CAPÍTULO 05 - QUIMERA - Parte 02

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As pessoas raramente tomam boas decisões em momentos de raiva, desilusão, ou quando estão sob estresse e pressão. Eu sempre pertenci à pequena parcela de pessoas que lida melhor com esses momentos do que com a calmaria que a paz trazia consigo.

Não é nenhum mistério, há uma lógica por trás disso; um ninja, um guerreiro e principalmente um vingador não pode entender outra vida que não seja a guerra. Nós a vivemos, afinal qualquer ser humano se adapta à realidade que lhe é imposta, mas não é nosso curso natural; a paz é confusa. Coisas que outrora eram sem importância tomam proporções maiores e passam a ser prioridade, já outras, essenciais, são negligenciadas.

Por mais incoerente que possa parecer, digo sem medo de errar que todos que levam essa vida sempre almejaram um mundo onde nossos serviços não fossem necessários, e isso me inclui. Mas ao se verem vivendo a vida que tanto buscaram, eles se perdem. Ainda assim, sei que nenhum deles trocaria isso pela vida antiga, exceto, talvez, eu.

Claro que eu não sacrificaria a paz que atingimos, mas não é por apreciá-la verdadeiramente. Isso seria impossível, uma vez que penso no que ela me custou. Foi um preço alto, alto demais. E eu sei que jamais estaria disposto a pagá-lo. Nesse ponto, vou em sentido contrário a todos que já cruzaram meu caminho, não importa suas filosofias e seus meios. Todos eles almejavam a paz e cada um à sua maneira, buscou atingi-la do jeito que pensava ser o melhor. Se estavam certos ou não, é uma discussão para outro momento.

"É a filosofia de um vilão". Isso é o que diriam se pudessem ouvir meus pensamentos. E talvez seja mesmo, mas ela protege as pessoas que amo, então, por mais que eu me esforce, não consigo achar errado.

Porém, um paradoxo cruel é saber que isso, a "paz", é minha única ligação com as pessoas que mais amo no mundo, mas também é a causa, direta ou indiretamente, de eu não as ter na minha vida. Proteger o que eu repudio por ter me causado tanta dor é a única forma de honrar seus sacrifícios. Todas elas carregam, ou carregaram consigo esse desejo, e minha vida hoje é para garantir que isso que eles chamam de "paz" se mantenha.

— Consigo ouvir as engrenagens dessa sua cabeça dura trabalhando daqui Sasuke-kun. — A voz de Sakura se mistura aos sons de água borbulhando na panela. — O que está te perturbando?

Fazia alguns minutos que eu retornara do lago. E quando cheguei, ela já estava na cozinha iniciando o preparo do jantar. Sem dizer nada, me limitei a organizar as louças na mesa que ela já tinha deixado separada no balcão. Ao terminar, sentei-me à mesa observando o vapor das panelas se espalharem pela pequena cozinha, deixando sua silhueta um pouco desfocada.

Sem uma resposta verbal, ela olhou por cima do ombro, imagino que a fim de confirmar se eu ouvira sua pergunta. Então, apenas fiz um sinal negativo rápido com a cabeça e ela entendeu que não era nada que demandava sua preocupação.

— Vocês conversaram? Questionou, mudando de assunto, ao desligar o fogo e tampar a panela, se dirigindo à mesa, trazendo consigo alguns tomates cortados em pedaços, sobre uma tábua de corte.

Ao se sentar à minha frente, ofereceu um palito de petisco, enquanto com outro empalou dois pedaços do fruto para levá-los à boca. Aceitei e a acompanhei naquele "pré-jantar", até que Sarada chegasse.

Hai. Foi até lá me cobrar o relatório da missão. — Escuto sua risada contida pela boca cheia ao me ouvir dizer aquilo.

— Tremenda conversa fiada, digo eu. — Ela fala ainda de boca cheia. — Não me olhe assim, nós dois sabemos que isso foi uma desculpa, muito da esfarrapada. Estou errada? — Ela questiona apontando o espeto de madeira na minha direção.

— Não. — Levo um dos pedaços de tomate à boca antes de continuar. — Ele me contou sobre o divórcio. — A vejo depositar o palito sobre o canto da tábua e cruzar os braços à frente do corpo na mesa, para se apoiar sobre os cotovelos, olhando para baixo enquanto terminava de mastigar. — Superficialmente. — Completo. — Você sabe algo sobre isso, imagino.

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