Capítulo 19

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Mesmo chorando e se desculpando, em nenhum momento a mãe dos gêmeos conseguiu abraçar Lan Zhan ou sequer tocá-lo, ela achava que a deficiência de seu filho era pior do que estar morto e sentia-se culpada por ele ter ficado daquele jeito, claro que isso não foi dito ao mais novo, mas ela confessara ao mais velho enquanto este a acalmava do lado de fora do quarto e, como qualquer pessoa sensata, ele explicou sobre a real situação do irmão e que ele estava bem adaptado e levando uma vida normal, o que a mulher não acreditou muito.

A matriarca puxou uma oração em família para o esposo, os irmãos se despediram do pai, deram um breve cumprimento ao tio e foram embora daquele lugar.

-Tem certeza que está apto a dirigir? - perguntou o mais novo - Podemos dormir em algum hotel, você já dirigiu por três horas.

-Não, está tudo bem, quero sair dessa cidade o mais rápido possível. - eles entraram no carro e pegaram a estrada, em silêncio.

-Você pretende vir ao velório? - perguntou o mais novo após enviar uma mensagem ao namorado dizendo que já estava voltando e queria vê-lo.

-Sinceramente, depois do que vi hoje… Não faço ideia. Eles realmente não nasceram para ser pais. - ele parecia chateado e Lan Zhan não sabia exatamente o motivo.

-Você está com raiva?

-Eu estou confuso, nem sei se raiva é o que estou sentindo. Eu tenho pena deles e vontade de gritar com os dois. Você não se sente assim?

-Eu também não sei o que sentir… - naquele momento Wei Ying respondeu que iria para a casa dele após o trabalho e levaria sua comida preferida, um pequeno sorriso apareceu no rosto do Lan mais novo.

-É o Wei mandando mensagem? - perguntou com a expressão se suavizando também.

-Sim.

-Ele te faz bem, irmão. Você sempre fica radiante quando está com ele ou falando sobre ele.

-Eu o amo muito. - confessou sem jeito.

-Sei que sim. E acho que ele sente o mesmo por você. Sabe, não importa o que as pessoas digam ou pensem sobre você, você merece ser muito feliz, está me ouvindo?

-Por que isso de repente? - Lan Zhan entendia que tinha a ver com a clara rejeição da mãe deles a ele, mas não esperava que seu irmão tocasse no assunto.

-Aquela mulher já está ficando senil. Não escute o que ela diz e não se importe com o que ela acha. Nunca precisamos deles para nada e sempre cuidamos bem um do outro. Vai continuar assim.

-Sim. Nascemos juntos, afinal. - disse usando as palavras que o irmão tanto gostava de usar.

-Exatamente! - seu humor deu uma melhorada considerável - Vamos colocar uma música para animar essa viagem. - ele ligou o rádio e deixou que Lan Zhan sintonizasse no canal que preferisse e ele escolheu um que aparentemente estava transmitindo uma apresentação ao vivo de orquestra e seguiram a viagem assim.

Lan Huan estava exausto quando deixou o irmão em casa, até pensou em convidá-lo para jantar, mas só queria chegar em casa e pedir uma boa massagem ao esposo, o dia havia sido muito cheio.

Quando Lan Zhan entrou em casa, ele trocou os sapatos por chinelos e higienizou as rodas da cadeira, foi nesse momento que observou os sapatos de Wei Ying, logo antes de ele aparecer, como de costume, de regata e shorts curtos, mostrando quase completamente suas próteses.

-Lan Zhan! Você chegou. - ele foi até o namorado e o abraçou. O cabelo antes curto, agora já roçava nos ombros, então era comum encontrá-lo com um rabo de cavalo de onde vários fios menores escapavam, como era o caso - Fez uma boa viagem de volta?

-Sim. Foi tranquilo na estrada. - respondeu abraçando-o de volta, quando se afastaram, ele olhou para o outro, sereno.

-Que ótimo! Eu senti saudades, pensei que vocês fossem dormir lá.

-Meu irmão não estava muito à vontade por lá…

-Oh, entendo. Eu trouxe hot pot, acho que já não está mais tão hot. - ele riu - mas podemos esquentar. Se quiser conversar, vou te ouvir.

-Vou só tomar um banho antes.

-Ah, claro! Vou esquentar a comida enquanto isso.

Eles fizeram como falaram e em meia hora ambos estavam sentados à mesa, comendo num silêncio nada habitual para eles, Wei Ying estava começando a ficar preocupado ao ver seu namorado cabisbaixo remexendo a comida no prato.

-Lan Zhan…? - sem resposta, ele estava perdido em seu próprio mundo - Lan Zhan!

-Ah, oi. Desculpe.

-Você não parece bem.

-Só estava pensando sobre o que aconteceu… Eu já contei que meu pai e meu tio também são gêmeos?

-Mesmo?! Eu não sabia. Eles são iguais também?

-Costumavam ser… Mas meu pai está irreconhecível.

-Oh… Sinto muito. Deve ter sido chocante para vocês né…?

-Foi um pouco. Mas aparentemente também foi para eles… Minha mãe não aceita minha condição e acha que a culpa foi dela…

-Parece coisa de quem se sente culpado por outras coisas. Não deixe isso afetar você, eles fizeram as escolhas deles.

-Eu sei.

-Então não fique remoendo isso. Não faz bem. O que aconteceu com você foi horrível sim, mas não teve um culpado, coisas assim apenas acontecem.

-Você acha que, em algum cenário, poderia ter sido diferente? - perguntou finalmente o encarando, um pouco de inocência e esperança no olhar.

-Acho pouco provável. - eles estavam sentados lado a lado, então Wei Ying aproveitou a proximidade e o abraçou - Não fique mal com isso. Não foi sua culpa e nem deles, ok? - ele deu um beijo estalado na bochecha alheia, o outro o olhou, conformado, e deu um rápido beijo em seus lábios.

-Vai dormir aqui hoje?

-Não posso… A-Yuan está lá em casa, mas você pode ir dormir lá se quiser.

-É melhor você dar atenção a ele, dormimos juntos outro dia.

-Ei, ele ama você, sabia? Um dia desses a gente estava conversando sobre a madrasta dele e ele disse que ficaria muito feliz se você entrasse para a família também. Oficialmente, sabe, como padrasto dele. - disse sorridente, o Lan deu um pequeno sorriso também - Ah, mas isso não quer dizer que estou querendo apressar as coisas nem nada do tipo, ok? Foi só para dizer que ele realmente gosta de você, então pode dormir lá em casa quando quiser!

Lan Zhan se divertiu com a confusão do Wei e o calou com um intenso beijo.

-Vamos buscá-lo para ele dormir aqui. - disse por fim.

-Oh, é uma excelente ideia também. - ele riu e se beijaram mais uma vez. A sensação que ambos tinham era de que, enquanto tivessem um ao outro, nada nem ninguém poderia passar por cima deles.


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