CAPÍTULO 13

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Era estranho perceber como tudo estava mudando para mim. Uma garota de uma cidade pequena que não tinha nascido com privilégios, e que não via futuro para nada em sua vida. Ainda lembrava os olhares de descrença das pessoas de sua família á verem que ela ousava viver entre eles, ainda lembra de suas palavras cortantes como vidros, falando com ela como se ela fosse o próprio lixo que eles descartavam. E como esquecer toda uma vida perdida por ter nascido em uma família desprezível e sem amor?. Era algo que levaria como uma cicatriz feia para qualquer que fosse o mundo que vivesse. O sol que se estendia junto com a cantoria da cidade me deixava quente por dentro, essa calmaria me banhava com os raios de sol que alegravam aquela parte esquecida de mim a muito tempo. O vento balançava o tecido do vestido branco de fios de seda orables. Era um dia bonito, e eu estava feliz com o rumo da minha história. Escuto tambores e um sino tocar três vezes, estava na hora de ir. Saio da sacada do meu quarto e calço meus sapatos. Gisela, uma das damas que me acompanhava no dia a dia do castelo, coloca uma tiara de diamantes com pontas de vidros da cor do sol, era algo exagerado e eu tinha amado justamente por isso.

___ Está pronta minha rainha?

Gisela me pergunta enquanto ajeita um fio solto do meu cabelo trançado.

___ Sempre.

Ela tinha apenas 16 anos, mas tinha uma alma de alguém com 60 anos, o que me fez simpatizar com Gisela imediatamente, ao contrário das outras ela não me espionava e nem ligava para meus modos nada condizentes com as pessoas da nobreza. Gisela tinha se tornada a irmã que nunca tive, e agora estava ao meu lado para um dia feliz que se tornaria minha vida, um que eu  não iria esquecer tão cedo.
Corro  apresada pelos corredores do castelo com ela ao meu alcance, encontro o general das tropas do exército, ele estende o braço e o aceito com felicidade, sigo para a carruagem de metal também exagerada feita de vidro e prata, não sabia como algo assim poderia existir e nem como poderia cientificamente andar, mas apenas subo nela e sigo pelas ruas do reino. Aceno para as crianças que dançam felizes e chamam o meu nome com orgulho, algumas pessoas jogam flores brancas e cantam alegres.

____ Eles estão lhe dando a bênção da rainha.
Diz o general, e meu sorriso aumenta ainda mais.

____ Que linguagem é essa afinal?

____ É o idioma antigo das fadas, a música é um presente para a primeira princesa de muito tempo , a única que permanece nas memórias das pessoas.

____ É lindo...

Enquanto escutava a música algo estranho aconteceu. De repente aquela felicidade foi substituída por um outro tipo de sentimento. Quanto mais eu escutava a música mais ela era errada  como se não fosse para mim, e sim para um outro alguém. Era como se eu estivesse contaminando a canção com minha presença. Mas, se era assim que minha mente via tudo aquilo, se era um sinal? Meu sorriso veio sem presa, sorrir e afastei rapidamente como um tapa me acordando de um declínio eminente. A carruagem para em frente ao castelo da coroação, era enorme. O general me oferece a sua mão para descer da carruagem, saio como se estivesse em câmera lenta. Quando chego na porta várias  pessoas se viram para olhar para sua futura rainha, alguns serviçais estão me esperando para me posicionar na entrada com perfeição. Acho que devo ter mentido para Gisela, talvez eu não esteja tão pronta assim, minhas pernas deveriam estar mais firmes, mas elas mais parecem uma gelatina do que qualquer outra coisa. Minha mente começa a me engolir, ela me diz que vou fracassar, que eu não deveria estar ali. Sinto mãos ajeitando meu vestido, rosas brancas são colocadas em minhas mãos, olho para eles e as sinto como se os espinhos estivessem me perfurando , como se eu estivesse sentindo o meu próprio futuro se alinhar na pele, passando sobre meu corpo sem volta.

____ Você entrará agora minha rainha

Olho para a moça ao meu lado que treme enquanto fala, como se sua vida dependesse de como deve falar e olhar para mim. Eu ainda não sou uma rainha, mas todos me chamam de " sua rainha" como uma posse, eu era de todos. Minha mente estava querendo me engolir como em um vórtice, tudo estava parado, as pessoas falavam e a garota continuava ali, desconfortável com meu silêncio. Esboço um sorriso. Afinal era isso que eu queria não é? Aperto as flores brancas e sigo o show.

____ Vamos lá.

As portas rangem com o empurrar das mãos e o salão da coroação é avistado, observo todo o salão com seu branco de fundo e o mármore em volta, límpido, sem um arranhão, observo as pessoas que me julgam ser boa ou não,  ser a sua santa e também sua futura rainha, cada reinado que nos apoiava, estavam aqui para ver a ascensão da nova rainha. Caminho lentamente até o topo, e finalmente meu olhar se choca com o dele, o mundo fica em silêncio mais uma vez. Ao fundo escuto a música de mais cedo sendo cantada pelas pessoas do salão e pela cidade que não pode participar. Era desagradável escutá-la, mas não era algo que estragaria minha ida até meu rei, porque ao contrário do povo ele era MEU, e EU era dele, e nada mudaria isso. Quando finalmente lhe alcanço vejo como seus olhos brilham de expectativa e deslumbre, como eles me desejam. Eu gostava em como seus olhos passeavam por mim, era poderoso sentir essa profundidade, era viciante, e eu iria querer cada vez mais disse eu sabia que iria, iria querer explorar cada sentimento poderoso sem entregar minha essência.  Mas não significava que eu não iria querer a essência deles. Sorrio de lado, enquanto o chanceler recita palavras de juras ao reino, e não ao amor entre uma mulher e um homem. Ele e os demais chanceleres me fazem jurar ao poder divino da deusa da luz. Desenham símbolos em meu rosto e depois me fazem repetir palavras que não conheço, eu estava me sentindo usada, mas também parecia que eles estavam sendo enganados. Eles tiram minha tiara de diamantes com pontas de vidro de sol, e finalmente, a coroa desce em minha cabeça e eu sou coroada rainha e esposa do rei e do reino. O povo do salão grita em saudação. Não ouve anel de casamento,  não ouve beijo, nada que meu mundo tinha de um casamento convencional existia aqui, e eu fiquei feliz com isso. Quando saio de dentro do salão da coroação com o rei tudo muda, sinto as mudanças nos meus ossos.  O reino todo nos dá graças e assim voltamos para o castelo principal, para as festas e celebrações, e eu sabia, eles também esperavam de mim o que todos em qualquer mundo ou reino esperavam de uma mulher, a consumação do casamento , e um futuro herdeiro para o trono. Mas se era isso que eles esperam, então era melhor eles pegarem uma cadeira e sentar, pois eu não iria lhes dar nada que ele esperavam de mim, não enquanto eu vivesse, não enquanto eu fosse a agora, rainha desse reino.

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⏰ Última atualização: Nov 01 ⏰

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Duas Coroas - Deuses De SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora