CAPÍTULO 01 - MEMÓRIAS

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Doze anos antes...

Eu encarava o céu nublado, escorado na porta da cozinha. Ela dava para um pátio no jardim aos fundos. Um grupo de pássaros passava por ali, certamente fugindo do mau tempo que se formava. Observei dois retardatários que voavam na mesma direção. Parecia que apenas um deles era realmente mais lento que os demais, mas o segundo o acompanhava no mesmo ritmo, como se fosse um protetor.

A imagem me trouxe um sentimento nostálgico amargo. Sorri sem ânimo diante da cena, me perdendo em recordações em que eu e Itachi éramos como aqueles dois.

E como eu ainda desejava que pudéssemos ter continuado como eles...


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— Por que temos que ir?! — Não esperava realmente uma resposta, só estava reclamando enquanto tentava fechar a mala que havia acabado de arrumar.

— Já falamos sobre isso otouto ⁴. É seu aniversário, e a família da mamãe não te conhece ainda. — A voz dele era paciente e já um pouco rouca. Vi, de canto de olho, ele fechar o cinto interno da mala que mantinha as coisas no lugar. — São só três dias. Papai e mamãe não vão lá desde antes do ataque... A polícia de Konoha e tudo no clã têm estado caótico.

— Bom, se é meu aniversário, não eram eles quem..., MAS QUE DROGA DE MALA INÚTIL! — Praguejei sem dar atenção à explicação do mais velho, que só teria a importância evidenciada anos mais tarde.

Itachi suspirou, repetindo a mesma explicação que vinha me dando na última semana. Ele quem havia sugerido essa pequena viagem, se é que podíamos chamar assim. A casa dos meus avós não era longe, era no distrito Uchiha agora, mas era no extremo oposto à nossa casa, que fica aos fundos da área designada ao nosso clã.

— Papai disse que o vô e a vó estão doentes. Com certeza, a mudança os desgastou. Foi tudo muito rápido. Seria cruel fazê-los vir até nós, mesmo estando muito mais perto deles agora ⁵.

Suspirei em derrota. Não pela informação lógica que o mais velho me dera pela centésima vez, mas pela maldita mala que se recusava a fechar. Eu estava deitado de bruços sobre ela, procurando o zíper, mas as duas partes simplesmente não se alinhavam como deveriam.

Itachi estava de costas para mim, fechando a sua, com muito mais facilidade, diga-se de passagem. Eu não conseguia entender, havia colocado basicamente as mesmas coisas que ele, e elas eram iguais.

— Está quebrada! Não fecha. — Sentei em cima da mala de pernas e braços cruzados, emburrado pela frustração. — É um sinal para não ir! Não gosto de gente nova. Shisui e aqueles pirralhos da academia já foram o suficiente.

— Bom, o vô e a vó não são novos, exatamente... — Itachi riu nasalmente, contidamente, ainda sem se virar. — E eu achei que gostasse de Shisui. — Ele não precisou encarar a cena para saber o problema.

Era verdade, eu coloquei as mesmas coisas que ele na pequena bagagem de mão. As mesmas quantidades, os mesmos tipos de roupa e itens pessoais. Contudo, não coloquei só isso, e com certeza não coloquei de forma tão organizada quanto ele. O meu dinossauro e tomate de pelúcia, além das orelhas de gato que sabia ter pertencido à Itachi ⁶, junto de mais uma série de outros itens desnecessários, podiam ser vistos sobrando para além do limite da mala.

Assisti o mais velho se virar e alargar mais o sorriso ao ver o bico de frustração que eu estava fazendo. Era caloroso e raro vê-lo sorrir. Presenciar esse ato era um privilégio que meu nii-san ⁷ deu apenas a mim e ao Shisui. Era inevitável não corar, quando eu sabia que os únicos motivos para que eles moldassem seus lábios eram alguma birra ou algum ato atrapalhado meu. Pelo que havia visto até então, nem nossos pais presenciavam isso. Por isso, fechei os olhos e virei o resto na defensiva.

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