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ACORDEI NO ESCURO. A luz fraca do outro lado das cortinas da cabine me dizia que o sol tinha acabado de se pôr. Ainda faltava um tempo para a noite cair de vez no deserto. Logo o pessoal acordaria de novo para jantar.

A refeição ainda pesava no meu estômago, e o sacolejo do trem não estava ajudando. A cabine parecia quente e apertada, mesmo depois do crepúsculo. Eu precisava de ar fresco. Tentei abrir a janela, mas não havia como.

Eu tinha comprado algumas roupas. Puxei uma camisa limpa, curtindo seu toque contra minha pele, antes de me aventurar pelo corredor. Estava silencioso; o vagão ainda parecia tomado pelo sono da tarde. Se bem que os ruídos abafados atrás de algumas portas sugeriam que certas pessoas não estavam exatamente descansando. Abri a janela mais próxima o máximo possível e deixei o ar fresco do deserto entrar.

Como o corredor estava vazio, baixei meu sheema e encostei a testa no painel de vidro. Fiquei lá, respirando fundo, deixando a comida refinada assentar na minha barriga. O sopro de ar, como se eu corresse em direção a Izman, em direção à aventura, mais rápido do que nunca, me fez finalmente sentir que estava em movimento. Uma porta foi aberta com força atrás de mim. Estava puxando meu sheema para cima quando identifiquei um rosto familiar,

Congelei.

Dando um passo para fora da porta, com a cabeça inclinada para a frente enquanto fechava o botão mais alto de um khalat rosa e amarelo, cabelos pretos despenteados cascateando sobre os ombros, lá estava Jisoo. A visão dela era tão familiar que se destacava como um prego enferrujado naquele lugar novo.

  Ela não me viu. Deu outro passo sem olhar, esperando que o mundo saísse de seu caminho, como sempre. Ela quase esbarrou em mim. Foi só então que levantou a cabeça. Estava tão perto que dava para ver o comentário sarcástico se formando em sua boca. Seus lábios se abriram numa exclamação de surpresa, e então ela sorriu como uma hiena.

— Primo.

Eu já tinha apontado a arma para a cara dela antes que terminasse de falar.

— Não grite. — Eu já estava procurando um jeito de escapar.

— Por que eu faria isso? – Havia um tom de zombaria em sua voz, e Jisoo entrelaçou as mãos atrás das costas, inclinada casualmente contra a parede. — Você não vai atirar em mim.

— Ah, é? – Coloquei o dedo no gatilho.

— É pecado matar a própria família. — Ela fez um biquinho. — Viu, eu presto atenção nas preces.

— O que está fazendo aqui?

Olhei para os lados o mais rápido que pude sem tirar os olhos dela por muito tempo, evitando que tentasse alguma coisa. Alguém podia aparecer a qualquer momento e nos ver.

Ela revirou os olhos.

— Você realmente achava que era o único que queria uma vida fora daquela cidadezinha horrível? – Verdade seja dita, eu nunca tinha parado pra pensar no que jisoo queria. Imaginava que ela era igual a todo mundo, conformada em ficar na Vila da Poeira. — Fazim e eu costumávamos imaginar um futuro em que seríamos ricos e teríamos tudo o que desejássemos no mundo. Só que, para Fazim, não importava às custas de quem ele enriqueceria. —  Ainda havia uma marca no meu pulso, no lugar onde Fazim tinha me segurado. – Então vou atrás da minha fortuna sem ele. Aquele comandante jovem e charmoso que arrebentou a sua cara foi gentil o suficiente para me trazer com ele. Eu sabia que você estaria aqui, primo.

— Como?

Ela levantou um ombro de leve.

— Bem, você não dorme a um metro de alguém sem descobrir algumas coisas. — Isso era verdade. Eu sabia que Jisoo gostava de roupas amarelas, odiava limão em conserva e brincava com o cabelo quando mentia. E jisoo sabia que eu iria para Izman se algum dia escapasse da Vila da Poeira. Mas não tinha como ela saber que eu estaria naquele trem.

O REBELDE DO DESERTO(Taekook💜)Onde histórias criam vida. Descubra agora