6. Amor, família, sexualidade e gênero - entre mulheres

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POVO DO GL me perdoem mas não há muito conteúdo específico aqui pra explorar.

Os relatos da privacidade de homens individuais no período do Japão feudal são raros

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Os relatos da privacidade de homens individuais no período do Japão feudal são raros. Quando são dois homens, é mais raro ainda. Os relatos de mulheres são muito mais. Os da privacidade de duas mulheres específicas, então, é um negócio que eu nunca vi em fontes primárias.

Isso não significa que não existia.

No período Edo, você acha shunga (ukiyo-es eróticos) representando todo tipo de relacionamento e situação: héteros, gays, com vários participantes, lésbicos... há um infinito de coisas que podem ser pesquisadas pelos shunga. Mas vamos tentar falar um pouco de relatos:

Mulheres e homens viviam em situações homosociais: homens interagiam e viviam principalmente com homens, mulheres viviam e interagiam principalmente com mulheres. Em vilarejos e locais de classes mais baixas, no dia-a-dia, havia menos homossocialidade, em locais de classes mais altas -- castelos, palácios, cortes -- os homens e mulheres viviam suas vidas quase separados. Homens estavam nas guerras, mulheres protegiam os castelos; homens tinham suas reuniões com vassalos, mulheres ficavam nas alas femininas; homens tinham monastérios masculinos, mulheres tinham monastérios femininos. Isso não significava que eles não interagiam, só que no fim do dia uma mulher nobre teria passado muito mais tempo com outras mulheres do que com outros homens.

E uma coisa que já vimos no capítulo passado é que homossocialidade facilita relacionamentos entre pessoas do mesmo gênero. Isso não é diferente aqui.

Também vimos que sexualidade não era identidade. Uma mulher poderia passar o dia com sua(s) namorada(s) na ala feminina e, de noite, dormir com seu marido. Uma prostituta poderia passar o dia com seus clientes homens e, de noite, ter um encontro romântico com outra prostituta, coworker no mesmo bordel em que ela estava. 

Finalmente, sabemos que o que temos na maior parte do caso são dicas. Uma mulher que vivia quase que exclusivamente entre suas damas de companhia, mas que era casada com um homem e nunca deu filhos a ele, poderia ser o que hoje entendemos como bissexual, lésbica ou sáfica. Um exemplo bom é a Tachibana Ginchiyo -- a moça que, junto com seu pai, puxou o cara com que ela casou para dentro da família, em vez de sair da dela.

 Um exemplo bom é a Tachibana Ginchiyo -- a moça que, junto com seu pai, puxou o cara com que ela casou para dentro da família, em vez de sair da dela

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Ginchiyo histórica / Ginchiyo em Nobunaga's Ambition

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Ginchiyo histórica / Ginchiyo em Nobunaga's Ambition

Levando em consideração que seu marido Muneshige também tinha um "irmão jurado", o Kobayakawa Hidekane, e não desgrudava dele; levando também em consideração que mesmo depois da morte da Ginchiyo o Muneshige não teve filhos com nenhuma outra mulher, fica aí a dúvida se talvez eles não fossem um casal lésbica x gay... 

L x G solidarity! (de Okubo Yamato)

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L x G solidarity! (de Okubo Yamato)

Período Edo

Outra coisa que sabemos é que relacionamentos entre mulheres corriam soltos no Ouoku ("Grande interior", ala feminina onde mulheres ligadas ao xogum viviam). Temos imagens de shunga representando isso, e nelas as mulheres usam até mesmo brinquedos adultos: tem consolo de duas pontas, consolo de uma ponta só, strap-on... e o sistema de relacionamentos femininos parece ser o mesmo do masculino: uma mulher mais velha "escolhia" uma mulher mais nova, novata na profissão de prostituta ou novata no Ouoku.

Segundo relatos, relacionamentos entre mulheres também eram normais em prisões femininas.

Eu tenho a impressão de já ter lido em algum lugar que prostitutas mulheres também poderiam se vestir de homens para atender clientes mulheres, mas no momento eu não estou lembrando se alucinei isso ou se realmente está em algum livro que li. De qualquer jeito, é um bom plot point e vou atualizar esse documento caso eu lembre onde vi.

Termos

Seria lógico se o termo de amor entre mulheres fosse 女色 joushoku/nyoshoku ("cores femininas)", ao contrário de 男色 ("cores masculinas"), mas joushoku era usado para se referir a relacionamentos heterossexuais. ._.

Não achei muitos termos e nem sei se estão corretos, mas fica aí:

- Onna-chin ("amiga excepcionalmente próxima"). Aparece num livro do século XVII. Aparentemente era um termo usado para se referir a mulheres assim:

- Kaiawase: algo tipo "combinar conchas", que era um passatempo antigo que data do período Heian

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- Kaiawase: algo tipo "combinar conchas", que era um passatempo antigo que data do período Heian. Consigo imaginar um vassalo chegando no outro e perguntando "então... nossa castelã... ela combina conchas?". Não sei se é histórico, mas a julgar pelo contexto, talvez seja.

- To-ichi ha-ichi: termo super específico: ao que parece, ト一ハ一 significa "uma ativa e uma passiva ("homossexualidade feminina")" porque "ト" vem de 上 ("acima") e ハ vem da escrita cursiva de 下 ("abaixo"). Não sei se é bem histórico.

Acho que é isso galera. Sinto muito pelo capítulo curto e sem muito desenvolvimento. Vou tentar encontrar mais informações sobre relacionamentos sáficos no Japão feudal com o passar do tempo...

Próximo capítulo: Pessoas transgênero

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