A Verdade

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Eu estava sendo sacolejado alguém chamando o meu nome, era meu nome, e não Docinho. De forma súbita voltei a realidade, olhando com confusão para P'Max através das lágrimas, meu corpo trêmulo, ele ficou parado me olhando assustado parecia que estava em choque, seus olhos foram para os meus pulsos eu os puxei rapidamente colocando atrás das minhas costas.

-O que está acontecendo?

Sua voz não tinha nenhuma emoção, ele ainda olhava para o meu braço, eu soluçei me remexendo desconfortável.

-Deixa eu ver.

Eu pisquei os olhos, sem entender do que ele falava.

-O quê?

-Seu pulso.

Eu gelei.

-Não!

Falei firme e com raiva, o que deveria ser um contraste com a minha imagem desmoronando e chorosa.

-Nat, não esconda eu já tenho uma ideia do quê é, me dê o seu braço por favor.

Ele olhou para os meus olhos, eu chorei baixinho, sentindo o fracasso, eu não poderia fazer nada, lentamente tirei os meus braços detrás das costas e estendi para ele. Ele aninhou as minhas duas mãos em uma mão sua eu abaixei a cabeça me sentindo envergonhado, não era culpa minha eu sabia, mas a maneira degradante que eu havia sido tratado era vergonhosa, como um animal. Sentir o tecido da manga longa sendo arrastado pelo meu pulso, me ecolhi com a dor, até um simples roçar de tecido em minha pele machucava, meu coração deu um pulo, tudo ficou em um silêncio ensurdecedor até que eu ouvir um chiado, olhei para cima, não era um chiado... era um soluço, P'Max estava chorando enquanto olhava para os meus pulsos inchados e roxos suas mãos estavam tremendo sob as minhas, eu fiquei parado sem saber o que deveria fazer.

Assim com uma voz trêmula e embargada ele começou o seu mantra, um lamento triste, e todo o seu corpo  balançando em desespero.

-Meu garotinho, meu adorado garotinho... meu lindo garotinho...

Ele repetia e repetia com a voz falha dando lugar ao choro. Ele me puxou para perto, me envolvendo num abraço apertado eu enlacei meus braços em sua cintura, segurando-o como se ele fosse meu porto seguro. Nosso corpo balançava sincronizado, como se quiséssemos harmonizar nosso sofrimento.

E naquela mergulho de dor, tristeza, saudade, humilhação e raiva, eu me permiti sentir tudo de forma avassaladora. Era como se cada momento difícil se chocasse contra mim, impiedoso e cruel. Até mesmo os momentos em que eu desligava meu cérebro para não sentir as mãos e os lábios nojentos de Gun em meu corpo, minha mente trouxe em imagens vívidas.

-Pi me ajude, eu não vou aguentar por muito tempo, me salve por favor.

Ele me envolveu ainda mais com sua força sufocante, esmagando meu corpo dolorido. Cada parte de mim doía, mas era bom me fez sentir-me protegido. Ele acariciou meus cabelos enquanto repetia palavras reconfortantes. Prometeu tomar conta de mim, sussurrou que tudo ficaria bem. Sem forças para reagir, deixei minhas lágrimas se misturarem às suas palavras entrecortadas. E assim ficamos, por horas a fio, até que não restasse mais uma única gota a ser derramada. Então, como um verdadeiro príncipe, ele me levou nos braços e se acomodou em minha cama, comigo sentado em seu colo. Com o lenço de seu uniforme, ele removeu toda a desordem em meu rosto.

-Eu te amo, você é a minha vida, eu te amo meu garotinho.

  Se eu ainda estivesse lágrimas iria explodir de novo mas meu rosto só se contraiu em uma careta estranha. Ele abraçou o meu corpo de lado novamente, de forma mais suave. Quando me soltou me olhou com intensidade.

The Beauty Of Chaos (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora