CAPíTULO 5

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A cama era macia, o travesseiro era feito de fios de ouro. Tudo contribuía para um sono aconchegante, eu estava no paraíso, mas até o paraíso tem suas advertências. Às cortinas são abertas em puxões bruscos, o barulho de coisas sendo arrastadas e arrumadas pelo quarto fazem com que meu humor fique azedo. Reviro os olhos e levanto a cabeça, as serviçais iam pra um lado e pro outro arrumando coisas que pouco me interessavam. Blenda a chefe delas se aproxima da cama e ajeita sua postura pra poder se dirigir a mim

____ Minha senhora, precisa se arrumar pra festa do chá dessa manhã. Sua apresentação aos chancelers também é aguardada no salão

Eu tinha tudo que eu sempre quis, comida feita, roupas bonitas, sapatos intermináveis e um cabelo sempre fabuloso. Do que eu poderia reclamar? Bem, eu poderia não ter que ir nessas reuniões de homens velhos que sempre me olhavam com reprovação, ou encontrar o povo que me olha como desejasse minha morte. Talvez eles quisessem mesmo minha morte, mas eu não estava nem aí com isso, se eu tivesse segurança no castelo e coisas das quais provinham meu conforto pra mim tudo bem ser taxada como uma farsa, com tanto que eu continuasse a viver como uma rainha eu não me preocuparia com mais nada. Blenda chama às serviçais e manda trazer várias vestidos lindos de cores que pareciam um arco-íris no céu. Meu mal humor vai embora assim que elas os colocam em araras no meu  quarto. Eu coloco um sorriso enorme no rosto e pulo da cama animada. Amar vestidos já fazia parte da minha identidade, sempre sonhei em usar vestidos que pareciam tirados de um filme de fantasia, eu amava tudo relacionado a moda, queria ser modista quando vivia no meu antigo mundo, mas eu não era provida de oportunidades como outras pessoas bem sucedidas.  Suspiro tocando em um dos vestidos amarelos salpicados de brilho prateado, toco em outro vestido rosa com tule que caia como uma cascata até os pés, e finalmente paro em um que tira meu fôlego por completo , e faz com que meus olhos se arregalam de ansiedade. Sua cor azul  anil era fabuloso, o tule parecia se desfazer conforme descia até os pés, e fadas pareciam ter manchado a cintura com várias outras cores de azul, parte dele cobria os ombros, mas o que me chamava atenção eram as pequenas tulipas azuis feitas de prata que enfeitavam o tecido por entre as cores diferentes do azul, fazendo o vestido ser único e isso me deixava poderosa. Eu aponto pra que elas retirem ele da arara. O reino era movido por moda, dos pés a cabeça as pessoas se expressavam com ela. Suas roupas coloridas pareciam ter sido feitas por algo inexplicável . Eu tenho certeza que as maiores companhias de modas como a Dior teriam inveja desse conceito cheio de vida que o povo daqui usava pra se destacar em meio de tantas outras, pois nada mais existencialista do que as roupas desse lugar. Elas me vestem e arrumam meu cabelo com folhas prateadas no topo de uma das tranças feita em um estilo romano. Quasse esqueço que a pessoa olhando pra mim no espelho grande dourado sou eu, eu estava fabulosa e pronta pra enfrentar qualquer um

____ Pronta para ir minha senhora?
Pergunta Blenda. Faço que sim com um enorme sorriso . Eu nunca tinha sorriso tanto quanto sorrio aqui, já faziam anos que meus lábios não sabiam o que era isso, mas a sorte finalmente tinha me alcançado. Saio do quarto e vou até meu futuro rei.

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Respiro o aroma das flores do jardim. Já estava na hora do chá, meu rei estava sentado com suas roupas elegantes quanto as porcelanas que ficavam na mesa de mármore branca. Ele sorrir quando me ver e se levanta pra me cumprimentar com um beijo em uma das minhas mãos.

____ Minha rainha
Seu beijo me deixa com arrepios, seus olhos seguem meu corpo, cada centímetro de meu corpo é explorado com seus lindos olhos castanhos. O brilho que vejo ali me diz que ele queria fugir dali e ficar a sóis comigo, o que na minha opinião, seria ótimo fugir com ele pra longe daquelas senhoras que agora, eu vejo, estão nos fuzilando com seus olhos de águia. Eram sua mãe, a então rainha , e suas amigas que deixavam muito claro, não gostar de mim. Sorrio gentilmente para elas que fazem o mesmo, mas eu sei que é porque o rei estar aqui. Me sento ao lado dele ao qual nunca deixa de segurar minha mão. Levo uma das minhas mãos até um bolo todo vermelho que me parece delicioso, quando estou preste a pegá-lo me detenho quando Clarine, a ex rainha do reino chamar minha atenção

____ Querida, uma dama nunca pega comida com suas mãos__ ela olha pras minhas mãos ao alcance do bolo, agora parada no ar___ elas também nunca andam por aí sem luvas

Aperto as mãos com isso, como eu ia saber disso? Quando cheguei aqui ninguém me disse nada sobre essas regras ridículas. sorrio pra ela tentando esconder o desconforto de ter sido chamada atenção, era odioso quando alguém ficava me chamando atenção por esse tipo de coisas ou quando alguém ficava corrigindo palavras que eu acreditava estarem certas, eu odiava isso, e poderia pegar esse delicioso bolo e jogar na cara dela por ter feito isso.

____ Ah é mesmo? Caramba, eu acabei esquecendo

Dou de ombros e pego o bolo mesmo assim. Observo sua expressão de desagrado, mas isso não faz com que o bolo fique menos delicioso.

____ Da próxima vez eu faço direito__ digo sem arrependimento

____ Se tiver próxima vez___ aperto os olhos com esse comentário dela___E também não esqueça, os serviçais que lhe servem, eles não estão aí atoa, esse é o trabalho deles___ Pego uma xícara de chá e deixo que uma mulher de cabelos loiros me sirva.

____ Claro, Clarine__ digo indiferente. Clarine sempre foi admirada por ter uma beleza austera, ela era alta e bem bronzeada, sabia lutar como ninguém. Participou em várias guerras ao lado do próprio rei fazendo com que sua fama se sustentasse no reino. Seus cabelos loiros era o resultado de uma família de guerreiros sem alma e piedade, ela gostava do poder, por isso eu sabia que a minha presença aqui era ameaçadora pra ela.  Pego uma xícara de chá e dessa vez faço com que a serviçal me sirva. Ela era loira, o que não era incomum por aqui segundo minha professora de história que eles me designaram pra me ensinar sobre a cultura do país, todos eles eram loiros, claro, Luiz , o rei filho de agora não tinha cabelos quase brancos como ela, pois seus cabelos dourados se assemelhava mais ao seu tio, chanceler Edmundo, o que era estranho pois seu pai tinha cabelos negros. Aqueles que não tinham cabelos castanhos, dourados  como o de Luiz e seu tio Edmundo se distinguiam por ser estrangeiros, o rei pai um estrangeiro e pelo que eu ouvir por aí, estrangeiros não eram muito vistos pelo povo. Mas era aceitável, pois só sua mãe era estrangeira, de uma ilha de mulheres com sangue de guerreiras misteriosas. Assim como era  a rainha Clarine, que também descendia de guerreiros mas de um tipo especial que ninguém mencionava. Mas para mim não fazia diferença, não para alguém que vinha de um mundo como o meu, então era melhor que ela se acostumasse, pois eu iria ocupar o trono querendo ela ou não. Depois  de muito falar eu e o rei nos levantamos pra ir pra um novo compromisso, a sala dos chancelers, eu sabia o que me esperava, e que a conversa iria me tirar uma boa parte das energias que eu ainda tinha pra festa de hoje a noite, finalmente eu iria conhecer outras realezas, e iria me divertir muito com isso.

Duas Coroas - Deuses De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora