CAPíTULO 8

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O templo estava uma correria, vários soldados feridos tinham aparecido no meio da noite, alguns muito feridos e outros na beira da  morte. Os gritos poderiam ser ouvidos em distâncias de quilômetros, o pátio das orações estava cheio de desespero e sangue de feridos, corpos se espalhavam agora sem vida em um canto cheio de moscas. Os soldados gritavam como se um demônio os possuísse e se esperneavam como se suas carnes estivessem podres ou sendo banhadas em ácido puro. Dor, era o que eu via por onde andava.  As irmãs da noite faziam o melhor que podiam para deslocar braços e pernas, estancavam sangue e cortavam membros infeccionados. A visão de horror não acabava. Corpos separados faziam pilha daqueles que não sobreviveram a tortura da guerra que acontecia lá forra. E quando eu perguntei pra uma das irmãs o que elas iriam fazer com eles ela se direcionou para mim, e embora seu rosto estivesse escondido pela máscara de porcelana eu conseguia sentir que por trás dela, não existia um  pingo de emoção em como era assustar aqueles corpos ali. Sua voz era como gelo ao falar

____ O que acha que vamos fazer? Iremos queima-los.

E olhando sem acreditar para ela que já se virava para cuidar de outro soldado ouvir outra irmã falando

____ Vai ser uma noite com uma fogueira bem grande

Por trás de sua máscara branca eu conseguia sentir seu sorriso petrificado, como se aquilo fosse normal. Eu estava aqui já faziam dois anos e em todo esse tempo nunca tinha chegado a esse ponto. Às vezes chegavam homens feridos mas era o que elas me deixavam presenciar. Nunca deixavam que eu me aproximasse daqueles que saiam da guerra pra cá. O motivo? Eu não sabia. Mas isso era muito grande pra esconder atrás de uma parada grosa e com portas  fechadas. Pra onde eu olhava eu via panos encharcados de vermelho. Uma irmã que corria sem demonstrar sinal de emoções assim como todas ali no local, esbarrou em mim e eu quasse cair em cima de um amontoados de panos ensanguentados

____ Olha por onde anda

Uma cesta de panos sujos é  descartada em minhas mãos com violência. E fico sem saber o que fazer com aquilo

____ Ver se faz alguma coisa e para de ficar olhando. Esses panos precisam ser lavados princesa

Observo ela se afastar e parar em frente a um garoto com um olho enfaixado por uma bandana. Ele deveria ter mais ou menos uns 17 ou 18 anos. Ela pega em um de seus braços já roxo, olha para uma irmã com uma espada nas mãos e acena com a cabeça. E o que acontece em seguida é desconcertante. Ela faz alguns gestos de mãos, e ele desmaia. Logo em seguida a irmã com a espada se aproxima, enquanto a outra irmã estica o braço do garoto. A irmã de pé levanta a espada e abaixa com força bruta e retira o braço do garoto desacordado. Seguro um grito na garganta e sem querer a cesta em minhas mãos cai com um baque surdo no chão. Fico sem saber para onde olhar, não consigo sair do lugar. Era uma carnificina. Elas  não tinham emoção em seus olhos, eu podia sentir mesmo com a camuflagem de magia das máscaras, elas  faziam aquilo como se estivessem em um açougue, e sorriam vitoriosas quando acabavam de concertar alguém. Uma mão toca no meu ombro e eu me assusto , como se um único toque de qualquer um ali pudesse me contaminar com sua falta de humanidade.

___ Você está bem?

Olho irmã Helena que parecia a única pessoa limpa naquele lugar. Ela me olha com compaixão e me abraça. Eu seguro as lágrimas , e em seus braços fico como se aquilo fosse um alicerce para recarregar minhas forças.

____ Você não deveria estar aqui

Ela me solta e olha para a cesta caída aos meus pés

____ E não deveria está vendo isso também. A irmã Ana quer ver você. Ela quer que você a ajude em algo muito importante.

Duas Coroas - Deuses De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora