Cap. 11 Minho...

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Vejo Alby correndo desesperado ao meu encalço, estou suando frio, passo a mão na testa. Olho pelo canto do olho e vejo a coisa horrenda começando a se levantar, e, não sei se é impressão minha, mas vejo uma expressão raivosa na coisa que seria a cara do bicho. "Isso não é natural, uma coisa assim não deveria existir", penso, balanço a cabeça ainda correndo, atordoado por não saber nem de onde surgiu a ideia, como eu poderia saber uma coisa dessas se não lembro nada mais que meu nome? Soco o ar.
A criatura se levanta, eu estremeço ao ouvir seu uivo de raiva e ver que ela começou a rolar na nossa direção, faço uma curva aqui e ali, tentando encontrar a saída para a clareira, até que damos de cara com um corredor sem saída. Me apavoro, começo a correr em círculos e Alby me encara porque sabe que não vai ter escapatória, a coisa se aproxima depressa.
Uma ideia surge e começo a me preparar, compartilho aos berros meu plano para fugir dali, Alby compreende e fica à postos. O monstro se aproxima de nós pelo meio do corredor enquanto nós dois estamos juntos na direção dele, ele chega mais perto e mais perto, furioso. Quando ele está à centímetros de nós, a quase uma mão de distância, nós rolamos para os lados, fazendo a criatura se chocar na parede e ficar mais furiosa ainda. Não esperamos para ver o que aconteceu e voltamos a correr desesperadamente.
Corredor após corredor. Correr sem cessar, esse virou nosso lema.
Passo por um corredor e vejo que uma cena que quase me faz vomitar, um dos monstros pegou um de nossos rapazes para o jantar. As lâminas entram e saem com entranhas penduradas nelas, gritos pavorosos de dor e agonia, tenho vontade de ir ajudar mas não posso, já é tarde. Alby bate em meu ombro e me faz prosseguir, correndo cada vez mais. A medida que passamos os corredores, percebo que não há mais ninguém além de nós e o coitado que não teve sorte de chegar à Clareira a tempo.
Passamos por um corredor que dá esquina com um outro corredor muito extenso, seguimos por ele. Parece não ter fim, corremos e corremos, até que que nos deparamos com algo que me deixa chocado e quase paralisado, não fosse a situação.
Um buraco imenso, coberto por uma espécie de névoa cinza que não nos permite ver o fundo. Apenas o vazio. Nada mais. Estamos bem na beirada, é como se fosse... como se fosse um abismo, nada além de nada. Só vazio.
Olho o horizonte, parece distante, o abismo deve ter quilômetros de diâmetro. "O que será que tem lá embaixo?", pergunto pra mim mesmo em pensamento e balanço a cabeça. Alby está tão abismado quanto eu. De repente, algo me faz lembrar de que..... Ah, não! Mértila, as portas, elas vão fechar daqui a pouco!
Começo novamente a minha corrida frenética pelos corredores sem fim, Alby ao meu encalço. A escuridão já está tomando conta do local. Um silêncio assustador paira sobre o Labirinto, como se algo estivesse prestes a acontecer. Fico cada vez mais frustrado a cada esquina que dobro e não me leva à saída. Corro cada vez mais, sem parar nem para respirar.
Dobro uma esquina e vejo que há luz saindo de algum lugar, devemos estar perto. Estamos quase chegando no foco da luz quando o chão estremece e um vento vindo de algum lugar atrás de nós nos surpreende.
- É isso! - grito para Alby - As portas vão fechar e vamos ficar presos aqui a noite toda! Isso na melhor das hipóteses. Na pior, viramos comida de monstro. - Ergo as mãos pro alto em ato de rendição, mas Alby me puxa e me carrega aos trancos e barrancos.
- Não vou desistir, não estou nem um pouco a fim de morrer desse jeito - berra ele. Eu me solto de sua mão e o acompanho, tentando ser o mais rápido que posso. Dobramos duas esquinas e lá estão elas, as malditas portas!
Olho na direção delas e vejo os outros rapazes, sãos e salvos, nos esperando. O chão estremece mais uma vez e as portas começam a se fechar. Precisamos correr, nossas vidas dependem disso. Olho para trás por um impulso de saber se não há nada nos seguindo e fico feliz de saber que não há. As portas estão quase metade do caminho para se lacrarem por mais uma noite quando passamos por elas.
Respiro aliviado e caio de costas no chão, sentindo a grama da Clareira sob minha pele. Alby se encaminha para a sede. Eu vou ficar aqui mais um tempo, descansando e agradecendo por ter a chance de viver mais um pouquinho.

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⏰ Última atualização: Jun 17, 2015 ⏰

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