• Conexão •

428 35 9
                                    

(Este capítulo, pode conter gatilhos. Confie.)

—————

A chegada de todos na ilha, quase se transformou em um evento. Comentários pela manhã, traziam aos ouvidos dos moradores, sobre o avião pequeno que pousou, deixando os tripulantes por ali, sem uma direção correta a seguir. O que sabiam sobre os visitantes? Apenas que a família e os amigos de um rapaz, estavam o buscando. A mulher, o que descreveram como uma visão do próprio céu, de tanta gentileza, buscava pelo marido junto aos seus filhos, amigos e a família do mesmo. Informação está, que não se fez chegar com a mesma comoção, que se devia a todos.

- Soube Dona Ângela, que um rapaz se perdeu por aqui, naquele acidente de avião a meses atrás, e não acharam o corpo?

- Do que está falando, Camilo?

- É. Eu tava perto da praia mais cedo, perto daquela pousada, e chegou um pessoal. A esposa está procurando o marido, ela acha que ele está vivo. Foi o que ouvi.

- E como ela é? – Ângela sentiu, em seu íntimo, que a história não fazia sentido. Mas algo nela, dizia que seria justo investigar.

- É bem bonita. Está magra, bem magra. Mas é bonita. Loira, jovem, não deve ter mais de quarenta anos. Um sorriso gentil, sabe? Tem três filhos com ela, dois meninos e uma menina, nasceu a poucos meses. Ela só esperou o tempo da criança e veio pessoalmente a ilha, atrás do marido.

- E qual o nome do marido? Você soube?

- Dona Ângela, tá aí uma coincidência ou uma estranheza. Antonio. Não é o mesmo nome do rapaz que está na casa da senhora? Mas ele disse que não tinha família.

Ângela suspirou baixo, entendendo uma parte do que podia ter acontecido com o jovem. Alguns detalhes sobre Antonio, não batiam realmente. A idade que ele dizia ter, não condizia com seu rosto, e as dores no corpo, não podiam ser apenas do acidente.

- Onde você disse mesmo que eles estão?

- Naquela pousada, perto da praia. Alugaram oito quartos, para que todos pudessem estar confortáveis. A mulher disse que deseja entrar mata a dentro de for preciso, nem que seja sozinha. Tem muita força.

- Seguinte, Camilo. Me leva até lá. Agora!

- Claro dona Ângela. Sobe aí!

Ângela entrou na caminhonete, e a pulsação acelerada da mesma, a fez entender que algo ali, faria tudo ter sentido novamente. Ela sentia. Em poucos minutos de carro, estavam em frente à pousada. Ângela desceu da caminhonete, e não tardou em se dirigir a mulher na entrada, questionando sobre os hóspedes. Pediu que fosse anunciada é que chamassem a moça loira que estava responsável por todos. Sem demoras, ao olhar para dentro, viu a moça vindo e teve certeza, que era ela quem habitava os sonhos de Antonio.

Amanda, de forma hesitante, caminhava vendo a senhora um pouco mais alta que ela, com o rosto bonito com as marcas de sua idade, abrir um sorriso quente para ela. Por algum motivo, Amanda se sentiu abraçada pela figura, apenas com o riso. Ao se aproximar, a mulher estendeu os braços a Amanda, que retribui o gesto, podendo tocar os pulsos da mulher, que deslizou as mãos pelos braços de Amanda, tocando sua pele. Sem entender o motivo, apenas tendo sentido, Amanda a puxou para um abraço, que em segundos, o mundo pareceu estar estável e calmo de novo. Nenhuma das duas entendiam a sensação, o sentimento, a profundidade, mas sentiam, que algo as levava a estar ali, aqui e agora. Ao se afastarem, Ângela pode ver nos olhos de Amanda, a confusão e a esperança, que outrora sentiu nos olhos do rapaz em sua casa. Ângela sabia, que era certo. Olhou para os lados, vendo um conjunto de poltronas e fez sinal para a moça a sua frente, a seguir. Em passos lentos e firmes, as duas se dirigiram as poltronas, e se sentaram uma ao lado da outra, ainda de mãos unidas, como um trato silencioso de confiança mútua. Amanda ainda não sabia o que sentir, o que dizer, e se mantiveram por poucos segundos, sentindo apenas a conexão. Paz. Amanda não sentia paz, a meses.

- Olá querida. Meu nome é Ângela, e sua chegada nesta ilha, me trouxe algo que eu precisava entender. E talvez agora eu entenda, ou sinta. Você compreende?

- Olá Angela. Eu sou a Amanda. E sim, compreendo. Algo sempre me puxou a vir até aqui, e eu espero que você, sentindo o mesmo, possa me ajudar a entender o que sinto.

As duas soltaram as mãos, e respiraram fundo, quase como um espelho.

- Amanda, me conte um pouco sobre o motivo de estar aqui. Me contaram por cima, mas gostaria de ouvir mais sobre você e sua história.

Na seguinte meia hora, Amanda deu a Ângela, os detalhes dos últimos meses. A viagem de Antonio, o medo, a incerteza. A gravidez, o nascimento, ser mãe. As crises de pânico, os machucados que a mesma se fazia, ao acordar e notar como as unhas estavam com pequenas gostas de sangue e o corpo marcado. Amanda abriu o peito, a mente e a saudades para Ângela, que ouvia cada palavra como uma própria facada em seu peito. Sem conter a emoção, lágrimas pesadas corriam dos olhos da mais velha, sentindo a dor e o sentimento, com que Amanda falava sobre o que passou. Mas nada havia preparado Ângela, para quando Amanda falou dele.

- Por isso tudo, eu vim a esta ilha. Dizem que eu estou maluca, que a dor me impediu de aceitar a verdade, mas eu sei. Eu sinto. Ele está nessa ilha, e mesmo se... Eu não o encontre vivo, eu encontrarei algo dele aqui. O Antonio é a parte da minha alma, que mora fora do meu corpo. Talvez essa parte esteja gritando para voltar a mim, talvez eu esteja apenas sem o desejo de desistir. Mas eu sinto Ângela, que ele está me esperando, me buscando de alguma forma. Eu o amo, com todas as minhas forças, e escolhi viver por ele, por nosso amor.

Ângela novamente respirou fundo, voltando seu olhar para Amanda.

- Posso ver uma foto dele, querida?

Amanda puxou o celular do bolso da calça, e desbloqueou a tela. A primeira imagem, era do casal. Ângela sentiu o corpo estremecer, e a tontura tomou conta da mulher que se segurou em Amanda para não cair. Amanda a segurou, soltando o celular sobre o colo antes de esticar a outra mão para a mulher e em meio a sua confusão, pode notar Ângela voltando ao normal.

Ângela pode abrir assim os lábios, com um sorriso novo e calmo, para Amanda.

- Querida, eu sei o que sentimos. É conexão. Eu vou lhe pedir duas coisas, e espero que você me entenda e tenha calma, tudo bem? – Amanda assentiu com a cabeça, apenas concordando. – Perfeito. Amanda, ele está aqui. Vivo e bem.

BACK - AU DOCSHOESOnde histórias criam vida. Descubra agora