Porquê regras existem

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A prática daquela tarde não estava correndo bem para Charlotte.

Ela mal podia lembrar a si mesma de manter os dois pés longe um do outro a fim de não tropeçar, conforme seus olhos, contra a sua vontade, continuavam seguindo para uma pessoa em particular.

Para ela.

Mesmo quando a coreógrafa das garotas gritava um monte de instruções, ou chamava sua atenção sempre que Charlotte se perdia no tempo da música, ela só conseguia se concentrar em Engfa, observando-a através dos espelhos, deleitando-se da maneira como seu corpo se movia de forma suave, entregando-se tão fielmente à dança, mesmo que fosse apenas um ensaio de rotina.

E a cada vez que a música parava, indicando um momento para que as garotas pudessem respirar, Charlotte analisava cada um de seus movimentos, cada gesto, até sua maneira tranquila de beber água, a pressão da garrafa contra seus lábios, o movimento de sua garganta ao engolir, a gota solitária escapando pelo canto de sua boca, antes de deslizar pela lateral de seu pescoço...

– Tem um pouco de baba escorrendo bem aí, Charlotte. – Tina, aparecendo de repente ao seu lado, provocou em voz baixa.

Charlotte não disse nada ao virar as costas para a membro e se afastar rapidamente, sentindo-se envergonhada pela implicação daquelas palavras, e irritada consigo mesma por ter sido pega olhando para onde não devia.

Deus, ela precisava colocar a cabeça no lugar. E precisava fazer aquilo rápido.

As garotas voltaram para suas posições e o treino recomeçou, mas, maldição, Charlotte ainda não conseguia parar de olhar para ela.

Nem por um único segundo sequer.

E quando Engfa finalmente fez seu último giro antes da música terminar, parando bem à sua frente para que pudessem finalizar juntas a coreografia, Charlotte deu um passo em sua direção e deslizou as mãos por toda a frente de seu corpo, tocando-a de uma maneira muito diferente do que deveria, e definitivamente inapropriada.

Mas foi somente quando seus olhares se encontraram no espelho, o ofego de surpresa escapando dos lábios da garota em seus braços, que Charlotte se deu conta do que estava fazendo e deu um passo abrupto para trás... Indo diretamente de encontro a Nudee.

– Ahhh! – a garota tailandesa gritou, saltando em uma única perna antes de Charlotte se mover para apoiá-la. – Puta merda, Char, você esmagou o meu pé.

– Foi sem querer. – Charlotte disse imediatamente. – Desculpa.

Heidi se aproximou para segurar Nudee pelo outro lado, ajudando Charlotte a carregá-la até o sofá.

– Acidentes acontecem, está tudo bem. – ela tentou acalmá-las. – Tina, você pode pegar um pouco de gelo, por favor?

A garota mais nova assentiu rapidamente antes de correr até o refrigerador do outro lado da sala.

– Hmf... Isso está doendo como o inferno. – Nudee reclamou. – Será que quebrou alguma coisa?

Charlotte precisou revirar os olhos.

– Não é para tanto, boba. Nem foi tão forte assim.

– Diga isso ao meu pé. Talvez eu nem consiga mais ensaiar agora.

Tina voltou com o gelo nesse momento, e enquanto Heidi cuidadosamente removia o calçado e a meia de Nudee, a garota reclamando o tempo todo sobre como pessoas descuidadas eram um risco à sua integridade física e à de toda a sociedade, Charlotte foi rapidamente perdendo o pouco de paciência que ainda tinha, bufando com todo aquele drama desnecessário.

Patos e AmassosOnde histórias criam vida. Descubra agora