Treze anos antes.
— Você não pode viver isolado para sempre. — A moça fala ajoelhada à minha frente, espalmando a mão em cima do pergaminho estendido na esteira da sala, impedindo que eu prosseguisse minha leitura.
— É claro que posso. — Falo, ainda sentado, de pernas cruzadas sobre as almofadas espalhadas no piso, e puxando o pergaminho debaixo da mão dela. — Já se esqueceu de que vivi sozinho desde os sete anos, e quando saí da vila, passei mais quatro nos esconderijos do Orochimaru? Isso sem contar o ano que passei preso. Somando tudo, passei mais tempo em isolamento do que convivendo com pessoas. — Completo, me levantando, passando por ela, ao caminhar até a cozinha. — Água? — Ofereço, sem me virar.
— Não, obrigada. — Ela diz derrotada, olhando para trás, já que agora se encontrava de costas para mim.
Fazia quase uma semana que Sakura insistia em me arrastar para aquele "Evento". Era incrivelmente irritante e aprendeu a ser tão insistente quanto você. Desde que ela me encontrou naquele restaurante, disfarçado, passou a me acompanhar em alguns compromissos rotineiros na vila, era quase como uma escolta.
Gradualmente, os moradores da vila se habituaram à minha presença e agora, quase dois anos depois, eu posso caminhar verdadeiramente livre pela vila, mesmo sem a presença dela. Apesar disso, ela não abandonou o hábito de estar por perto e tentar me arrastar para todo e qualquer evento social da vila. Isso incluía aquilo.
Claro, nesse meio tempo fiquei longe de casa por longos meses, uma vez que, pouco depois de minha conversa com ela, eu decidi partir de Konoha. Acabara de sair da prisão e precisava me reencontrar, entender o mundo de outro modo, enxergá-lo através dos olhos de Itachi. Entender o que ele viu que o fez fazer as escolhas e os sacrifícios para os quais se subjugou.
Isso só seria possível sozinho, sem influências, sem opiniões, sem manipulações. Eu precisava voltar a ser uma tela em branco, e dessa vez só seria tingido pelas cores que eu mesmo pincelasse.
Após esse tempo ausente, voltei para aquele cubículo de apartamento que me designaram. Era incrivelmente menor se comparado ao que eu tinha quando criança. Não que eu merecesse ou mesmo precisasse de mais do que aquilo, era só curioso observar as mudanças acontecendo. As moradias estavam menores e o volume de moradores parecia muito maior.
— Sas, vocês são amigos. Ele quer você lá, então... — Escuto a voz da moça ir se aproximando lentamente, e um banco do balcão ser arrastado.
— Sakura-kun. — Chamo sua atenção e, ao me virar, a vejo sentada na banqueta alta. — Eu não vou.
— É mais que uma homenagem a um herói de guerra. É o aniversário dele.
— E um noivado⁴⁷... — Pontuo e ela me lança um olhar em dúvida. — Os boatos são que fariam a comemoração no mesmo dia. — Explico. — A vida é dele, eu sei, mas acho que está cometendo um erro, principalmente por estar envolvendo outras pessoas nisso. Eu não vou impedi-lo, mas também não participarei.
— Desde quando você dá atenção à fofoca? — Dou de ombros em resposta, e volto minha atenção ao preparo da infusão.
— Entendo seus motivos, mas é só um anúncio para os civis, não dá para chamar isso de festa de noivado. É bem provável que façam só após os discursos e felicitações. — A rosada argumenta, divagando em suposições. — Sas...? — Virei levemente a cabeça sem olhar para trás ao ouvir seu chamado baixo, apenas ergui ligeiramente o queixo para que soubesse que eu estava atento ao que dizia. Um suspiro longo quebrou o silêncio antes de ela prosseguir. — Você esteve longe muitos anos, talvez seja a única chance de comemorarmos juntos. Sei que você não ficará na vila por muito mais tempo depois que se tornar oficial. E, se sei, pode apostar que aquele Baka também sabe. — Ela ressalta brincando com um hashi⁴⁸ esquecido no balcão. — Ele não é mais aquele garoto lerdo que conhecemos.
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| REMINISCÊNCIAS | ▪︎SasuNaru▪︎
Fanfic▪︎ Livro único | Abril de 2023 ▪︎ Fanfic Cânon Universo Naruto. 🍙🍥🍙 ▪︎ Sinopse: Em meio à devaneios, e imerso em nostalgia, Sasuke está de volta à Konoha. A nova realidade, e as antigas companhias, o faz imergir em lembranças adormecidas, traze...