CAPÍTULO 08 - SILÊNCIO

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 O som alto que agride nossos receptores pode assustar tanto quanto a ausência total de ruídos. Eu agora me encontrava entre os dois extremos. O som, seguido pelo silêncio assustador.

É curioso pensar em como o som funciona. Uma vibração, vinda do movimento de uma coisa qualquer que se propaga pelo ar, é captada pelo nosso aparelho auditivo e interpretada pela nossa massa cinzenta.

Algo capaz de transmitir apenas energia, nunca matéria. Isso por si só é quase como um ato de fé, porque mesmo sabendo que o som existe, já que supostamente conseguimos ouvi-lo e de sentir os demais efeitos físicos da tal vibração, não podemos tocá-lo ou vê-lo. Apenas confiamos e damos significado tanto à presença quanto à ausência dela, ambas transmitindo uma mensagem ao receptor, tão importante e tão confiável como qualquer outro sentido humano consegue captar.

O grito que rasgou a garganta, agredindo minhas cordas vocais, me despertou. Abri os olhos e me percebi sentado, arfando, tentando retomar inconscientemente o controle da minha própria respiração. Tomei ciência da sensação álgida que corria minha espinha; culpa da adrenalina, que vagava estugada pelas minhas veias, do suor que escorria pela minha testa e da força com que eu segurava os tecidos das roupas de cama.

Não houve mais nenhum som por algum tempo. O grito reverberava distante em minha memória e, agora, eu mal captava o som da minha respiração descompassada. O silêncio, incômodo, parecia deturpar meus outros sentidos, minha visão turvava, e confundia o ambiente real com o cenário que meu subconsciente criou momentos antes.

Papa? — Os olhos negros me miravam da porta do quarto. Sarada não se aproximou, estava assustada, seu chamado saiu baixo e apreensivo.

— Ele está bem, filha. Foi só um pesadelo. — A voz próxima me surpreendeu mais do que gostaria de admitir e tenho certeza de que não escondi isso. Não notara Sakura parada ao meu lado até sua voz gentil se apropriar do cômodo. Ela não pareceu se abalar. — Pode descer e separar as coisas para o café da manhã, por favor? Filha, está tudo bem, já vamos descer. — Ouvi-a insistir com a menina, que apesar de hesitante, concordou com um aceno antes de desaparecer atrás do batente.

Encarei a porta entreaberta por mais um instante para só então voltar a mirar a mulher de cabelos cor de algodão-doce ajoelhada ao lado da cama. Observando com mais calma, havia alguns itens médicos ali, uma pequena bacia com água e um pano úmido sobre a mesa de cabeceira. Sakura ainda estava de pijama, e calçava uma pantufa felpuda. O cabelo curto desgrenhado denunciava que ela teve o sono interrompido, provavelmente pelo mesmo motivo que eu.

— Se lembra de algo? — Vi-a sentar-se sobre os joelhos, ao meu lado, no tatame que abriga a cama.

— Não. — Ainda tentava assimilar o que havia acontecido.

— Está mais frequente e mais intenso.

— Quanto tempo durou?

— É difícil dizer, mas do que três horas com certeza. Acordei com seu grito, ainda era meio da madrugada. — Aquilo me alarmou, nunca durou tanto.

— Estamos ficando sem tempo... — Concluí, me movendo lentamente para sair da cama, enquanto Sakura se levantava para me dar espaço.

— Sei e parece que só estamos acumulando mais perguntas do que temos respostas. — Ela contornou a cama, intentando sair do quarto, carregando parte dos itens que estavam dispostos na mesa de cabeceira. — Sasuke-kun... — Ela chamou cuidadosa, aguardando que eu me virasse para ela. — Talvez, precisemos pedir a ajuda dele... Deles. — Corrigiu-se. — Não acho que consigo sozinha, ao menos, não há tempo.

— Só em último caso...

— Já estamos em "último caso" Sasuke! Precisamos...

— Eu sei, Sakura! Eu sei... — Minha voz saiu um pouco mais alto do que eu pretendia quando a interrompi. Recobrei minha postura antes de prosseguir, mas quem me interrompeu foi ela.

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