O perigo lhe cai bem

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A verdade era que Engfa adorava beijar Charlotte.

Tinha sido meio inevitável, considerando o quanto elas pareciam se encaixar, como recebiam as reações uma da outra de bom grado e tão perfeitamente. E Charlotte... Bem, Charlotte poderia fazê-la derreter com um único beijo.

Mas, ainda assim, Engfa sentia que havia cometido um erro na noite anterior, ao tentar ser um pouco mais... ousada, e fazendo Charlotte se afastar como se a queimasse.

Engfa entendia que talvez Charlotte gostasse de beijá-la, mas não significava que ela queria levar o que quer que elas estivessem fazendo adiante, e pensar nisso a estava deixando mais incomodada do que deveria.

E foi por isso que, mais tarde naquela noite, Engfa se viu parada diante da porta do estúdio de Charlotte, pensando se deveria ou não bater.

No fim das contas, ela acabou decidindo-se por simplesmente digitar a senha que conhecia de cor, e entrar por conta própria... Apenas para encontrar Charlotte dormindo no sofá.

– Oh. Alguém resolveu tirar um cochilo... – murmurou em voz baixa, indo até a garota que dormia profundamente, baixando o corpo para vê-la melhor.

Charlotte parecia adorável em seu sono tranquilo, seu cabelo ruivo despontando em vários ângulos diferentes, como se tivesse passado os dedos por ele muitas vezes. Seus lábios estavam entreabertos, enquanto seu peito mantinha-se subindo e descendo com sua respiração lenta e silenciosa.

Engfa já a tinha visto dormir tantas vezes antes, em seu tempo vivendo juntas, mas naquele momento, na iluminação fraca vinda apenas dos monitores acesos de Charlotte, era como se ela estivesse vendo uma pessoa completamente diferente.

Olhando para aquela Charlotte, era como se cobiçasse algo que não lhe pertencia.

– Char... – Engfa deixou escapar em um murmúrio baixo, sua mão se erguendo para tocar o rosto da garota adormecida, sendo movida por algum estranho tipo de deslumbre hipnótico.

– Eu não faria isso se fosse você.

Engfa saltou com aquelas palavras, sentindo como se tivesse sido pega fazendo algo muito, muito errado.

Mordendo o lábio com força, ela rapidamente se colocou de pé e deu um passo para trás.

– AH! Você estava acordada? – Engfa a acusou.

Charlotte teve a audácia de sorrir quando enfim abriu os olhos, instantaneamente encontrando seu olhar.

– Ah, eu só estava, você sabe, cuidando da minha vida, enquanto você decidia se entrava ou não.

Engfa agradeceu aos céus pela sala estar apenas em meia-luz e Charlotte não poder identificar qualquer traço do calor subindo por suas bochechas, porque teria sido realmente humilhante.

– E então? – Charlotte perguntou, interpretando seu silêncio como a deixa para continuar falando. – Você veio me dizer alguma coisa?

Raspando a garganta, Engfa tentou se recompor, lembrando-se do motivo inicial para ter vindo ao estúdio. Mas ali, sob o olhar curioso e cheio de expectativa de Charlotte, ela não conseguiu encontrar a coragem necessária para tocar no assunto que a incomodava, decidindo-se por um tópico mais seguro.

– Huh... Sim, eu... Eu terminei de gravar por hoje, então... Achei que deveria chamá-la para voltarmos ao dormitório. Você precisa muito dormir, não é?

Charlotte levantou uma sobrancelha.

– Preciso?

– Sim, porque você está agindo de maneira estúpida, então suponho que seja o cansaço fazendo seus neurônios pararem de funcionar.

Patos e AmassosOnde histórias criam vida. Descubra agora