A espera parecia uma eternidade. Eu estava no corredor a exatas uma hora e quarenta minutos sentado naquele banco desconfortável, esperando para falar com o reitor da Prestige Institucion, em frente à gigantesca porta de madeira cara – o tipo de porta que, na minha humilde experiência de vida, só poderia pertencer a um lugar que eu jamais esperaria pisar. O reitor estava ocupado dando um sermão a algum delinquente. Pelo menos foi o que consegui captar de relance, com frases abafadas sobre cigarros e faltas, mas eu realmente não estava interessado. O meu objetivo ali era bem mais simples, e nada envolvia broncas ou suspensões: só queria trocar os horários das minhas aulas.
Com o novo emprego na cafetaria em frente à faculdade, eu precisava reestruturar tudo. A minha bolsa cobria o dormitório, livros e transporte, mas a alimentação era por minha conta, e eu não queria dar mais esse fardo para os meus pais. Eles sempre desejaram que eu tivesse a melhor educação mesmo que isso exigisse parte da poupança de emergência que tinham economizado a vida toda. Eles já tinham desembolsado uma pequena fortuna nos uniformes obrigatórios da Prestige – a universidade mais exclusiva da Tailândia, para onde eu só fui porque, bem, minhas notas sempre foram acima da média, eu tinha que ser o melhor aluno se quisesse entrar naquela instituição, já que eu não era milionário. Então, se o preço por lutar pelos meus objetivos era esperar mais um pouco, eu esperaria. Afinal, paciência é uma virtude, ou pelo menos é o que dizem.
De repente, a porta se abriu. A figura que apareceu no batente foi... perturbadora. Um sujeito alto. E eu nem precisaria estar em pé para saber que ele era muito mais alto que eu. Normalmente todo mundo era. Notei que a expressão dele mudou de raiva para confusão assim que ele olhou diretamente para os meus olhos. Esculpido em beleza e superioridade, com um topete meticulosamente alinhado e uma expressão que oscilava entre o tédio e a irritação. Ele era tão atraente que chegava a ser desconcertante. Ele me encarou como se estivesse tentando contar todos os átomos do meu corpo, e meu rosto imediatamente esquentou. Desviei o olhar, fixando-o no chão com um foco digno de quem resolve um quebra-cabeça de mil peças. Eu tinha a impressão que ele sabia que era bonito e estava usando isso contra mim agora mesmo. Ele era tão ridiculamente intimidante que eu não conseguir sustentar aquele olhar mais do que três segundos.
- Porque está parado aí Max? - Uma voz grave, vinda de dentro da sala, interrompeu o momento estranho.
Eu olho para dentro mas não vejo ninguém, o tal Max está exatamente bem no meu campo de visão, talvez em toda a minha visão periférica, eu não tinha certeza de nada, ele parecia a própria porta.
- Tem uma criança aqui.
Antes que eu pudesse reagir, o tal Max disparou com um sarcasmo que parecia escorrer de cada poro. Ótimo um palhaço!. O sorriso no canto da boca dele denunciava que sabia muito bem que eu não era uma criança. Eu sabia que devia deixar essa provocação para lá, devia ignorá-lo totalmente. Mas... não dava. Aquele olhar desafiador, a malícia contida no sorriso... Era o estereótipo ambulante do riquinho metido, com um diploma em bullying. Eu sabia que isso ia acontecer em algum momento alguém com a síndrome do rei do mundo ia mexer comigo, concerteza tem escrito na minha testa em negrito com letras maiúsculas bullying a seu dispor. Já vi esse tipo antes, só não esperava que a humilhação viesse tão cedo. Mas não vou ser humilhado, não no meu primeiro dia aqui, pelo menos.
- Deixe ele entrar, Max - ordenou a voz de dentro da sala.
- Eu não estou a impedi-lo - respondeu o babacoíde, com aquele sorriso de quem sabe que já venceu. Eu já o odiava tanto naquele momento que até a sua respiração me irritava.
Me levantei rápido demais, amaldiçoando mentalmente o impulso. Era o que ele queria: eu, ali, tão baixo em comparação à sua imponente altura e superioridade, reforçando o abismo entre nós. Ele me olhou de cima com um sorriso que parecia dizer "pode tentar, pigmeu". E eu, claro, reuni toda a arrogância que pude, mas a verdade é que só devo ter feito uma cara estranha.
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The Beauty Of Chaos (Reescrevendo)
FanfictionA raiva não tem nada de bom mas é preferível quando comparada a dor. Naqueles olhos que se estreitaram para mim só era possível ver ódio, aquele tipo de ódio que faz você desejar nunca estar do lado oposto. Essa foi a primeira coisa que vi nos...