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NUNCA TINHA VISTO TANTA GENTE NA MINHA VIDA quanto do lado de fora da estação de trem de Juniper. À minha esquerda, um homem de barba grisalha gritava através do vapor que subia de sua barraca, enquanto botava mais espetos de carne no fogo. Do outro lado, uma mulher vestida de dourado e carregando sinos cantava a cada passo que dava. O som de alguém pregando ecoou sobre o burburinho. Um pai sagrado estava de pé na pequena plataforma acima da multidão, as mãos levantadas, as tatuagens circulares idênticas da ordem sagrada nas palmas, viradas para a plateia. O tom de sua voz, subindo e descendo conforme pregava, me lembrou de Taemin. Senti uma onda de culpa quando pensei no meu amigo. Eu o deixara sangrando na areia para me manter vivo.

O pai sagrado abaixava as mãos no fim de cada prece, abençoando a multidão que se aglomerava a seus pés. Perdoando nossos pecados.

O fluxo de pessoas me levou adiante, até a ponta do souq, sob um arco sujo de fuligem. Mulheres carregando trouxas na cabeça passaram por mim; homens arrastando baús com o dobro de seu tamanho me empurraram.

Me movi com a multidão espremido até a parte sombreada da estação, cambaleando enquanto absorvia o cenário ao meu redor. Tinha ouvido falar dos trens, mas não estava pronto para aquilo. 

A enorme fera preta e dourada se estendia pela estação como um monstro das histórias antigas, respirando fumaça negra sob o domo de vidro sujo. A multidão se aglomerou para entrar.

— O bilhete? — Um homem de uniforme e boné amarelo pálido estendeu a mão, com cara de tédio.

Precisei me esforçar para abrir mão do bilhete e deixar que o pegasse. Eu havia levado dois dias para ir de Sazi a Juniper, mesmo no buraqi. Além disso, a bússola que eu roubara do Jungkook enquanto ele estava desmaiado (junto com metade dos seus suprimentos) estava quebrada e me levará para a direção errada, me obrigando a esperar até o nascer do sol para encontrar o caminho de novo.

Quando cheguei à cidade fui obrigado a fazer um péssimo negócio, vendendo o buraqi por metade do que ele valia. Mas metade era melhor que nada. E o mais importante: era suficiente para comprar um bilhete direto para Izman. Ver o nome impresso em tinta preta no papel amarelo o fazia parecer só mais uma lenda, prestes a desaparecer a qualquer momento das minhas mãos. Eu tinha escondido o bilhete sob o colchão do quarto que alugara, e fiquei verificando se estava lá tantas vezes que acabei decidindo que era mais fácil simplesmente mantê-lo colado em mim.

O cara do bilhete olhou para mim e franziu a testa. Ajeitei as roupas novas, inseguro. O machucado feio na minha bochecha tinha passado para um amarelo esverdeado que mal aparecia sob o sheema vermelho, e minhas roupas estavam soltas nos lugares certos. Tudo o que eu tinha de valor estava enfiado em faixas amarradas pelo meu corpo, incluindo o que sobrara do meu dinheiro, algumas moedas de Xicha e a bússola velha que o jungkook tinha deixado pendurada perto dos alforjes. Bastaria alguém olhar bastante para mim para desmascarar meu disfarce. Mas até uma pobre imitação de pai sagrado era melhor do que um garoto viajando sozinho e sendo procurado pelo exército.

Puxei a ponta da camisa, cobrindo a arma nova que tinha comprado com o dinheiro do buraqi. Não conseguiria entrar no trem à força, mas talvez conseguisse escapar dos homens de boné amarelo se precisasse. Estava prestes a descobrir se seria necessário.

— Este bilhete é de primeira classe. — Ele balançou o bilhete na minha cara como se fosse uma mãe dando bronca no filho.

— Ah — eu disse, porque não sabia do que ele estava falando. Me esforcei para me acalmar. — É?

Por um instante tive certeza de que ele ia me acusar de ter roubado o bilhete. O que quer que fosse a primeira classe, aparentemente eu não tinha cara dela. Especialmente com a bochecha ferida e o corte no supercílio.

O REBELDE DO DESERTO(Taekook💜)Onde histórias criam vida. Descubra agora