Devido lugar

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8 meses depois

Charlotte esperava em uma das poucas mesas vazias da The Bloc, a perna balançando ansiosamente sob o escrutínio dos fãs-clientes ao redor.

A decoração do ambiente naquele mês estampava cinco garotas em vestes brancas, expressões altivas e olhares que remetiam poder, o conceito mitológico dando um ar agradavelmente fantasioso ao local. Era quase possível sentir a força antiga que havia inspirado Heidi a dar vida a tudo aquilo.

Nudee estava no balcão de pedidos, dando autógrafos e tirando fotos enquanto aguardava por sua comida, e Charlotte não sabia como a garota tailandesa conseguia pensar em encher o estômago num momento como aquele, não quando Engfa estava lá em cima, no meio de uma reunião com um produtor da Disney.

A porra da Disney.

Aquilo era insano, ela deveria dizer.

Quando Engfa disse a ela que gostaria de escrever a declaração, desmentindo o artigo e dizendo que não havia nada acontecendo entre elas, Charlotte levou tempo para aceitar que aquela era a melhor escolha, afinal, ela ainda desejava contar ao mundo a quem pertencia todo o seu afeto, e ter de manter uma distância profissional de sua namorada sempre que estavam fora do dormitório era algo que a deixava verdadeiramente mal-humorada.

Mas funcionava.

E a julgar pelo sucesso que vinham tendo naquela era em particular, definitivamente funcionava.

Depois de suas cartas terem sido publicadas formalmente, tornou-se raro ver comentários sobre as fotos. Pelo contrário, as pessoas sentiam muito pelo que elas haviam passado. Bem... isso momentos depois de dizer todos os mais impensáveis absurdos sobre inferno, gays e depravação, não necessariamente nessa ordem.

"Um bando de hipócritas do caralho." diria Heidi. Que também havia se entendido com Tina, vivendo do mesmo arranjo que Charlotte e Engfa de que 'o que se faz no dormitório, fica no dormitório'.

Como Charlotte não discordava da opinião da amiga, cada vez que se deparava com comentários compadecidos demais e intrinsecamente homofóbicos, ela fazia questão de mostrar quão fortemente se importava com aquelas opiniões moralistas por meio de sua boca, usada muito precisamente para enlouquecer Engfa em sua cama. Que elas queimassem no inferno, então...

– Você deveria experimentar sorrir para os seus fãs, Char. – Nudee comentou ao retornar a sua mesa, acenando em benefício dos cliques das câmeras logo depois de acomodar seu pedido escolhido do cardápio de Aphrodite, a deusa representada por Engfa em seu novo conceito.

O cardápio de Charlotte, por outro lado, era um pouco mais sem graça em comparação, já que ela era Deméter, a deusa da agricultura, o que dava as pessoas basicamente opções de salada. Mas o mais excêntrico de todos eles, o qual nenhuma das garotas teve coragem alguma de se aproximar, era, sem sombra de dúvidas, o de Tina. E bem... cobra defumada não fazia realmente seu estilo.

– Você não entende. – Charlotte resmungou em voz baixa. – Esta é a maior oportunidade que ela já teve, Nudee. E também a primeira desde que... você sabe.

– Relaxe, Char, o papel já é dela. Eles não teriam vindo até aqui se fosse o contrário.

Talvez Nudee tivesse razão, e Charlotte fosse apenas uma idiota nervosa. Mas ela não podia evitar. Tudo o que Engfa e elas haviam acordado, o sacrifício de esconder quem eram por mais tempo, foi apenas pelo benefício de manter-se com suas carreiras e ter a chance de receber boas oportunidades como aquela. Charlotte realmente queria que desse certo.

– Está bem. Vou tentar deixar pra lá e apenas... me acalmar. – ela disse com um suspiro, descansando o queixo sobre seu antebraço.

– É uma boa ideia. A propósito, a mãe da sua namorada está caminhando para cá neste momento.

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