7. Experiências transgênero

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Pessoas trans... Japão feudal?

De novo, vamos voltar ao que eu falei no capítulo 5: pessoas que amavam pessoas do mesmo gênero sempre existiram. As palavras usadas para defini-las como identidade sexual é que são recentes. A mesma coisa segue para gênero: pessoas trans sempre existiram. As palavras usadas para definir suas identidades é que é recente.

Esse capítulo será curtinho, só com alguns exemplos, só para deixar claro que é possível sim escrever uma história com pessoas trans no Japão feudal. Vamos lá:

Na literatura: o Torikaebaya Monogatari

A história de temática transgênera mais famosa no Japão pré-moderno é, eu acho, o Torikaebaya Monogatari, escrito no período Heian. Ele conta a história de dois irmãos gêmeos: um menino e uma menina, que tiveram "as almas trocadas" dentro da barriga da mãe por causa de uma maldição de um tengu: a "menina" é masculina e durona, o "menino" é delicado e tímido. O pai das crianças está prestes a enviá-los para a vida monástica, mas todo mundo se impressiona com as habilidades de seu filho (a "menina"), então ele decide dar uma chance e enviar ambos para o serviço da corte: a "menina" vira o Chuunagon, o "menino" vira a Naishi-no-Kami. Muita coisa acontece na história, a Naishi-no-Kami se apaixona por uma princesa amiga dela, o o melhor amigo do Chuunagon tenta seduzir a irmã dele e depois seduz e engravida ele. O tengu que havia os amaldiçoado anteriormente se converte ao Budismo e decide tirar a maldição, tornando-os confortáveis com seus corpos e papéis de gênero originais (raio cissificador). Os irmãos então trocam de roupas e postos e a antiga Naishi-no-Kami se casa com a princesa e o antigo Chuunagon se casa com um príncipe e todo mundo vive feliz para sempre.

Não é politicamente correto, mas mostra que a ideia de pessoas transgêneras já existia no período pré-moderno japonês.

Não é politicamente correto, mas mostra que a ideia de pessoas transgêneras já existia no período pré-moderno japonês

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Torikaebaya, adaptação de Chiho Saito

Na vida real: o caso de Yoshizawa Ayame I

Fora a Naishi-no-Kami, não consegui achar relatos literários de pessoas transfemininas em uma busca rápida. Apesar disso, temos no Japão do período Edo um local onde pessoas transfemininas poderiam crescer como abertamente transfemininas: o teatro Kabuki. Havia o papel de onnagata (alguém que fazia papéis femininos), e algumas pessoas que eram onnagatas viviam como mulheres em suas vidas privadas também e eram tratadas como mulheres no dia-a-dia. Um exemplo disso é Yoshizawa Ayame I, que inclusive escreveu um "manual de onnagata", com coisas maravilhosas como:

"O ator precisa viver sua vida como mulher para se tornar um onnagata realmente habilidoso [...] Um onnagata que sente que não consegue fazer o papel de mulher não entende os sentimentos das mulheres [...] Uma onnagata precisa lembrar de sempre ser feminina [...] Não há ator que possa fazer o papel de mulher e de homem ao mesmo tempo."

Guia do Shiba de Japão Feudal para EscritoresOnde histórias criam vida. Descubra agora