Suspiro de luta

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***

Acordei com lágrimas secas no rosto. Olhei para ver Katie, seu rosto perfeito recostado no sofá, dormindo tranquilamente. Eu escovei meu dedo em sua testa, removendo uma mecha de seu cabelo em chamas. Ela me confortou, mesmo depois do estupro, quase sendo esfaqueada no pescoço, e drogada. Ela fumou comigo, bebeu comigo e festejou comigo; mas ela também chorou comigo. Não sei o que sinto, mas quando olho para ela, tudo que vejo é perfeição. Ela se moveu ligeiramente e abriu os olhos calorosos. Ela olhou para mim, e eu vi um lampejo de dor em seus olhos.

"Você está bem?" ela perguntou, sua mão ainda na minha.

"Estou bem, agora." Eu disse com um sorriso. Eu não estaria tão relaxada se ela não estivesse aqui.

Ela franziu a testa. "Eu-"

"Katie!" Uma voz familiar e zangada chamou. Ela revirou os olhos.

"Apenas vá, Kaitie." Eu sorri.

Eu não queria que ela fosse, mas sabia que ela tinha que ir. Ela se levantou lentamente e saiu da sala. Não muito tempo depois, ouvi passos pesados, mas suaves. Não era Bill.

"Angelina, é?" Eu me virei. Tom estava parado ali, com um sorriso no rosto. Eu balancei a cabeça para ele.

"Posso me sentar?" ele perguntou baixinho.

"Sim." Minha voz falhou. Ele se parecia tanto com Bill.

"O que aconteceu?" Ele disse, preocupado.

Não respondi, apenas cobri meu corpo nu com o lençol, certificando-me de que nada estava aparecendo. Acho que ele entendeu.

"Sinto muito, ele está doente." Ele sussurrou, pegando minha mão.

Suas mãos eram grossas, mas quentes e macias. Segurei sua mão e sorri quando ele esfregou o polegar ao longo do meu dedo.

"Ele é." Eu disse, lágrimas saindo dos meus olhos.

"Você está ferida-" ele olhou para o meu rosto machucado. "Em qualquer outro lugar?"

Ele virou minha mão, como se a estivesse inspecionando.

"Não, apenas uma marca no meu estômago." Eu disse, pressionando o hematoma que ele deixou abaixo das minhas costelas.

Ele apenas ficou sentado lá, respirando pesado. Ele parecia tão zangado, mas tão magoado ao mesmo tempo.

"Se houvesse algo que eu pudesse ter feito para impedir, eu teria feito. Mas... Bill está no comando. Essas são as regras." Ele balançou a cabeça e suspirou.

"Está tudo bem, Tom." Ele olhou para cima depois que eu disse o nome dele. "Eu entendo de onde você vem."

Absolutamente não foi culpa dele, e eu precisava que ele soubesse disso. Ele se levantou e eu me levantei com ele. Ainda segurando o lençol sobre mim.

"Você deveria se vestir, precisamos sair logo." Ele acrescentou, gentilmente.

Eu balancei a cabeça. Eu o segui para fora, incrivelmente dolorida.l A razão me deixou mal do estômago. Eu queria lavar minha pele com lâminas de barbear e ácido. Caminhei pelo corredor, quase vomitando ao entrar no quarto. O cheiro de heroína queimada ainda persiste, a cama... minhas roupas. Suspirei.

"Apenas lide com isso." Eu sussurrei para mim mesma.

Fui e fechei a porta, trancando-a para poder me trocar. Coloquei minha calcinha, calça e sutiã. Minha camisa não era mais utilizável, estava literalmente rasgada no chão. Havia uma pequena cômoda no canto, abri. Estava cheio de roupas femininas.

"Bem, sou só eu agora."

"Ele os mata, cada vez mais devagar."

As palavras de Katie começaram a voltar, lentamente ficando cada vez mais altas na minha cabeça, me fazendo bater a gaveta e fechar sem hesitar. Fiquei em silêncio, apenas uma lágrima no meu olho. Abri a próxima gaveta, uma camisa maior. Era branco e coberto de pichações. Com certeza era do Tom. Vesti-o e coloquei os sapatos e a jaqueta. Eu me virei e fui abrir a porta. Eu destranquei e caminhei para o corredor. Eu andei alguns metros até que eu fui jogada contra a parede, e eu não estava mais em fase.

"Você fodidamente disse ao Tom?" Bill cuspiu na minha cara. Não o olhei nos olhos, não podia. Eu nem respondi.

"Olhe para mim." Ele rosnou. Ele agarrou meu rosto, me obrigando a olhar para ele, minha respiração estava relaxada, minhas mãos contra a parede. Eu nem estava lutando. Eu olhei para ele, meus olhos vazios. A única coisa que eu conseguia pensar era o quanto eu queria atirar nele bem entre seus lindos olhos. Ele me deu um tapa no rosto. Ele me empurrou um pouco, depois me soltou e deu um passo para trás.

"Por que você não está me respondendo?" Ele disse, aproximando-se novamente.

"Você não tem nada a dizer? Nem mesmo depois que roubei sua virgindade?" Ele disse, com um sorriso no rosto.

Meu rosto permaneceu impassível, nem uma lágrima saindo dos meus olhos nem uma palavra saindo da minha boca. Apenas inexpressivo. Ele agarrou meus braços e me imobilizou. Ele pressionou seus lábios contra os meus, eu nem me afastei. Eu não ia lutar, ou ceder.

"Por que você não está lutando?" Ele disse, depois de se afastar.

*(Ponto de vista do Bill)*

Suas brigas costumavam me irritar, assim como seus pequenos comentários. Eu não percebi o quanto eu amava isso até que ela parou. Não há nada em seus olhos, nem mesmo raiva. Ela não me respondeu, de novo. Ela nem adiou o beijo. Ela estava apenas respirando, mas estava relaxada. Eu a quebrei? Fiz isso para calar a boca grande dela e, pelo amor de Deus, funcionou. Agora me arrependo de ter feito isso, quero que ela lute. Eu quero que ela grite comigo. Eu quero que ela me bata e me chame de nomes. Eu bati no rosto dela e empurrei sua cabeça contra a parede. Ainda sem reação.

"Está bem." Eu disse, recuando. "Gustav está vindo para te levar até o carro." Eu expliquei.

Tudo o que ela fez foi desviar o olhar e silenciosamente passar por mim.

Olhei para a parte de trás de sua cabeça. Senti uma pontada de culpa no estômago enquanto ela se afastava lentamente.

***

Satan Reincarnate [PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora