenas me deixe em paz.

Charlotte pareceu querer dizer algo sobre isso, apenas pelo modo como puxou o ar, estufando o peito, mas no fim, ela pareceu desistir de seu pensamento anterior e apenas murmurou:

– Não precisa me expulsar duas vezes.

Então, ela caminhou até a porta e estendeu a mão para a maçaneta. Mas antes que seus dedos a tocassem, Charlotte parou, girando o corpo para encarar Engfa de uma maneira que a deixou inquieta.

– Antes de ir, – ela avisou. – tenho uma pergunta.

Engfa estreitou os olhos. Se fosse sobre Pato, ela poderia muito bem agredir alguém. Charlotte, pela proximidade, e Nudee por tê-la metido naquela confusão, estavam no topo de sua lista de opções.

Patos e AmassosOnde histórias criam vida. Descubra agora