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kim taehyung ૮₍ 𖦹 ˕ ×' ₎ა

Diziam que só pessoas mal-intencionadas andavam pela cidade de Tiroteio depois do anoitecer. Eu não tinha más intenções. Nem boas.

Desmontei de Azul e amarrei-a ao poste atrás de um bar chamado Boca Seca. O garoto sentado na cerca me olhava de cima a baixo, desconfiado. Ou talvez fossem seus olhos escuros que davam essa impressão. Abaixei mais a aba larga do chapéu ao deixar o pátio. Tinha roubado o chapéu do meu tio, assim como a égua. Emprestado, na verdade. De acordo com a lei, tudo o que eu tinha pertencia ao meu tio, até as roupas que eu vestia.

As portas do bar se abriram com força, deixando sair luz, barulho e um bêbado gordo com o braço em volta de uma garota bonita. Levei a mão imediatamente ao meu sheema, que escondia a maior perte do meu rosto, para verificar se estava firme. Eu estava todo coberto e, mesmo horas depois do pôr do sol, suava como um pecador durante as preces. Devia parecer mais um nômade perdido do que um atirador de verdade, mas, desde que não parecesse um pobre garoto, não faria muita diferença. Naquela noite eu escaparia dali vivo. Se conseguisse sair com uns trocados também, melhor ainda.

Não foi difícil achar a arena de tiro é do outro lado de Tiroteio. Era o lugar mais barulhento da cidade, e isso significava muito. Tratava-se de um enorme celeiro no fim de uma rua empoeirada, repleto de gente e muito iluminado, apoiando contra uma casa de oração caindo aos pedaços, com tábuas de madeira fechando a porta. Talvez o celeiro tivesse sido usado por algum criador de cavalos honesto, mas devia ter sido muitos anos antes, a julgar pelo aspecto do lugar.

Quanto mas perto eu chegava, mais densa se tornava a multidão. Como moscas sobre a carcaça fresca.

Um homem com o nariz ensanguentado estava preso contra a parede por dois caras, enquanto outro socava seu rosto de novo e de novo. Uma garota à janela gritava coisas que fariam um ferreiro enrubescer. Um grupo de operários, ainda de uniforme, cercava um nômade em uma carroça arrebentada que bradava a venda de sangue de djinni, capaz de realizar os desejos mais secretos das pessoas de bem. Seu sorriso largo aparecia desesperado à luz do lampião, o que não me surpreendia.

Havia anos que não se via um ser primordial por aqueles lados, muitos menos um djinni. Além disso, ele já devia saber que os habitantes do deserto não acreditariam que os djinni sangravam algo diferente de fogo puro, e que ninguém em Tiroteio se consideraria uma pessoa de bem. Todos no último condado compareciam com frequência suficiente as preces Pará saber as duas coisas.

Tentei manter meu olhar fixo, como se nada daquilo fosse novidade.

Se eu subisse além das construções, poderia enxergar, depois da areia e do mato, a Vila da poeira, onde eu morava, embora não tivesse nada lá além de casas escuras. O povoado acordava e se deitava acompanhando o movimento do sol. Comportamento honesto, do bem, não era compatível com as horas de escuridão da noite. Se fosse possível morrer de tédio, todos lá já teriam virado cadáveres na areia.

Mas Tiroteio estava desperta e agitada.

Entrei discretamente no celeiro, e ninguém prestou muita atenção em mim. Já havia uma boa multidão reunida na arena. Fileiras de lampiões enormes pendiam dos beirais, dando um brilho oleoso ao rosto dos curiosos. Crianças magricelas colocavam os alvos no lugar, esquivando-se dos golpes de um homem parrudo que gritava para que se movessem mais depressa. Órfãos, a julgar pela aparência. Provavelmente crianças cujo pais trabalhavam nas imensas fábricas de armamento nos arredores da Vila da poeira, até serem dilacerados pelas máquinas defeituosas. Ou até o dia em que foram trabalhar bêbados e acabarem morrendo queimados. Trabalhar com pólvora não era exatamente seguro.

O REBELDE DO DESERTO(Taekook💜)Onde histórias criam vida. Descubra agora