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POR UMA FRAÇÃO DE SEGUNDO, EU ESTAVA VOANDO.

E então trilhos reluziram na minha visão periférica, perdendo por pouco a oportunidade de conhecer meu crânio mais de perto. Já minhas costelas e o chão não foram tão tímidos.

Atingimos a areia com força. Perdi o ar. Rolamos um por cima do outro, Jungkook me segurando forte, o trem gritando nos meus ouvidos, abafando tudo o que eu queria gritar de volta. Finalmente paramos em um banco de areia.

Empurrei Jungkook para longe, uma dor irradiando do meu ombro até a cintura. Ele praguejou, segurando o próprio torso, mas eu estava pronto para correr tão rápido quanto o trem até alcançá-lo. Levantei a tempo de ver a noite e a fumaça negra engolirem o último dos vagões de metal reluzente.

Por um instante insano pensei em correr atrás do trem. Viajar por dias preso às costas dele.

Mas o trem havia partido. Carregando centenas de pessoas em direção a Izman. Sem mim. Senti alguma coisa dentro de mim se quebrar. Abracei meu próprio corpo para me manter inteiro. — Você está bem? — Jungkook estava me observando, ainda segurando o torso. — taehyung

O modo como ele disse meu nome em um longo suspiro foi a faísca que faltava para detonar o barril de pólvora. Tentei dar um soco na cara dele.

Jungkook segurou meu punho antes que pudesse atingir seu nariz. Ele me puxou em sua direção, tirando meu equilíbrio.

— Uma dica. — Ele estava próximo de mim agora, tão próximo quanto quando me beijou, ou quando eu o beijei. —  Não tente acertar um homem no rosto quando ele está olhando diretamente nos seus olhos. Seus olhos te traem, Bandido.

Usei a outra mão para dar um soco tão forte no estômago dele que minhas articulações doeram. Jungkook se contorceu, tossindo.

— Obrigado pela dica.

Queria que a vitória não tivesse a mesma sensação de uma mão luxada.

— Disponha. — Ele apertou a barriga onde eu havia acertado, mas parecia rir. Senti uma vontade louca de acertá-lo de novo, aproveitando que estava vulnerável. Em vez disso, levantei a camisa e peguei a arma da cintura.

— Devíamos começar a andar — Jungkook disse. — Provavelmente estamos a menos de um dia de distância de Massil. Vamos ter que seguir os trilhos. Podemos chegar lá antes que o sol esteja muito forte se sairmos agora.

— O que faz você pensar que eu iria a qualquer lugar com você? — Se o Exército não estivesse atrás do Jungkook, eu ainda estaria a caminho de Izman. É claro que, se não fosse por ele, eu ainda estaria na Vila da Poeira. Mas não ia parar pra refletir sobre isso. Guardei a arma no cinto. Não havia necessidade de escondê-la: era melhor que as pessoas soubessem que eu estava armado.

—  Você tem um plano melhor? — Jungkook acenou para o deserto vazio, como se estivesse me oferecendo um banquete de ilusões. — Prefere vagar pelo deserto e acabar virando comida de abutre do que caminhar mais um dia comigo?

Ele não estava errado. Era um imenso nada até onde a vista alcançava. Exceto pelos trilhos, que percorriam a areia como uma cicatriz de ferro. Só havia dois caminhos se eu quisesse continuar vivo. Para a frente com ele. Ou de volta para Juniper.

Eu não ia voltar.

— Não se iluda. — Passei os dedos pelo cabelo, soltando-o onde estava preso pro baixo do sheema, enquanto começava a caminhar. — não vale a pena morrer por sua causa.

Andamos em silêncio enquanto a noite se arrastava pelo céu. Minha raiva me mantinha três passos à frente do jungkook, Mas mesmo aquele fogo começou a diminuir ao longo da noite. Eu disse a mim mesmo várias vezes que deveria haver outro jeito. Poderíamos ter ficado no trem. Achado um lugar para nos esconder. Alguma coisa.

O REBELDE DO DESERTO(Taekook💜)Onde histórias criam vida. Descubra agora