Esfera tensa

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Certa vez, eu chorei baixinho, contra meu travesseiro. Certas vezes, na verdade; eu chorei incontáveis noites sob minhas cobertas, acima da capa de travesseiro de constelações que me foi dada por Jimin. Em todas essas ocasiões particularmente deprimentes, a razão das minhas lágrimas foi a mesma.

O meu vênus.

Park Jimin.

Sempre que isso acontecia, eu tentava me convencer de que ficaria mais forte e que acordaria, no dia seguinte, um pouco mais preparado quando o momento do nosso reencontro chegasse. Eu poderia tratar Jimin com indiferença e fazê-lo acreditar que não me abalo mais com sua presença. Eu poderia, claro. Eu pude, eu fiz.

Mas isso não significa que meu coração esteja calmo ou sem dor. Não, está longe de ser isso.

Enquanto ele permanece bem ao meu lado e eu sinto o cheiro doce que tanto senti falta, meu peito segue em constante aperto e eu pisco mais vezes que posso contar em busca de não encher meus olhos com lágrimas ou chorar perto dele. O cheiro de Jimin é de baunilha, é doce e muitos acham até enjoativo, mas é uma fragrância que sempre me remeteu um lar, tranquilo e aconchegante. Ele sempre me deixou seguro e fez com que eu me sentisse confiante quando todo o mundo aumentava meus medos e aflições.

Eu odiei tudo que cheirasse baunilha por seis anos, e agora que eu sinto novamente... a vontade de chorar apenas aumenta.

Jimin não tentou dizer mais alguma palavra ao longo do nosso percurso, ou pelo menos até chegarmos na nossa cidade. Ele apenas se manteve ao meu lado, fungando algumas vezes, brincando com os próprios dedos e balançando as pernas. São sinais frutos de seu nervosismo, que eu sempre vi de perto e busquei meios de acalmar ou, ao menos, melhorar um pouco.

É engraçado como eu sempre pensei que ele fosse o meu mundo, e estava em uma dependência emocional tão forte, que eu fui devastado por sua ausência. E o mais foda disso, é que agora eu tenho medo de me apegar a ele outra vez, porque eu sou carente de sua pessoa e não quero vê-lo ir embora de novo ou dividi-lo com outras pessoas novamente. Porque isso também doía.

Eu nunca insinuei isso, mas eu gostava quando ele deixava meu irmão jogar videogame sozinho, subia para o meu quarto e dividia seus fones de ouvido comigo enquanto olhávamos no teto as estrelas da minha luminária e dávamos nomes para todas as constelações que nossa mente podia criar.

A luminária ainda existe, ela fica no cômodo que foi criado para ser o meu closet, e que eu tornei meu espacinho literário. É ali que estudo, leio meus livros, escrevo textos aleatórios sobre meus sentimentos perturbados, ouço música e, o que mais gosto, olho para as estrelas. E eu sempre choro ao fazer isso, porque eu sempre me lembro dele, e que foi ele quem me deu aquele presente despretensioso que se tornou o meu favorito de todos.

— Sei que não quer ouvir minha voz... — Ele começa a dizer, bem baixinho, e eu sei que seu tom quebrado é efeito do choro que tentara esconder de mim segundos atrás. — Mas eu não quebrei minha promessa propositalmente. Eu não... eu não queria ter ido embora daquele jeito.

— Mas ainda foi. — Retruco, parando o carro aos poucos em um semáforo fechado.

— Um dia eu terei coragem de contar a você o motivo, mesmo que eu tenha prometido não dizer. — Ele murmura.

— Você é bom em quebrar promessas.

— Jungkookie, não diga isso, por favor. — Ele me encara e eu apenas agradeço que posso voltar a dirigir, porque ver seus olhos chorosos é a pior dor do mundo. Eu a vi seis anos atrás, e vi meu próprio reflexo destruído no meio das suas lágrimas. — Eu não queria. Eu nunca quis magoar você.

Júpiter & Vênus | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora