CAPÍTULO 4

21 7 46
                                    


Eu estava aqui já há exatos 5 meses, nesse tempo às coisas tinham mudado, lá fora, segundo uma das irmãs da noite, às pessoas estavam cada vez mais violentas e às guerras dominavam o mundo que eu ainda, mal conhecia, e não ousava conhecer. Segundo elas, uma nova esperança tinha chegado na capital de Vitix, a cidade de um dos reis humanos, aquela que ocuparia o trono estava chegando, e que chamavam de santa dos poderes. Mas nem todo mundo se sentia feliz por com isso, alguns achavam que ela era uma impostora, eles não aceitavam uma mulher no trono, era o que Kátia, uma das irmãs da noite me contava enquanto entregavamos  mingau velho para alguns guerreiros que ficavam de passagem pelo templo das irmãs, seja pra dormir ou apenas pra renovar suas forças, eles chegavam e eram tratados e alimentos até a hora de irem embora, era esse o dever das irmãs da noites.

____ Está vendo aqueles homens do reino cruzado de vermelho? Eles são inimigos do reino Vitix, pelo que ouvir eles estão prontos pra atacar vilarejos da cidade.
Entrego uma tigela pra um homem com uma cicatriz enorme no rosto e me viro pra ela

____ Você não vai ficar encrencada se alguém ouvir você revelar os planos deles assim?
Digo observando cada canto do salão sagrado enquanto homens e mulheres de vários lugares comiam tranquilamente

____ Claro, somos irmãs da noite, eles não iriam conseguir ouvir o que falamos nem se quisessem

Ela tinha razão, às irmãs falavam em sussuros que só outras irmãs conseguiam ouvir, isso, por conta da magia do silêncio que usavam. Ainda assim eu continuava olhando para os lados. As pessoas continuavam quietas, elas sabiam que tinham que ser cautelosas com o que falavam aqui, o que não era o caso dos vermelhos do reino cruzado. Eles pareciam está em uma igreja fazendo uma oração silenciosa. E era o que o templo das irmãs da noite significava, era um templo pra renovação e cura. Irmã Kátia tinha razão em dizer que eles não nos ouviriam, falávamos sussurrando, e como se isso não bastava ainda usávamos mascaram que cobriam nossos rostos escondendo nossas bocas e olhos, elas eram ótimas curandeiras, mas também sabiam esconder sua presença, o que impedia que qualquer pessoa sentisse ou ouvisse o que estávamos fazendo. Kátia e eu avistamos a irmã Mary que fez sinal para que nos aproximamos .

____ O que você faz aqui? ___ ela fala olhando pra mim. Eu olho pra Kátia que finge não fazer parte do que quer que fosse. Eu entendia , entendia mesmo, irmã Mary era antipática e muitas tinham medo dela por não ser nem um pouco simpática com as novatas

____ Achei que eu deveria ajudar no salão

____Nada disso, quem te falou isso?
Eu não queria falar que Kátia tinha me dado alguma coisa pra fazer, desde o dia que cheguei aqui não fazia nada a não ser aprender cura na sala do silêncio com a irmã suprema, elas não me deixavam ver ninguém, não me deixavam fazer ou falar nada. Minha máscara também era diferente das outras. Eu já estava cansada de não fazer nada, às paredes do meu quarto eram rodeadas de pedras, o quarto era mais que frio, mesmo que eu usasse um manto que me me cobrisse  todo o corpo, eu ainda assim conseguia sentir o ar gelado dançando na minha pele. Foi quando eu soube que iriam distribuir mingau para as pessoas no salão, eu não podia entregar Kátia, já que ela só estava me ajudando.

____ Eu vim por vontade própria, eu soube que estavam dando comida no salão e vim ajudar.

____ Você não pode sair por aí sem permissão, e como você ficou sabendo disso?

Irmã Mary era muito curiosa, e também era o braço direito da irmã suprema, ela ia até o fim pra resolver as coisas, e se precisasse ela também era uma ótima carasca. Eu tentava não chamar a sua atenção, já perdi as contas de quantas vezes eu tive as mãos vermelhas por não saber usar uma caneta tinteiro e em escrever milhares de vezes em uma língua desconhecida e tudo isso sem descanso a mando dela. Ela não via minha expressão mas ela sentia o que eu escondia por de trás da máscara. Ela foi uma das irmãs que não concordaram com a decisão da irmã suprema de me tornar uma irmã, já que eu cheguei como se não fosse nada, e para se tornar irmã tinha que passar por uma provação de luz branca, o que consistia em ser escolhida por um grimório feito pela deusa das profecias . Olho pra ela e respondo

