11. Religiões: xintoísmo, budismo e catolicismo

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Rápido: qual era a religião do Japão Feudal?

Se você respondeu "Xintô", errou. Mais ou menos. Durante o período feudal, Xintoísmo e Budismo dividiam espaço e a imaginação do povo. Também é importante colocar aqui o... Catolicismo! Isso mesmo!

Vou dar um resumão das coisas importantes rapidinho, mas antes é preciso lembrar de uma coisa:

Xintoísmo e Budismo só se separaram formalmente no século XIX, com a origem do Xintoísmo Estatal (já vou chegar aí). Antes, o que havia era algo chamado Shinbutsu-shuugou ("Sincretismo de kamis e budas"). Então, é difícil escrever algo que seja "puramente budista" ou "puramente xintoísta" em uma ficção de Japão feudal. É bom ter conhecimento de alguns conceitos-chave de ambas espiritualidades.

Dito isso:

XINTOÍSMO

O xintoísmo é a religião animista e "nativa" do Japão, apesar de sempre haver controvérsias em relação a isso. Adora os kami e a natureza. Não elabora muito em relação código de conduta ou pós-vida, apesar de termos alguma ideia do que acontece na história de Izanami e Izanagi – o Yomi é um lugar de trevas e silêncio; os mortos simplesmente "atravessam" e estão nesse lugar físico-espiritual, distantes de seus amados.

O xintoísmo dá tremenda importância à pureza. Sangue é considerado impuro, e tornar impuro um lugar sagrado é um erro terrível – por isso é necessário purificar-se antes, com água.

"Kami" não é exatamente "deus". Nem dá pra traduzir direito, mas vou tentar chamando-os de entidades. Uma pedra pode se tornar um kami, um animal pode se tornar um kami, uma cachoeira pode ter um kami, pessoas podem ser kamis (como Tenjin, que originalmente era Sugawara no Michizane, 845-903; ou Toyotomi Hideyoshi, 1537-1598, que recebeu o nome divino de Toyokuni Daimyoujin - algo como "grande kami brilhante da província de Toyo"), conceitos naturais podem ser kamis.

Após a Restauração Meiji houve a estatização do conceito de "Xintoísmo", dando origem ao Xintô Estatal, que servia aos interesses de propaganda do Império Japonês e foi a principal origem da adoração do imperador como um kami vivo – parece absurdo pensar, mas são pouquíssimos imperadores que têm templos dedicados a eles como kami segundo Sokyo Ono em "Shinto: The Kami Way": de 124, apenas 20.

O Xintoísmo não tem fundador nem textos sagrados como a Bíblia, apesar do Kojiki (712) e Nihon Shoki (720) serem usados como bases de alguns conceitos xintoístas.

Os kami têm "duas almas" – aramitama (a caótica) e a nigimitama (harmoniosa). Às vezes as duas não estão consagradas no mesmo templo ou local de adoração. É necessário manter a harmonia entre essas duas almas para evitar tragédias.

Não há meditação no xintoísmo. Há oferendas, danças, festivais e orações.


BUDISMO

O Budismo chegou ao Japão no século VI e VII pela Coreia e China. Logo ele se firmou, se misturou às crenças nativas e se desenvolveu. A ideia do budismo mahayana – "veículo maior", que acredita que todos têm "natureza de buda" –, como todos os budismos, é escapar do ciclo de samsara (reencarnação) que tem como combustível os desejos que levam a sofrimentos que impedem a pessoa de enxergar a verdadeira natureza do mundo: que todos os fenômenos são vazios de natureza própria ao mesmo tempo em que existem, como dito no Sutra da Lótus: "Forma é vazio, vazio é forma." Você é o resultado de inúmeras influências passadas e presentes, físicas e psicológicas, históricas e sociológicas; não existe "você" no vácuo, ausente de influências.

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