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CORRI PARA FORA DA LOJA COM TANTA PRESSA que quase colidi com Taemin.

- Vim te procurar. - Ele estava sem fôlego e se apoiava na muleta.
- É melhor voltar para dentro da loja. .

- É um... - comecei a falar.

- Buraqi - ele confirmou, assentindo com a cabeça. Meu coração pulou no peito.

Um cavalo do deserto. Um ser primordial criado numa era anterior aos mortais, feito de areia e vento. Capaz de correr até o fim do mundo sem cansar. Uma criatura que valia seu peso em ouro, se capturada. Eu não ia voltar para a loja de jeito nenhum.

Apertei os olhos para observar o limite da cidade. Como imaginava, dava para ver uma nuvem de pó e homens se aproximando, conduzindo a criatura com barras de ferro. Ela devia ter acionado uma das antigas armadilhas.

- Deve ter sido por causa do incêndio em Tiroteio - Taemin disse, com sua voz de pregador. - Seres primordiais são atraídos pelo fogo.

Vi um prego torto espetado no batente e o arranquei. Antes o povo ganhava dinheiro coletando metal nas montanhas e enviando suas filhas para as areias com luvas de ferro para capturar e domar os buraqi. Para transformá-los de areia e vento em carne e osso, para que homens pudessem levá-los até as cidades e vendê-los. Até que o sultão construiu a fábrica. As dunas se encheram de pó de ferro. Até a água tinha gosto de ferro. Buraqis se tornaram mais raros, tendas viraram casas, comerciantes de cavalos viraram operários.

O ferro conseguia prender seres primordiais. Ou matá-los, como se fazia com carniçais. Era possível trazê-los à mortalidade. Mas a única coisa que podia transformá-los em carne e osso para sempre éramos nós.

Taemin tinha lido em algum texto sagrado que não havia fêmeas entre os seres primordiais. Eles não precisavam de filhos. Podiam viver para sempre. Não precisavam de nós.

Mas se conhecimento era poder, o desconhecido era a grande fraqueza dos seres imortais. Todos sabiam as histórias. Djinnis se apaixonam por princesas e concediam todos os seus desejos. Garotas bonitas atraíam pesadelos direto para as lâminas dos homens. Filhas corajosas de mercadores capturavam buraqis e os cavalgavam até os confins do planeta.

Eles eram atraídos por nós, mas também vulneráveis a nós. Éramos capazes de transformá-los em carne e osso.

Naquele momento, as pessoas saíam para a rua, uma ponta de empolgação nervosa percorrendo a todos. Um buraqi significava um monte de ouro para quem o capturasse, ou um massacre. Ou ambos.

Já dava para vê-lo chegando à cidade.

Alguém gritou. Portas bateram. Mas a maioria das pessoas se inclinou para a frente, tentando ver melhor. Estiquei o pescoço na frente da loja

Ele não ia se entregar tão fácil.

Num instante parecia um cavalo normal. No outro era areia pura, mudando de dourado brilhante para vermelho violento, fogo e sol no meio da ventania do deserto. Um arrepio de empolgação vindo de uma longa linhagem percorreu meu corpo. A fábrica tinha mudado nossas vidas. Não éramos mais tribos do deserto caçando buraqis. Mas ainda assim enchíamos o lugar de armadilhas de ferro. Quando uma delas pegava algo, todo mundo sabia o que fazer.

Um arrastar de correntes atraiu minha atenção. A jovem viúva Sara prendia uma ponta sob a caixa de za'atar na sua janela, enquanto a outra era presa à casa de oração pelo pai sagrado. Metade da cidade jogava pó de ferro da janela, uma reserva que todos mantinham em caso de ataque de carniçais. Ele se misturou com a areia e o ar, até que a cidade se transformasse numa prisão para um ser primordial.

O buraqi levantou com um relincho. Os homens tentavam controlá-lo com as barras de ferro, lutando para evitar que mergulhasse de volta na areia. Seus cascos desceram com força e um grito ecoou, interrompido pelo som de um crânio esmagado pelo casco. Sangue esguichou na areia.

O REBELDE DO DESERTO(Taekook💜)Onde histórias criam vida. Descubra agora