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• Sensação •

Antonio havia caminhado a horas pela praia. Conhecia aquela praia, com a palma das mãos. Mas naquela noite, tudo parecia estar perdido, distante, confuso. Como ele não poderia lembrar da família, dos amigos, da própria vida, e negligenciar tudo. Ele entendia que houve o acidente, mas não entendia a gravidade. Quanto tempo já havia passado? Meses? E não foram em sua busca antes, por ele ser um péssimo filho e irmão. Como consertar as coisas? Como voltar e reconstruir o amor da família por um homem que os deixou e... Ao longe, Antonio viu a morena, sentada na areia branca, com o olhar perdido, cansado e desviou. Eram problemas demais para resolver em uma noite.

Porém, ele não era assim. Parou, virou para a morena e viu o outro se aproximar a abraçando. Viu ela sorrir, enquanto mostrava a ele a mão, e a aliança dourada. Espera. Antonio olhou para a própria mão, parecia que algo faltava ali, e ele sentiu. Algo na sua mente, sentiu que faltava algo ali e pela primeira vez em meses, pensava no significado da tatuagem em sua mão. "VE". Ele sentiu, Antonio sentiu o aperto no peito, a sensação de desespero, como se estivesse prestes a se afogar. Teve de parar, respirar fundo, segurou a barra da camisa, com força a puxando para baixo. O corpo ficou cansado, tudo parecia calmo em sua mente, mas o corpo pediu por descanso. Antonio sentou na areia, perto de rochas lisas e da mesma forma em que perdeu horas caminhando, seu corpo adormeceu. Exausto da caminhada, das sensações. Adormeceu.

Com a claridade da manhã, Antonio foi acordado. O corpo dolorido, mas a mente ainda limpa. Foi em direção à rua, onde Camilo passava com a caminhonete, e reconheceu o rapaz. Deu carona para o mesmo, que logo estava na casa de Ângela. Pode tomar seu banho, e tirar a manhã para um descanso decente. Se vestiu da forma correta para o almoço que esperava com tanta ansiedade. Rever a família, a mãe, o irmão, seria o momento correto para ele.