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— DIGA QUE VOCÊ BEBE.

Acordei com um tecido áspero no rosto e cheiro de pólvora. Tinha cochilado com a cabeça encostada nas costas de Jungkook enquanto cavalgávamos. Suas palavras vibraram pelos seus ombros e para dentro do meu crânio, sacudindo sem sentido até que eu juntasse os pedaços.

— Você viu onde eu cresci. – Minha voz saiu rouca. Quando abri os olhos, tudo o que podia ver era o tecido da camisa dele, mas já dava para perceber que estávamos bem longe da Vila da Poeira. O ar tinha outro sabor, de manhãs refrescantes e de cascalho, em vez de calor, pó e pólvora.
— É claro que eu bebo. –  Meu corpo doía e parecia que havia algo chacoalhando dentro do meu peito. Deus era testemunha de que eu podia beber uns cinco copos naquele momento.

Em algum momento da viagem eu tinha abraçado a cintura do jungkook para manter o equilíbrio. Eu o larguei e limpei o suor das mãos na camisa, enquanto ele deslizava para fora da sela. Tentei alinhar meus pensamentos com a minha coluna, me forçando a ficar reto.

Onde quer que estivéssemos, era parecido com a maioria das cidades do deserto. Casas de madeira amontoadas e chão empoeirado. Só que havia mais pedras do que na Vila da Poeira, e o horizonte pairava ao nosso redor, coberto pela névoa que antecedia a alvorada. Devíamos ter subido as montanhas.

Apertei os olhos e vi uma placa balançando com a imagem de um homem azul de olhos fechados mal desenhado. A inscrição anunciava que aquele era o Djinni Bêbado. Eu sabia a história, mas não conseguia lembrar.

A cidade estava completamente silenciosa.

— Onde estamos? – perguntei, para só então perceber que jungkook não estava mais por perto.

Girei em cima do buraqi e o avistei a duas casas de distância, pulando uma cerca branca lascada. Havia um varal pendurado entre a casa e um poste torto, jungkook pegou uma peça de roupa vermelha. Meus olhos passaram por ele e seguiram até a montanha, além das casas. Respondi minha própria pergunta.

Sazi ficava a um dia de cavalgada da Vila da Poeira. Ou a algumas horas, com o buraqi. Eu tinha ouvido falar muito da cidade mineradora, mas nunca a vi. Diziam que as coisas ali tinham ficado ruins depois do colapso das minas, algumas semanas antes. Mas eu não teria imaginado aquilo.

Uma explosão. Um acidente. Algo tinha dado errado com a pólvora, segundo os rumores na Vila da Poeira, e achei que entendesse o que queriam dizer. Eu tinha explodido garrafas e latas com os outros garotos no deserto. Eu às vira se estilhaçar enquanto corríamos para nos proteger, gritando. Às vezes alguém queimava dedo e precisava amputar, ou ficava com uma cicatriz no queixo, mas geralmente só havia uma confusão de metal, vidro e areia, tudo se fundindo.

As minas pareciam muito piores do que um pedaço derretido de lata velha. Lembravam o corpo do meu pai quando o arrastaram para fora de casa, a pele ainda borbulhando. A própria montanha estava desfigurada, como se a terra tivesse se rebelado e fechado a boca anciã da montanha, engolindo completamente as minas.

Não à toa o Exército não tinha ficado muito tempo em Sazi. Não havia muito a ser feito. Centenas de panos de oração estavam presos em torno de pedras e estacas por todo o caminho até a montanha, mas Deus tinha falhado ali.

— Toma. — A mão do Jungkook no meu joelho me trouxe de volta. Ele estava segurando o tecido vermelho para mim. Percebi que era um sheema. — É melhor ninguém ver seu rosto.

— Foi assim que conseguiu essa camisa? – perguntei. – Você arrancou do varal de alguém no caminho para fora da cidade?

Ele assentiu com a cabeça de leve.

— Enquanto você dava um show e tanto com o buraqi. Eu precisava sair de lá antes que o Exército me achasse. Você era uma distração boa demais para desperdiçar.

O REBELDE DO DESERTO(Taekook💜)Onde histórias criam vida. Descubra agora