____ Eu sair um pouco pra pegar ar e acabei ouvida por alguém, eu não sei quem eram, só escutei por aí

____ Pra uma novata você entende muito bem os sussuros das outras não é?

Ela fala com desconfiança, eu não sei o que fiz pra ela, mas a cada palavra dela dirigida por mim, é como farpas me atingindo. Eu não respondo de volta, ela levanta um pouco a cabeça e sai andando

____ Me siga__ ela fala

Olho pra Kátia e a mesma balança a cabeça pra que eu siga irmã Mary, e assim eu faço. Depois de uma caminhada de pernas bambas e um silêncio constrangedor, finalmente chego a porta do escritório particular da irmã suprema. Mary abre a porta pra que eu entre, e lá dentro vejo uma jovem de pele morena e olhos verdes brilhantes, cabelos cacheados tão escuros quanto esse fim de mundo, seu sorriso era como o sol que aqui não existia, acalentador e gentil. Ela era a única de nós que podia ser vista sem sua máscara, mas ela fazia questão de usá-la lá fora como exemplo pras outras, mas no seu cômodo pessoal ela retirava pois segundo ela era um momento de alívio espiritual pra sua alma. Irmã Ana, tinha 110 anos, mas parecia ter 17, sua energia e gentileza conquistava a todos e era a guerreira mais habilidosa de todas, às histórias diziam que ela fazia parte dos sanguíneos , povo dedicado as sombras, ela e sua família, aqueles que serviram aos antigos reis e rainhas como os espiões da morte, a única que sobreviveu ao massacre dos esquecidos. Hoje,conhecida pelas irmãs como irmã suprema e pelos guerreiros como a líder das assassinas, irmã suprema do sussurro. Ela vem até mim e pega em minha mão para me juntar a ela no chá da tarde. Me sento de frente pra ela, ela me oferece uma xícara de chá, eu assopro e sinto o cheiro da fragrância agradável do chá de camomila, o que era uma surpresa pra mim, saber que camomila existia ali. Ela  dá uma ordem silenciosa pra que irmão Mary saia, deixando apenas nós duas na sala.

____ Ouvir que estava ajudando no salão ___ ela fala sorrindo pra mim como se eu não tivesse desobedecido suas ordens

____ Me desculpe, eu não estava mais aguentando ficar naquele quarto

Ela tira a xícara da boca e me olha com interesse

____ E como estava lá?

Fico surpresa por sua calma, mas era assim que ela era, sempre gentil e acolhedora, nunca nos julgou, ela nunca me julgou depois que me encontrou ferida e quasse morrendo no meio do nada. Sorrio pra ela.

____ Foi bom ajudar um pouco , e interessante saber que existe tantas pessoas diferentes aqui, ou.... coisas

Ela leva a xícara a boca e sorrir enquanto bebe do líquido.

____ É bom saber que está se adaptando criança___ ela fica seria ___ Mas nunca mais desobedeça a uma ordem minha ou de Mary___ faço que sim, um pouco constrangida, ela tinha razão e eu merecia isso, ela me acolheu e eu estava agradecendo assim? Ela sorri ___ olhe para mim criança___ ela pega minhas mãos com gentileza ___ hoje começaremos seus votos do silêncio e seu treinamento com a cura.

____ Então é hoje...

Digo baixinho. Eu iria começar o voto de silêncio das irmãs, o voto que elas faziam só depois se dois anos, e eu só estava aqui apenas a alguns meses, o que deixou algumas irmãs irritadas, incluindo a irmã Mary. A irmã suprema se levanta, coloca sua máscara cor marfim , com um desenho de ramos brilhantes prateados por toda extensão da máscara e caminha até a porta.

____ Esse será o começo de sua jornada criança. Será aonde tudo começará.

Eu a seguir cegamente para a sala dos sussuros, eu sentia medo, pavor, mas eu fui, aqui era o único lugar que eu poderia me esconder, era o único lugar que eu ainda me sentia segura , e seria esse o lugar que eu iria chamar de casa de agora em diante.

Duas Coroas - Deuses De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora