• Carta Oito •

292 33 11
                                    

Duas semanas mais tarde...

Hoje completam seis meses. Duas semanas da nossa menina. O aniversário dos gêmeos será em dois meses e eu descobri que você organizou uma surpresa. Marcos me contou, e Fred está ajudando com o Rodolffo. Todos estão se esforçando para manter a naturalidade, não tocar no assunto, não forçar a conversa, ou só não falam comigo. E eu? Eu estou com medo. Quando acordei do apagão que tive após o parto, eu torci para que eu estive a meses apagada. Que você já estivesse aqui e que tudo não houvesse passado do meu pesadelo mais real. Eu orei antes de abrir os olhos, que você estivesse lá, fosse segurar minha mão. Porém, a dor em meu peito, me fez entender que é real quando abri meus olhos e encarei a parede branca a minha frente. Você ainda não está aqui. Até quando?

Tentei de todas as formas não me deixar cair no abismo que existe dentro dessa casa a cada passo que dou, esbarrando em uma foto sua pelas paredes, pelas cômodas, por suas roupas e tentei de todas as formas entender o que está acontecendo Antonio, se é uma punição divina, se eu estou passando por algum tipo de pegadinha da vida ou apenas, perdi uma parte minha. Nos primeiros dias da Ella, eu sei que ela sentia, a minha angústia e repulsa. Demorou mais de três dias para ela aceitar meu peito, aceitar meu toque sem chorar. Aliás, ela se dá ainda melhor com sua mãe do que comigo. E finalmente ela me aceita, sem chorar. Dorme em meu peito, me ouvindo falar sobre você, mostrar suas fotos em meu celular e colocar seus áudios pra ela. Ela reconhece sua voz amor, ela reconhece o pai. Bem, mamãe teve de voltar ao Brasil, organizar algumas coisas com o Lucas. Ele queria vir, mas eu não quero mais ninguém nessa casa questionando como estou, se estou... Eu não quero mais ninguém aqui. Mas quer uma notícia boa? Eu parei de acordar gritando, sabe? Não por não sentir. Não por, esquecer de você. Mas eu estou tão cansada, que quando Ella me deixa dormir, eu desmaio. O que também me lembra você.

Quando os gêmeos nasceram, você estava aqui. Me ajudava constantemente, me dava apoio, estava comigo. Você se lembra, não é querido? Dizíamos que Yan seria uma cópia sua, e Ruan seria meu. E você acertou até este ponto. Aliás, me toquei de uma coisa. Quando você foi para aquela viagem, achávamos que era um menino, e seria nosso trio. Queríamos e oramos por uma menina, lembra? Bem, não era um novo menino amor. Nossa menina veio, e você ainda não sabe, mas tivemos a nossa Ella.

Antonio, nossa filha é perfeita! Nasceu um pouco abaixo do peso, mas ela é perfeita. Tem sua força, eu sinto sempre que seguro sua mão. Tem meus cabelos, meu olhar, e mermao, que olhos! Ela é nossa! Oramos tanto por ela, que ela veio. E você ainda não sabe.

BACK - AU DOCSHOESOnde histórias criam vida. Descubra agora